De tempos em tempos, os efeitos de terremotos distantes são sentidos em Passo Fundo. Na quinta-feira, 26, essas vibrações deram um susto em alguns passo-fundenses, especialmente em prédios altos, pois refletem mais nas extremidades. Logo, soube-se tratar de consequências de um terremoto de 7,2 de magnitude na região de Puno, no Peru, com epicentro a 20 quilômetros de Ayaviri. Ao mesmo tempo, o Instituto Geofísico do Equador registrou tremor com magnitude de 7,9 em Puerto Acosta, na Bolívia. Mas, se um leve tremor foi sentido em Passo Fundo, não há motivo para se assustar. A afirmação é do geólogo João Orestes Schneider Santos, com vasta experiência em prospecção e mineração na Amazônia, Austrália, Argentina, Bolívia, Peru etc. Ele enfatiza que não há riscos de ocorrerem grandes terremotos por aqui.
Ondas em propagação
“A América do Sul está se afastando da África, movendo para oeste, uns 4 ou 5 cm por ano. A placa oceânica de Nazca se move para leste entrando sob o bordo oeste da América do Sul. Essa compressão provoca o soerguimento dos Andes. A movimentação causa enormes fraturas na crosta. Os movimentos nessas fraturas causam atrito entre blocos de rochas da crosta, produzindo ondas que se propagam por milhares de quilômetros”. O pesquisador explicou porque sentirmos por aqui uma ocorrência tão distante. “Os efeitos distais de dezenas de terremotos andinos alcançam o sul do Brasil todos os anos. Todavia, a grande maioria chega com baixa intensidade e não é percebida pela população. Essas ondas são chamadas de ‘ondas sísmicas’ e têm velocidade de 6 a 10 km por segundo. As ondas se assemelham geometricamente às marcas de onda que surgem quando se lança uma pedra em um lago, por exemplo”.
Os terremotos
O gaúcho Orestes, que tem doutorado pela UFRGS e pós-doutorados na Austrália, explica que os terremotos também têm classificações distintas. “Há dois tipos básicos de terremotos: aqueles originados em áreas instáveis da crosta como as cadeias de montanhas orogênicas, como os Alpes, o Himalaia e os Andes. O outro tipo ocorre nas regiões estáveis da crosta terrestre, chamadas de crátons, como o Brasil, sul da África, sul da Índia, maior parte da Austrália etc. Os terremotos orogênicos são mais frequentes e mais intensos, enquanto que os cratogênicos são mais fracos e muito menos frequentes”.
Terremoto em Passo Fundo?
E, afinal, qual o risco de ocorrência de um terremoto aqui em Passo Fundo? A resposta de Orestes é enfática. “Nunca haverá um terremoto de grande intensidade no Rio Grande do Sul e no Planalto Médio”. Mesmo assim, ele faz uma ressalva: “a não ser daqui uns 300 milhões de anos, se a América do Sul voltar a colidir com a África”.