Já era início da noite na parte oriental do planeta, e início da manhã de segunda-feira (3), quando o passo-fundense, Rodolfo Nery Batalha, respondeu ao primeiro contato da reportagem do jornal O Nacional depois da nota conjunta emitida pelo Itamaraty, ainda no domingo (2), com a decisão de repatriar os brasileiros residentes em Wuhan, epicentro do coronavírus, na China.
Há seis meses, o professor de Língua Inglesa despediu-se dos pais e do irmão, em Passo Fundo, e entrou na fila do embarque internacional rumo à antiga capital chinesa, Xian, na província de Shaanxi. Desde que chegou à nação mais populosa da Ásia, em setembro, a rotina dos moradores locais e dos estrangeiros sofreu uma ruptura pelo estado de alerta emitido após o primeiro caso infeccioso transmitido pelo novo subtipo de coronavírus ser confirmado pelas autoridades de saúde, em dezembro do ano passado. Ruas com pouca circulação, comércios fechados ou com horários restritos de abertura e falta de produtos básicos de proteção individual, como máscaras e álcool gel, integram a nova política emergencial de convivência para evitar a contaminação do vírus, que já infectou 17.200 pessoas, conforme divulgou a Comissão Nacional de Saúde da China. “Pelo menos aqui, não encontro mais máscaras. Graças a Deus eu tenho uma boa quantidade em casa, mas não consigo encontrar mais para comprar”, relata.
Embora esteja vivendo no norte do país, distante cerca de 780 quilômetros do local apontado como possível foco de surgimento do vírus – um mercado especializado em frutos do mar e de comércio ilegal de animais exóticos, em Hubei – a cidade de Xian já registrou 55 casos de coronavírus sem óbitos, segundo o órgão de saúde local, e, assim como as demais localidades do país asiático, adotou medidas preventivas de segurança biológica. “O povo aqui está unido, e não me refiro apenas aos chineses. Nós, estrangeiros, também estamos. Torcemos para que isso passe logo e que não seja um grande desastre para o país e mundialmente”, disse Batalha.
A um oceano de distância
“Eu resolvi vir pra cá [China] para me desafiar. Resolvi tomar isso como uma experiência de vida e conhecer mais essa cultura”, contou ele. “Alguns me chamaram de louco”, recordou, aos risos. Sem saber falar o mandarim, idioma oficial do país, Rodolfo utiliza o inglês e os aplicativos de tradução para conseguir se comunicar com os chineses. Aos 33 anos e a um oceano de distância da casa dos pais, ele tenta tranquilizar a família sobre tudo o que é reportado pelos meios de comunicação sobre o vírus. “O pessoal fica preocupado. Minha mãe está bem preocupada. Tiveram alguns dias em que ela não conseguiu dormir”, mencionou. “Eu estou bem, evitando sair de casa. A taxa aumenta, sim, mas a mortalidade é em torno de 2%”, completou.
Apelo ao governo federal
O número de óbitos confirmados em decorrência da epidemia de coronavírus, na China, se elevou para 361, de acordo com o anúncio feito pelas autoridades de saúde chinesa, na segunda-feira (3). Os novos números superaram aos registrados durante o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que provocou a morte de 349 pessoas, entre os anos de 2002-2003 no lado continental do país.
No domingo (2), o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa anunciaram, por meio de nota conjunta, que o governo brasileiro deve repatriar os cidadãos que se encontram na zona de Wuhan e que desejam retornar ao Brasil. Assim que chegarem ao Brasil, em voo fretado por meio da Força Aérea Brasileira (FAB), eles serão submetidos à quarentena, de acordo com as normas internacionais, monitorada pelo Ministério da Saúde.