Baixa produção de mamografias preocupa especialistas

O exame de mamografia é um grande aliado no combate ao câncer de mama

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Corte no orçamento federal prejudica a prevenção do câncer de mama. (Foto: Anastasia Kazakova/Freepik)Corte no orçamento federal prejudica a prevenção do câncer de mama. (Foto: Anastasia Kazakova/Freepik)
Corte no orçamento federal prejudica a prevenção do câncer de mama. (Foto: Anastasia Kazakova/Freepik)
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Mesmo que ainda marcada pelas consequências da pandemia, a realização de exames de mamografias no SUS voltou a avançar em 2021, conforme dados do Sistema de Informação do Câncer. Em 2020, ano em que foi declarada a pandemia de Covid-19, cerca de 1,8 milhão de mamografias foram realizadas, uma queda de quase 40% comparado ao ano de 2019, quando ultrapassou os 3 milhões de mamografias no Brasil. O ano de 2021 não alcançou os patamares anteriores à pandemia, mas já mostrou sinais de avanço com 2,6 milhões de exames. No entanto, o cenário ainda está longe do ideal. No Rio Grande do Sul, foram 211 mil exames em 2019, cerca de 145 mil em 2020 e 192 mil exames no ano passado. Em Passo Fundo, foram realizadas 4 mil mamografias em 2019, em 2020 caiu para 3,6 mil e em 2021 foram 4,5 mil mamografias.


Mortes evitáveis

Mesmo com esta recuperação parcial, o oncologista do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, analisa o cenário com muita preocupação. “Este cenário é catastrófico e justifica as altas taxas de doença avançada ao diagnóstico no sistema público. O RS tem mais de 1 milhão de mulheres na faixa etária (50-69 anos) com recomendação de mamografias anuais pelo Ministério da Saúde. Se ampliarmos para a faixa etária de 40-49 anos, recomendada pela Sociedade Brasileira de Mastologia e SBOC, teremos um adicional de quase 900 mil mulheres”, observa o oncologista. “Em Passo Fundo, a situação se repete. São mais de 18 mil mulheres entre 50-69 anos e mais de 12 mil entre 40-49 anos. Dados de 2019, dizem que 71% da população brasileira depende exclusivamente do SUS. Isso significa que fazemos 21% das mamografias anuais necessárias em Passo Fundo e míseros 14% no RS. O que esperar num futuro próximo? Muitas mortes evitáveis pelo câncer de mama, infelizmente”, analisa Machado.


Incidência do câncer de mama

O câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente (após o câncer de pele não melanoma) e o que mais mata as mulheres no Brasil. O Instituto do Câncer estima cerca de 66 mil novos casos em 2022 e 18 mil mortes. O acesso à saúde, à informação e à educação estão entre as principais dificuldades para o combate ao câncer de mama, conforme Machado. Além disso, o acesso igualitário aos tratamentos oncológicos são fundamentais para combater esse e todos os demais cânceres. “Na questão saúde, o acesso aos cuidados médicos, exames e tratamentos especializados estão entre os principais fatores. A sanção presidencial ao projeto de lei (PL 2.033/2022) tornando o ROL de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar como referência, mas não taxativo, na qual os planos de saúde poderão ser obrigados a financiar tratamentos de saúde que não estiverem na lista da ANS, é passo fundamental, assim como ampliar o acesso a tratamentos modernos no sistema público. No entanto, o corte do Governo Federal no orçamento destinado à prevenção e controle do câncer é muito preocupante, a ponto da SBOC se manifestar publicamente. No congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, agora em setembro, discutiu-se justamente o acesso universal e equânime aos tratamentos oncológicos”, comentou o oncologista.


Avanços importantes

As chances de cura para o câncer de mama aumentaram significativamente nos últimos anos. “Hoje conseguimos classificar melhor o câncer de mama e seus riscos, selecionando tratamentos mais adequados a cada paciente, incluindo cirurgias, radioterapia e medicamentos que podem ser hormônios, quimioterapia, terapia alvo, imunoterapia, anticorpos, entre outros. Novas drogas orais têm melhorado significativamente nossas taxas de sucesso. No entanto, hoje temos como principal problema o acesso a estas novas tecnologias”, salienta o oncologista.


Quando fazer a mamografia?

A mamografia ainda é a principal forma de prevenção e diagnóstico precoce. “É uma das principais armas para salvar vidas contra o câncer de mama. Estudos epidemiológicos estimam em uma redução de 20% nas mortes”, observa o também oncologista do CTCAN, Dr. Alex Seidel. Além da mamografia, o diagnóstico precoce e adequado também é aliado. “Diagnóstico em tempo adequado e acesso a tratamentos modernos são curativos. A mamografia deve ser feita anualmente dos 40 aos 70 anos de idade, conforme orientação da SBM. A partir dos 70 anos, o exame deve ser considerado individualmente”, explica o oncologista.


Campanha enfatiza a prevenção

O Outubro Rosa é uma campanha mundial, que surgiu, em Nova Iorque, no início da década de 1990, voltada para o combate ao câncer de mama. Seidel salientou que a campanha é positiva, mas que a prevenção deve ser incentivada e de forma contínua. “As pessoas que dependem exclusivamente do SUS são as mais desassistidas e desinformadas. Penso que as campanhas devem ser de busca ativa e informação para este público. Muitos são os obstáculos ainda”, completa Seidel.

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