As doenças respiratórias e lesões pulmonares induzidas pelo vapor

Além disso, o cigarro eletrônico também prejudica outras áreas do organismo

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Gustavo Szortyka: “atrapalha o ganho de massa muscular” (Fotos – Divulgação-HCPF)Gustavo Szortyka: “atrapalha o ganho de massa muscular” (Fotos – Divulgação-HCPF)
Gustavo Szortyka: “atrapalha o ganho de massa muscular” (Fotos – Divulgação-HCPF)
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Cerca de 22 mil mortes por ano no Brasil são relacionadas ao tabagismo, que é considerado um problema de saúde pública e uma das principais causas evitáveis de morte, já que é passível de prevenção. O Hospital de Clínicas (HC) de Passo Fundo promoveu no Dia Nacional de Combate ao Fumo uma live com a participação dos médicos pneumologistas Dr. Gustavo Picolotto e Dr. Gustavo Szortyka, que esclareceram as principais dúvidas sobre o uso do cigarro eletrônico. O cigarro eletrônico surgiu como uma alternativa ao cigarro tradicional, porém, ao longo do tempo, observou-se que ele não é eficaz como opção para quem deseja parar de fumar.


Proibição

“Sessenta a setenta por cento dos tabagistas desejam parar de fumar, porém, sem ajuda, apenas 4% conseguem parar. Isso quer dizer que a ajuda profissional é muito importante neste processo”, pontuou Gustavo Picolotto. Em 2009 comercialização, importação e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar foram proibidas pela Anvisa. “As sociedades brasileiras e mundiais não recomendam e são veementemente contra a estratégia do uso do cigarro eletrônico para a cessação do tabagismo. A origem desse posicionamento parte de algumas meta-análises que tem indicado resultados discordantes, alguns com algum benefício limítrofe e alguns sem benefícios nenhum. Não temos nenhuma evidência hoje em dia de que o cigarro eletrônico seja indicado para o paciente que deseja parar de fumar”, complementou Gustavo Szortyka.  

 

Danos equivalentes

Um destes dispositivos pode equivaler à carga de nicotina de uma carteira de cigarro convencional. O vapor gerado afeta também as pessoas em contato com o mesmo ambiente que o fumante. “A fumaça exalada causa o mesmo dano do tabagismo passivo, tem a mesma equivalência entre o cigarro convencional e eletrônico alerta Picolotto.  


Os riscos associados ao uso  

O processo de combustão do cigarro eletrônico gera inúmeras substâncias tóxicas e em seu vapor podem ser encontrados metais pesados como o níquel, conforme esclarece Gustavo Szortyka. “Estes dispositivos são compostos por uma bateria que acaba aquecendo um filamento de mental, este filamento aquece o líquido e essa substância faz o aerossol que a pessoa inala. O filamento de metal acaba contaminando o aerossol com metais pesados. Assim como aconteceu com o cigarro convencional, o número de substâncias cancerígenas foi detectado progressivamente.” A temperatura que o dispositivo pode atingir também é motivo de preocupação entre os especialistas. “Além dos componentes a gente tem que chamar atenção para o calor gerado, quando ele vai vaporizar, chega de 40ºC a 65ºC, mas tem alguns relatos de que pode chegar até 350ºC, uma temperatura extremamente alta para a via aérea podendo gerar um edema ou uma lesão”, avalia Gustavo Picolotto.  


Efeitos no corpo

Os riscos do uso do cigarro convencional e eletrônico e seus efeitos no corpo vão além das doenças respiratórias e lesões pulmonares induzidas pelo vapor. De acordo com Szortyka, “a vasoconstrição da nicotina que acontece com o cigarro convencional e também vai acontecer no cigarro eletrônico prejudica o tônus muscular e atrapalha o ganho de massa muscular.” As pessoas que fazem uso do cigarro eletrônico estão sujeitas ao desenvolvimento de uma lesão pulmonar conhecida como Evali e descrita pela primeira vez em 2019 nos EUA. “Evali é uma síndrome respiratória aguda grave, muito parecida com a covid, com risco de óbito, com o mesmo risco de intubação da covid e quem usa cigarro eletrônico vai correr esse risco a curto prazo”, destaca o pneumologista.  


Dependência do cigarro eletrônico  

Como são encontradas doses maiores de nicotina nos cigarros eletrônicos, o seu uso também é relacionado com um nível maior de dependência. “A dependência é muito semelhante ao cigarro tradicional, mas já foi visto que pode gerar uma dependência ainda maior. Isso vai se caracterizar por uma falta de concentração e a necessidade de acordar durante a madrugada para fumar, ou logo ao acordar pela manhã já fazer uso do cigarro eletrônico. A dependência se mostra muito frequente pelo uso dele”, conforme explica Gustavo Picolotto.

Gustavo Picolotto: “pode gerar uma dependência ainda maior” (Fotos – Divulgação-HCPF)


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