Não existe fórmula que possa auxiliar os pais sobre qual é o melhor jeito de educar os filhos e por qual caminho seguir quando uma dificuldade for enfrentada. Cada criança é diferente uma da outra e entender a individualidade delas é um passo importante para a construção do ser humano que elas serão no futuro.
A psicóloga Eliana Sardi Bortolon acredita que um dos desafios de educar as crianças atualmente seja o elevado número de informações e estímulos a que as crianças estão expostas. Para ela, nem sempre a criança está preparada para absorver todo o conteúdo visto em uma tela de celular ou computador. “É o papel do adulto, de pai e de mãe, ajudar nesse filtro, no processamento das informações. Quando eu era criança e precisava estudar, eu marcava horário na biblioteca, procurava o livro certo, depois copiava o conteúdo para o caderno, lia e esse processo de pesquisa e de organização para a criança é constituinte. Hoje, com um smartphone a criança faz tudo isso em poucos segundos e tem acesso a uma gama de informações que nem sempre ela está preparada para discernir”, comenta.
Outro ponto destacado por Eliana como desafio para criar os filhos são as compensações que os pais fazem as crianças. É comum ver famílias que não se veem durante o dia e se encontram apenas a noite, após o trabalho ou a escola. “Os pais acabam se culpabilizando, fazendo algumas compensações equivocadas e tendo até prejuízos financeiros para dar conta de uma demanda da criança. Muitas vezes a criança nem tem escolha, pois já tem tudo, e quando isso ocorre a escolha por algo fica mais difícil, ela vai pedindo tudo o que vê pela frente, quase compulsivamente e antecipando etapas”.
A coordenadora pedagógica do Notre Dame, Márcia Scortegagna Pereira, considera que um dos desafios na educação dos filhos é poder conciliar os limites com o carinho e o afeto dado as crianças. “Eu acho que o maior desafio é nesse sentido, os pais conseguirem dizer não sem fazer compensações, nós temos uma geração de pais que pensa em dar aos filhos aquilo que eles não tiveram, para não passarem as mesmas dificuldades que eles passaram, é dizer o não sem perder o carinho e o afeto, que são as melhores coisas de ser pai ou mãe”.
Como lidar com o choro da birra?
Há aquelas crianças que choram no supermercado para os pais comprarem um chocolate ou um brinquedo. Que imploram para ganhar algo, mesmo que os pais já tenham dito o temível não. “Eu diria que algumas crianças fazem isso com mais intensidade. É um desafio e também é algo que os pais ensinam a criança. Quando os pais cedem a esse choro, é sinalizado a criança que sempre que ela chorar, ela vai ganhar, então acho que é muito mais interessante para os pais manterem o pacto e sustentar esse pacto: se foi combinado de não comprar hoje, não será comprado, independente do que a criança fizer”, argumenta Eliana. Na opinião dela, a birra não é só responsabilidade da criança que a faz, é também dos pais.
Papel da Escola
Para Eliana, a escola de educação infantil desempenha cada vez mais um papel fundamental para a formação da criança, por conta de que as famílias, muitas vezes, não dão conta sozinhas e é necessário que alguém, sejam os pais ou a escola, ensinem limites e a educação num geral. “Por muitas vezes a escola é a salvação da lavoura de uma criança, de um modo geral as escolas estão bem estruturadas e preparadas e quando a criança está ali, entre pares, ela consegue fazer o exercício do limite, da divisão, do compartilhamento, coisas que por vezes em casa ela não consegue experimentar pois tem tudo o que quer”, diz.
Márcia acredita que a escola sempre teve (e hoje ainda mais) um papel de socialização entre as crianças, de fazer com que elas entendam que é necessário dividir, compartilhar a atenção da professora, esperar a hora o lanche e entre outras coisas. “Os pais deveriam ver a escola como uma parceira na educação dos filhos, para colocar limites sem perder o carinho e o afeto, poder trabalhar junto, família e escola”. No entanto, ela acrescenta que é preciso ter o cuidado de não haver uma responsabilização errada, tanto por parte dos pais quanto pela escola. “É preciso ter o cuidado para que os pais não culpem a escola por um papel que deve ser cumprido por eles e nem a escola responsabilizar os pais pelo o que é atribuição dela, que é a construção do conhecimento e complementação da função da família, os dois lados precisam ser aliados”, finaliza.
O que é ser criança?
Eliana: “Ser criança é muito bom, é uma etapa muito importante da vida, a criança tem muito da alegria, da pureza dos sentimentos, se a gente conseguir ajudar elas a expressar os seus sentimentos, elas vão fazer isso muito bem. Ser criança é brincar, aprender e acho que a nossa responsabilidade de adulto é oportunizar que as crianças sejam crianças com alegria, com um processo de aprendizado e que brinquem!”.
Márcia: “Ser criança é uma mistura de alegria, pureza, brincadeiras, é bom se todos pudessem ser crianças, as crianças representam um mundo melhor, é tudo de bom.A criança representa a imaginação, a inocência que falta muito nos adultos.”