Aos 68 anos, a professora aposentada Nubia Lermen esbanja disposição. Divertida, independente, Nubia passa longe do estereótipo de aposentada, mas muito longe mesmo. Passo-fundense, morou por 39 anos em Santa Bárbara do Sul, onde terminou sua carreira como secretária municipal. Após trabalhar por 43 anos, Nubia precisou encarar sua aposentadoria, olhou para o futuro que a esperava e começou a pensar no que faria dali para frente.
Resolveu buscar suas raízes e voltou a Passo Fundo, onde mora a filha, e se viu diante de uma dúvida: o que iria fazer? “De repente você se dá conta de que está isolada. Eu sempre fui muito envolvida em todos os setores lá na minha cidade, então precisava fazer alguma coisa. Como eu tinha feito Letras e tinha estudado inglês durante o curso, mesmo que o básico naquela época, eu resolvi voltar a estudar”, lembra.
Após uma busca intensa pelo melhor método, iniciou, em agosto do ano passado, seu curso de inglês. Junto com o aprendizado veio um novo desejo: fazer intercâmbio. “A minha filha, que é médica, fez intercâmbio, então eu sempre tive vontade de também estudar em outro país e eu tenho prazo de validade. Eu fiz 68 anos enquanto estava na Inglaterra, então meu prazo de validade perante a convenção não vai muito longe para eu poder ter autonomia, voar sozinha, então eu resolvi que era a hora”, conta. Com a ajuda da escola escolheu o destino: Ramsgate, na Inglaterra.
Segundo Nubia as reações na família foram as mais diversas. A mãe, que mora com ela e tem 98 anos, ficou preocupada com o fato de a filha viajar sozinha. Os filhos, por outro lado, deram apoio. Já a neta, de 12 anos, pediu para que a avó a levasse junto. “Surgiu essa oportunidade e eu fui de mala e cuia para a Inglaterra”, brinca.
Vida de intercambista
Enquanto esteve fora, Nubia viveu todas as experiências que um intercambista qualquer vive: estudou em uma escola local, ficou hospedada em casa de família, viajou para outros lugares e conviveu com os mais diferentes tipos de pessoas. “Eu tinha uma insegurança muito grande se alguém ia estar lá me esperando ou não, mas quando eu cheguei tinha um senhor com uma plaquinha com o meu nome e quando eu cheguei na cidade me apaixonei. A escola era maravilhosa, nós éramos em 14 na turma, 14 países diferentes. Então além do estudo, do intercâmbio, eu pude compartilhar conhecimentos com todas essas pessoas”, conta. Segundo ela, a melhor parte de se fazer intercâmbio é ter liberdade. “Em primeiro lugar, o bom do intercâmbio, é que você está fazendo um turismo personalizado, você não tem um guia, vai atrás do seu interesse, do que você gosta, do que você quer”.
Novos planos
Um mês foi pouco para a aposentada que já está se preparando para embarcar em uma segunda aventura. Por enquanto, são apenas planos, mas seu maior sonho é poder realizar um intercâmbio com a neta, que tem 12 anos. “A minha geração foi educada para que depois da aposentadoria a gente fique em casa, principalmente nós mulheres. Só que eu não concordo com isso. Acho que nós temos que continuar aprendendo. Nossa expectativa de vida é cada vez maior. Eu vou viver muito ainda, com qualidade de vida, tenho muito que aprender e o mundo está na minha frente. Se eu não tenho condições, eu crio elas”, comenta.
Para quem sonha em se aventurar assim como ela, Nubia garante que todo mundo tem condições, basta ter a coragem de dar o passo inicial. “Acho que nós temos condições, tem que saber ir atrás, saber que o mundo está ao nosso alcance. Viajar tempera nossa vida. Eu vou viver de lembranças e quero que essas lembranças sejam as melhores possíveis. Tomara que eu consiga assanhar alguém para fazer o mesmo que eu fiz porque é maravilhoso”, finaliza.