Gaúcha faz relato sobre a vida em Israel após ataques do Hamas

Natural de Porto Alegre, com mãe erechinense, Perla Szaf Levy construiu sua vida em Israel há 22 anos e conta como está sendo enfrentar o momento com seus dois filhos em casa enquanto seu marido está na guerra  

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Perla com o marido Itzik e os filhos Aviel e IlayPerla com o marido Itzik e os filhos Aviel e Ilay
Perla com o marido Itzik e os filhos Aviel e Ilay
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Como é viver em um país em guerra? Qual é a sensação que dá cada vez que a sirene toca e é preciso correr para ficar em segurança? Esse tipo de situação parece tão distante para os brasileiros, porém é um problema enfrentado em alguns lugares do mundo que vivem conflitos. Desde sábado, 7 de outubro, quando o Hamas fez um ataque surpresa contra Israel na Faixa de Gaza, matando centenas de pessoas e Israel declarou guerra ao grupo terrorista, é algo vivido pelos moradores do território israelense.

 A gaúcha Perla Szaf Levy, natural de Porto Alegre e com mãe nascida no Alto Uruguai, norte do Rio Grande do Sul, conta como está sendo enfrentar a guerra em Israel. “Moro aqui há 22 anos, emigrei a Israel porque sou judia, tenho direito da lei do retorno que é emigrar e viver aqui, hoje sou israelense, mas nasci em Porto Alegre, minha mãe é natural de Quatro Irmãos e Erechim”, conta.

 Nessa terça-feira, 10 de outubro, Perla contou sobre como tem enfrentado as dificuldades ao Jornal O Nacional de um restaurante onde estava com os filhos, Aviel de 15 anos, e Ilay de 12 anos. “Eu emigrei sozinha, conheci meu marido aqui, tem a família do meu marido e nesse momento vim almoçar com as crianças, sair de casa com eles para espairecer um pouco. Aqui também tem quarto de segurança, domingo não tinha uma viva alma, um carro na rua, hoje as coisas estão melhores, em Israel a gente pega os cacos e vai se reconstruindo com os cacos da gente, é assim Israel, a gente sabe se reconstruir. Claro que isso nunca mais vai ser igual, posso dizer que o que senti foi o holocausto, é o que eu escutei toda a minha vida quando a minha vó veio da Polônia e contava sobre a minha família e isso é um holocausto só posso dizer isso”, diz.

Perla conta que quando as sirenes tocaram, ela e o marido, assim como os filhos, estavam dormindo.  “Sábado (7) quando as sirenes tocaram, às 6h30min, a gente não entendeu o porquê, levantamos da cama e saímos correndo, falei para o meu marido pegar o telefone para ver o que estava acontecendo. Entramos no quarto de segurança, esperamos aí falei para eles, vou sair para ver a tv, mas ainda não tinha nada, levamos algum tempo para começar a ter um ‘fio da meada’ como se diz, eram muitas coisas vagas pela mídia, ninguém sabia de nada, o que vocês hoje veem, levou horas para gente entender”, contou.

Itzik com os filhos antes de sair para ir ao encontro do exército

Em defesa da pátria       

O Exército Israelense confirmou na segunda-feira (9) que convocou 300 mil reservistas para preparar a nova fase da guerra e entre eles está o marido de Perla, Itzik Levy, de 46 anos, que trabalha com informática, mas foi convocado para atuar na defesa do país. “Foi tudo muito rápido, ele falou se for convocado, eu vou é claro que não tem outra solução, a pessoa tem que ir quando ela é reservista, quando ela ama o país dela. Se ele é reservista é porque ele quer dar a vida pelo país dele e aí logo começou no grupo do WhatsApp dele que os generais estavam sendo convocados e muito rápido veio a mensagem de voz ‘farda e vir para o ponto de encontro’”, relata.

Após ser convocado, Levy arrumou as malas com ajuda dos filhos e fez uma foto antes de sair para a jornada. “Eu estava sentada no sofá e fiquei impactada, não conseguia me mexer, foi algo surreal como eu digo, as crianças prontamente foram com o pai, orgulhosos, meus filhos são israelenses, sentaram e ajudaram ele arrumar a mala, com a farda e sapatos e coisas que ele precisa. Depois eu resolvi arrumar uma necessaire colocar shampoo, essas coisas, aí tocou a sirene outra vez. Depois de um tempo voltamos para o ponto de continuar preparando, aí que me lembrei de colocar biscoitinhos para ele ter o que comer e água, foi isso o que eu consegui como pessoa o ajudar”, diz.

Perla conta que a Faixa de Gaza fica a 60 km da casa da família e que ficam sabendo informações sobre a guerra por meio da televisão, rádio e redes sociais. “Hoje em 5 segundos você sabe tudo, é um país muito rápido em tecnologia e quando não estamos assistindo, se escuta, ou seja, estou a 60 km da Faixa de Gaza, eu tenho 1 min e meio para entrar no quarto de segurança, mas se escuta, se sente” explica.

Perla conta que mantém contato com o marido o que faz com que seja menos pesado o momento. “Meu marido está na Cisjordânia, na Samaria, desde que saiu de casa ele foi para o ponto de encontro e de lá eles estão cuidando das comunidades judaicas que estão ao lado das comunidades palestinas. Os soldados da Cisjordânia foram para a Faixa de Gaza e agora eles assumiram ali para cuidar daquela região. O tempo inteiro ele quer saber de nós, das crianças, por ele estou tranquila, não tem como explicar outra coisa, meu coração está mais apreensivo pelos meus três primos que são filhos de erexinenses e dois estão na Faixa de Gaza”, diz.

Perla conta que outro primo só não perdeu a vida, porque conseguiu fugir dos terroristas. “No sábado, quando os terroristas entraram na casa ao lado e começaram a matar todo mundo, esse primo conseguiu fugir com que tem mais de precioso, que foi a arma dele, uma bermuda e uma sandália, os outros dois são combatentes. Um deles ontem ele perdeu o comandante na mão dele e do lado teve o amigo assassinado, ou seja é uma brutalidade muito grande que está passando lá no sul. Hoje a mídia internacional teve acesso ao que aconteceu e vocês vão ver o que é terrorismo, um kibutz cheio de vida transformado em sangue, corpos, tudo destruído, você escuta a gritaria nas imagens e imagina o que as pessoas passaram porque são imagens fortíssimas, enquanto a mídia estava lá ainda tinham corpos para ser colocados nos caminhões”, lamenta.

Turistas aguardam repatriação

Perla atua como diretora operacional do Brasil em Israel na empresa Vered Hasharon, que atua como operadora de turismo internacional de alto padrão. Ela conta que está auxiliando um grupo de 33 brasileiros de São Paulo para que retornem ao país. “Eles estavam sábado ao norte de Israel na cidade de Nazaré, assistiram à missa, pode ter sirene em Israel, acontece, mas não é algo que a gente pudesse imaginar, então eles foram para missa e eu rapidamente recebi uma mensagem do Ministério do Turismo que todos deveriam retornar ao hotel, depois que acabou a missa eles voltaram e ficaram sábado e o domingo no hotel. Segunda puderam sair, visitaram um pouco o mar da galileia e agora estão no hotel para ver a situação do repatriamento. Outros grupos nossos do mundo inteiro também estão andando conforme o Ministério autoriza. As coisas em Israel para Jerusalém, no norte, estão mais normais. Nós que estamos com restrições, como vocês lembram do corona, só abre supermercado, farmácia, tudo sem aglomeração, no máximo 10 pessoas e claro tem que ter o quarto de segurança para poder abrir qualquer loja ou supermercado que comporte em caso de sirene”, disse.

Plano B

Sobre que rumo tomará caso a escalada de violência piorar no país, Perla conta que não pretende sair de Israel. “Essa é uma pergunta que fazem todo dia, não existe plano b, meus filhos são israelenses, meu marido é israelense e eu nasci no Brasil e hoje vivo mais tempo aqui, ou seja, o meu plano a, b, c é todo aqui. Não tenho nada que hoje me faça voltar ao Brasil, é aqui que vou construir o nosso e o futuro dos meus filhos que são sabras, israelenses nascidos aqui são chamados de sabras e assim vai continuar de geração a geração. Nós temos um amor pela pátria mesmo que não sou israelense, que não nasci aqui, mas é aqui que eu decidi viver e esse amor que a gente tem pelo país, é algo que eu desejo que o brasileiro tenha pelo dele, em qualquer circunstância que ele seja unido como aqui, essa união é algo que me conquistou e que me deixa feliz dia a dia”, finalizou.

 

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