O drama de um passo-fundense para sair da Ucrânia

Jogador Cristian Dal’Bello morava há um ano na Ucrânia. Ontem (1º) ele finalmente atravessou a fronteira com a Polônia

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Grupo de brasileiros comemora travessia da fronteira. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)Grupo de brasileiros comemora travessia da fronteira. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)
Grupo de brasileiros comemora travessia da fronteira. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)
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Depois de quatro dias de angústia, medo e incerteza, o jogador de futebol, natural de Passo Fundo, Cristian Dal’Bello, conseguiu atravessar a fronteira da Ucrânia com a Polônia ontem (1) com a ajuda de um motorista brasileiro e agora está fora da zona de guerra. Cristian atua no time de Zorya, de Luhansk, e mora há um ano em Zaporizhzhya, cidade a cerca de 670 km da capital Kiev. Por meio das redes sociais ele relatou as tentativas de chegar em Lviv para atravessar a fronteira, junto de mais dois brasileiros colegas de time, a esposa e filho de um deles. Desde que a Rússia iniciou os ataques e invasões na Ucrânia, os cerca de 500 brasileiros residentes no país exploram todas as alternativas para escapar do país e se abrigar em outro local.

 

Em busca da saída

No primeiro dia de ataques, na quinta-feira, 24 de fevereiro, Cristian publicou em suas redes um vídeo pedindo ajuda ao governo brasileiro. No sábado (26), o grupo de cinco pessoas, incluindo Cristian, os dois companheiros de time Guilherme Smith e Juninho Reis, a esposa de Juninho, Vitória Magalhães, e o filho do casal, Benjamin, de quatro anos, conseguiram pegar um trem de emergência em Zaporizhzhya com destino a Lviv. O trem de evacuação atrasou cerca de 10 minutos, o que permitiu que desse tempo de pegá-lo. Chegando em Lviv, eles conseguiram um motorista que os levou até as proximidades da fronteira, no entanto, a partir dali não havia mais carros disponíveis para transporte, visto que um grande congestionamento tinha se formado e todos os automóveis estavam parados na via em direção a divisa. De acordo com os vídeos publicados por Cristian, seriam seis horas de caminhada até o local.

Já era noite quando, após caminharem cerca de seis horas e meia, Cristian relatou terem parado em um estabelecimento para descansar. Ainda teriam mais três horas de caminhada até a fronteira e o estabelecimento onde estavam fecharia logo em seguida. Os hotéis no entorno estavam todos lotados, o que deixou o grupo sem opções, além de seguir estrada.

 

“Quando chegamos fomos tratados como lixos”

Depois de 60 km de caminhada, eles chegaram próximo à fronteira da Ucrânia com a Polônia, faltando poucos 4 km, mas foram impedidos e ameaçados por agentes de segurança que estavam no local. Nas redes sociais, Cristian lamentou. “Essa noite foi a noite mais triste da minha vida e com certeza a pior. A divisa da Ucrânia com Polônia não é nada do que falam. Andamos 60km para chegarmos lá. Quando chegamos fomos tratados como lixos, dormimos na rua, quase congelamos. Por sorte,dconseguimos acender uma fogueira. Muito triste”, publicou. Em vídeos, o jogador disse ter sido informado que haveria pessoas os esperando para fornecer ajuda, mas só encontraram descaso. Além disso, havia muita gente nos arredores, fazia muito frio e nevava. Caso não tivessem feito a fogueira, ele relata que poderiam não ter aguentado as temperaturas. Em fotos, ele registrou machucados nos pés.

 

Hotel em Lviv

Depois da noite que enfrentaram na fronteira, os jogadores conseguiram uma carona para voltar e se abrigaram em um hotel de Lviv que a Embaixada Brasileira forneceu a eles. Na segunda-feira (28), às 13h30min, eles tentaram pegar um trem para a Polônia, no entanto, como relatou a mãe do jogador, Patrícia Dal’Bello, quando foram para a estação, o trem já estava com superlotação e cancelaram a viagem. O próximo trem, às 19h, também já estava lotado e eles precisaram retornar ao hotel. Ao chegarem, informaram ao grupo que não havia mais lugar para eles ficarem, o que os obrigou a aguardar no saguão. “Tá muito complicado, tem cada vez mais gente pra sair e eles estão em pânico, estão bem apavorados. Dizem para eles fazerem tal coisa e quando chega lá… Olha, eu não sei mais o que fazer”, relatou e desabafou a mãe de Cristian após o filho e os companheiros não conseguirem pegar o trem.

 

A volta para casa está mais próxima

Uma noite carregada de incertezas acompanhou o grupo de brasileiros. Mas no início da manhã de ontem (1) o alívio preencheu a todos quando Cristian publicou a notícia que eles haviam conseguido atravessar a fronteira. “Bom dia, dia 01/03 ficará marcado em nossas vidas, conseguimos atravessar para a Polônia, graças a Deus, estamos todos bem. Deus honrou seu nome mais uma vez, glória Deus vamos para casa, nos esperem família estamos chegando”, publicou o passo-fundense, com a localização marcando “Korczowa-Krakovets”, uma vila no sudeste da Polônia, próxima à fronteira com a Ucrânia.

De acordo com informações divulgadas pelo G1, o grupo saiu do país com a ajuda de um motorista brasileiro que estava em Kiev, capital da Ucrânia, mas conseguiu chegar a Lviv, onde os jogadores estavam hospedados. O pai de Guilherme Smith contou que eles se encontraram ainda à noite e na manhã seguinte, no dia 1º, em cerca de três horas todos já estavam em território polonês. Eles seguem de carro para Varsóvia, capital da Polônia. A logística para o embarque dos jogadores para o Brasil está sendo estudada e é possível que eles cheguem ao país hoje (2). “Eles estão bem. Agora só precisamos ver se eles vem com o avião da FAB ou com um avião próprio, mas a tensão maior já passou”, declarou aliviada a mãe de Cristian, Patrícia Dal’Bello, ao Jornal O Nacional.

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