Das intempéries de maio às condições amenas de junho, estamos entre a despedida do El Niño e a chegada do La Niña. O Rio Grande do Sul viveu um maio trágico em consequência dos excessos de chuvas. Em Passo Fundo os índices pluviométricos ficaram acima das médias históricas e bateram um recorde. O ano de 2024 deixou números elevados nos arquivos meteorológicos e na memória tristes recordações de uma tragédia. Do final de abril até a última semana de maio, foram 30 dias em que as chuvas quase não deram tréguas. E, agora, iniciamos o mês de junho com sol, tempo seco e temperaturas amenas. Ingressamos num período de transição, com o primeiro dia de junho ao brilho do sol e termômetros que vão de 09ºC a 20ºC. É nessa atmosfera que La Ninã começa a dar as cartas, fecha as torneiras das nuvens e prenuncia um inverno mais frio.
Recorde em Passo Fundo
Passo Fundo ficou fora da zona de maior incidência das chuvaradas. Mas estava em faixa intermediária e durante o mês foram muitos dias de chuva. A precipitação acumulada durante o mês bateu o recorde para maio. De acordo com o analista do Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa, Aldemir Pasinato, “em maio foram 395,1mm do acumulado das chuvas, isso medido pela Estação do INMET, Instituto Nacional de Meteorologia, instalada aqui na Embrapa. A média histórica de chuvas do mês é de 153,5mm, então tivemos 241,6mm além da média. Isso significa 157% acima da média”. De acordo com os registros existentes, os valores apurados em 2024 encontram semelhança apenas em 1924 com 395mm. Outras marcar elevadas ocorreram em 1928 (389mm), 1992 (387mm), 2022 (374mm) e 2017 (372mm). Porém, 2024 superou os registros com 395,1mm.
Conjunto de fenômenos
No eixo de uma frente estacionária sobre a metade do Rio Grande do Sul, a chuva teve volumes bem maiores. “Bem acima da média temos as regiões dos Vale do Taquari e Jacuí e a Grande Porto Alegre. Em Porto Alegre foram 550mm, Bento Gonçalves 760mm e Caxias do Sul 740mm. Tivemos bastante chuva de forma geral”, avalia Pasinato. “Isso tudo ocorreu mesmo com El Niño encerrando seu ciclo. Potencializou essas frentes frias vidas do Uruguai e da Argentina, juntamente com sistemas de baixa pressão. As frentes frias encontraram uma atmosfera mais aquecida, que são os sistemas de chuvas que atuam durante o outono. Também encontrou pela frente um corredor de umidade que vem da região amazônica e, principalmente, pelo aquecimento do Oceano Atlântico”.
Chuva em pouco tempo
“Muita chuva em pouco espaço de tempo”, assim o analista da Embrapa sintetiza o que provou as enchentes. Aldemir enfatiza que “um dos principais motivos de todo o excesso de chuva é a massa de ar seco e quente que estava na região central do Brasil e que atuou por mais de 20 dias. As frentes frias, normais nessa época, entravam no estado e eram bloqueadas pela massa de ar seco e ficavam estacionadas sobre a região central do Rio Grande do Sul. Com essas frentes bloqueadas sobre uma mesma área, foram grandes acumulados de chuvas em um curto espaço de tempo. Em alguns locais, no final de abril e início de maio, teve Soledade que foram 250mm em 24 horas e em outros pontos de 200 a 300mm em curto espaço de chuvas. Foi muita quantidade que, então, provocou todas essas inundações numa grande área, toda a Bacia do Jacuí, do Taquari, do Rio dos Sinos e tudo isso vai desaguar no Guaíba”, descreveu Pasinato.
Oscilação de temperaturas
Na transição de influências entre El Niño e a La Niña, o mês de junho será um período de neutralidades e temperaturas amenas. “Neste sábado, deve oscilar entre a mínima de 09ºC e a máxima de 20ºC com predomínio de sol. No domingo fica entre 12 e 22ºC, com aumento gradativo de temperatura. No domingo e segunda-feira teremos sol entre nuvens e o aumento da nebulosidade sobre a região. A primeira semana se junho terá temperaturas mais agradáveis. Nos primeiros dias as temperaturas entre 12 e 24ªC, sol e sem previsão de chuvas fortes. Teremos bastante alternâncias de temperaturas durante o mês, um pouco mais elevadas no início, mas, depois, provavelmente chegam as frentes frias”, disse em relação às fortes oscilações da temperatura em junho.
La Niña
Ainda para o mês de junho, as previsões são de ocorrência de poucas chuvas, classificadas como abaixo ou dentro dos parâmetros normais. Da fase de transição entre fenômenos para um novo cenário, começa o inverno. Também se intensificam as influências do La Niña, que estará iniciando em junho e agosto. O inverno mais rigoroso será o forte desse período. “Isso indica um inverno mais frio, principalmente do que 2023”. E La Niña segue na primavera. “A estação será mais seca e mais fria. Então, há possibilidades de geadas tardias e chuvas irregulares na primavera”, concluiu o analista da Embrapa.