Mudanças climáticas impõem um novo olhar sobre o meio ambiente e o desenvolvimento

Cenário de estiagem no Rio Grande do Sul e enchentes no nordeste reforça a necessidade de mais cuidado e atenção à natureza

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A falta de chuva, desde o final do ano passado, já tem resultado em perdas significativas para a agricultura no RS (Fotos: Carla Vailatti/Divulgação/UPF)A falta de chuva, desde o final do ano passado, já tem resultado em perdas significativas para a agricultura no RS (Fotos: Carla Vailatti/Divulgação/UPF)
A falta de chuva, desde o final do ano passado, já tem resultado em perdas significativas para a agricultura no RS (Fotos: Carla Vailatti/Divulgação/UPF)
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As mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa já podem ser percebidas no planeta e na vida das pessoas. Derretimento das geleiras e aumento do nível do mar são apenas algumas das consequências desencadeadas pelo aumento da temperatura global, o que culmina na extinção de algumas espécies e no desequilíbrio da natureza como um todo, tornando perceptível o aumento de eventos extremos, como enchentes e secas, vivenciados em diferentes partes do Brasil, atualmente.

Exemplo disso é a realidade do Rio Grande do Sul neste início de 2022. A falta de chuva, desde o final do ano passado, já tem resultado em perdas significativas para a agricultura, tanto nas lavouras de milho, quanto de soja. Conforme o professor do curso de Agronomia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dr. Mateus Bortoluzzi, o milho apresentou um bom crescimento e desenvolvimento inicial, já que a maioria das lavouras foram semeadas entre o final de agosto e início de setembro. Porém, a partir do mês de novembro houve redução da precipitação pluviométrica, sendo acumulado apenas 44 mm em Passo Fundo, quando o normal é de 141 mm. “Já em dezembro, o acumulado até o dia 21 foi de 24,6 mm, considerando que a média climatológica é de 161 mm”, afirma o docente, destacando que a distribuição espacial dessas chuvas foi bastante desuniforme de um local para outro.

Até o momento, a safra gaúcha de milho sequeiro alcançou uma perda de 59,2%, enquanto no milho irrigado é de 13,5%, segundo dados da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS). O professor relata que o fato da redução na disponibilidade hídrica ter coincidido com a fase mais em que há maior demanda de água - de pendoamento e espigamento -, contribuiu para comprometer ainda mais a produtividade de grãos nas lavouras. “Além disso, a temperatura do ar elevada, baixa umidade relativa do ar e velocidade do vento acentuada aumentam a demanda atmosférica por água, potencializando o cenário de perdas”, explica. “Agora, algumas áreas estão sendo destinadas ao corte para confecção de silagem para alimentação de animais. Outras estão sendo simplesmente roladas, com posterior semeadura da soja. E as áreas remanescentes que serão destinadas à colheita de grãos terão perdas significativas”, afirma Bortoluzzi.

Com relação à cultura da soja, houve dificuldade no estabelecimento das lavouras, com diminuição da germinação de sementes, lavouras desuniformes e algumas áreas com necessidade de ressemeadura. “Existe uma parcela significativa, dependendo da região, com áreas a serem semeadas, pois ainda não tivemos condições adequadas de umidade do solo para tal prática”, ressalta o professor, pontuando que a chuva que veio nesta primeira semana de janeiro deu uma certa amenizada na situação. “Aqui na UPF foi registrado o acúmulo de 29mm nesta primeira semana do ano. Veio bastante tarde, mas já ajuda, principalmente, para a soja. Novamente, houve chuva bem irregular em diversos pontos”, avalia. As perdas na cultura da soja estão associadas ao atraso da semeadura, estabelecimento de plantas desuniformes e reduzido crescimento em função do déficit hídrico. “Porém, ainda há espaço para boa recuperação caso as chuvas retornem com boa quantidade e distribuição”.

O docente do curso de Agronomia afirma que o cenário é bastante complexo. “Pensando na próxima safra de trigo, por exemplo, o custo estimado está próximo dos 45 sacos de trigo por hectare (considerando o preço do saco a R$ 80,00). Essa quantidade é muito semelhante à média de produtividade do RS. Portanto, o risco é muito grande e provavelmente haverá uma redução da área na próxima safra”, salienta.


Como explicar esses fenômenos extremos?

De acordo com a coordenadora docente do Centro Acadêmico de Sustentabilidade da Universidade de Passo Fundo (Green Office UPF), professora Dra. Luciana Londero Brandli, uma das considerações que, geralmente, são feitas é de que os países que mais geram mudanças climáticas são os melhores desenvolvidos, devido suas atividades econômicas gerarem uma maior emissão de dióxido de carbono (CO2). Entretanto, os mais afetados são os países menos desenvolvidos, os países tropicais e os países em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo.

Essa leitura leva em consideração a região em que se encontram os países e a disponibilidade de infraestrutura de adaptação a essas mudanças climáticas. “Com relação ao Brasil, temos visto esses eventos extremos acentuando uma tendência que já existia, mas que a gente vê muito mais hoje. Essa seca aqui no sul do país e as inundações e tempestades no sudeste, nordeste, principalmente, em grandes cidades, acabam provocando alagamentos das cidades e nas casas das pessoas. Com isso, já é possível perceber que estamos sentindo na pele esses extremos que são causados pelas mudanças climáticas”, pontua a professora.

Segundo ela, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) que é formado por diversos cientistas do mundo inteiro, vem monitorando e fazendo previsões e projeções sobre as mudanças climáticas. “O Acordo de Paris prevê o aquecimento de 2ºC até o fim do século e solicita esforços dos países para conseguir limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC. Mas só conseguiremos chegar nesse patamar se forem feitas mudanças radicais com relação à emissão de CO2 e nas tecnologias utilizadas em vários setores. Caso contrário, as consequências serão muito mais catastróficas do que vemos hoje”, analisa.


Um caminho difícil, mas necessário

A professora Luciana acredita que salvar o meio ambiente não será uma tarefa fácil, mas é o único caminho a ser percorrido. “A gente vê como as coisas são polêmicas, como as pessoas não entram em acordos, as opiniões são dispersas e ainda há ceticismos em relação a mudanças climáticas, mas acho que hoje há uma preocupação maior com questões de sustentabilidade, começa a ser trabalhado na escola, com crianças que são a geração do futuro, então tenho fé de que as coisas melhorem, mas sei que é muito difícil”, destaca.

Para ela, as ações tomadas pelo governo são essenciais. “Como o governo trata, como ele faz suas legislações em prol dessas ações é o que direciona o comportamento dessas pessoas. Temos ótimos exemplos de países bem interessados, bem desenvolvidos e unidos, como a própria União Europeia, onde a países como Alemanha, Finlândia, Dinamarca, estão trabalhando em prol de reduzir o consumo de energia, de reduzir emissão de CO2. Então todas essas questões eu vejo que serão difíceis, mas é nosso único caminho”, observa a professora.

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