O sonho de levar uma vida mais leve, fazendo o que se ama. Mais do que uma ideia, esse é o sonho de, provavelmente, mais da metade dos nativos das gerações Y e Z. Conhecidos pela vontade transformar o mundo em que vivem e pela necessidade de desenvolver o lado criativo, são jovens e adultos movidos pelo desafio. Mas essa não é uma história sobre gerações. É uma história sobre como duas pessoas trocaram uma vida segura, com bons empregos, pela arte de criar. É uma história sobre o Lucas e a Natália e sobre como eles criaram a Vanilla Urbanwear.
Paixão por criar
Lucas Fragomeni é brasiliense, administrador, programador e marceiro. Natália Miranda Anders é carioca, mas também meio passo-fundense, advogada e filha de makers. Os dois se conheceram quando Natália deixou Passo Fundo para viver em Brasília, há cerca de oito anos, e perceberam que compartilhavam uma paixão: criar. A primeira criação que nasceu da relação dos dois foi um presente que Lucas fez para o pai de Natália. Foi enquanto pesquisava materiais para criar uma faca para o sogro que Lucas descobriu uma ténica de laminação de tecido com resina. Era uma técnica que quase não existia no Brasil, mais comum nos Estados Unidos. "Quando eu olhei aquilo eu disse que queria um óculos disso", lembra Natália.
O desejo de Natália tornou-se curiosidade e os dois trataram logo de pesquisar se aquilo era possível. Descobriram que ninguém nunca tinha feito algo parecido e resolveram colocar a ideia em prática. "A gente não tinha oficina em casa, tinha que atravessar a cidade para usar a oficina, era o maior perrengue, uma hora e meia para ir e voltar da oficina que um amigo cedia para a gente", conta. A experiência deu certo e depois de muita pesquisa e experimentação, nasceram as primeiras peças: óculos de sol feitos 100% de jeans e resina. Obviamente, os amigos começaram a gostar da ideia e a fazer suas encomendas e quando viram, Natália e Lucas já estavam começando a pensar em transformar a ideia em uma marca. "Um consultor de uma empresa viu o óculos e adorou e resolveu que queria ser nosso consultor gratuito. A gente já tinha ideia de transformar a Vanilla em uma marca, mas foi ele que nos incentivou. Na época eu trabalhava no Ministério da Justiça e foi bem durante o período de toda a crise política, tudo acontecendo e isso acabou me incentivando a tocar ainda mais a marca, porque eu estava vivendo dias muito pesados, insatisfeita com o trabalho".
O resultado não poderia ter sido outro. Um ano depois de terem iniciado a pesquisa, no dia 02 de julho de 2016, Lucas e Natália lançaram a Vanilla Urbanwear. "A gente resolveu lançar a Vanilla em uma evento que tem aqui em Brasília muito famoso que reúne uma média de 15 mil pessoas. Nós levamos seis óculos para o evento e vendemos 13", contam.
100% feito à mão
Sete meses depois, Lucas e Natália já venderam cerca de 100 óculos. Mais leves - e mais charmosos - que os tradicionais óculos de acetato, o produto criado pelo dois tem um diferencial ainda mais bacana: todo o óculos é feito por eles, à mão. Para isso, os dois montaram uma oficina na própria casa. São eles que desenham os modelos e fazem todo o processo, desde a montagem, até os acabamentos , cavas e todos os detalhe - a única coisa que não passa por eles é a colocação das lentes, trabalho delegado a um laboratório. O processo todo, segundo Lucas, leva em torno de quatro horas por óculos. "A gente usa basicamente três tipos de tecido: linho, jeans e seda. É 100% tecido, muita gente acha que é forrado, mas ele é feito por várias camadas de tecido empilhadas e é um grande desafio para a gente. É algo muito pequeno, com muitos detalhes, um décimo de milímetro já faz o óculos ficar torto, então é uma grande desafio. É um trabalho muito fino", explica.
Para chegar a esse processo, no entanto, o casal estudou muito. "A Vanilla começou muito como duas pessoas que resolveram fazer óculos e a gente fez tudo que precisa para aprender. O Lucas fez curso de design de óculos, a gente pesquisou muito, foi conhecer laboratórios, para saber como funciona, tudo com o objetivo de conhecer o mercado e conhecer o processo", conta Natália.
O investimento também foi praticamente zero já que o os dois criaram quase tudo que precisavam, desde a oficina até logomarca, site e divulgação. Agora, entretanto, a ideia é inverter um pouco esse processo. "Com todas as propostas que estamos recebendo, a gente está começando a delegar, contratar pessoas para fazer isso que a gente vinha fazendo, trabalhar em cima da marca, para a gente poder ter mais tempo na oficina, porque a gente acaba deixando de produzir para fazer essas outras coisas. Então agora a ideia é profissionalizar isso para que a gente possa produzir mais", ressalta.
Nova vida
De acordo com Lucas e Natália, a Vanilla Urbanwear nasceu do o sonho de levar uma vida mais leve e recompensante. A ideia era poder fazer o que mais amavam: dar forma às ideias, conhecer lugares e pessoas, buscando inspirações, repassando esse amor e carinho para as outras pessoas.
Natália largou seu emprego como advogada para se dedicar à marca. Lucas ainda trabalha como programador, mas já está diminuindo as horas também para ter mais tempo para a Vanilla. Para Natália, a mudança foi ótima. "Eu passo o dia inteiro inventando óculos e é tão bom construir algo seu e ter uma ideia, poder colocar ela em prática, executar uma coisa sua, que nasceu dentro de voê, eu adoro", comenta. Já Lucas vê a mudança de duas formas: por um lado, eles não têm chefe para dizer o que tem que fazer, mas ao mesmo tempo sabem que se não se cobrarem, a empresa nunca vai para frente. "A gente está sacrificando um pouco o conforto, reduzindo um pouco da nossa renda familiar para construir algo nosso, nosso sonho e a gente espera que isso nos dê ainda mais realização do que já dá", ressalta Lucas.
Todo esse pensamento dos dois, reflete, claro, nos produtos. Segundo Natália, a Vanilla nasceu do sonho que eles tinha de viver uma vida mais leve e poder construir o próprio dia a dia. "A gente tem essa necessidade de estar sempre criando e a Vanilla foi uma forma que nós achamos de criar e fazer o que a gente quer fazer. E é isso que a gente tenta passar com nossos óculos", destaca. De acordo com eles, é por esse motivo que os óculos são limitados e todos eles têm uma identidade um pouco diferente. "A gente tem essa ideia de que cada pessoa é única e que todos cabem no mundo e esse respeito do próximo, do ser humano, é isso que é a Vanilla, tudo que a gente faz, tudo que a gente precifica está relacionado a esse pensamento", finalizam.
Conheça o trabalho do Lucas e da Natália: vanillaurbanwear.com.br