"O que faz de você mulher?"

Peça artística, da fotógrafa Bruna Todeschini, incita o questionamento sobre o papel da mulher e do corpo feminino na sociedade

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Erviton Quartieri Jr Crédito: Erviton Quartieri Jr Crédito:
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Nas fotografias expostas no espaço expositivo da Casa de Cultura Vaca Profana, partes do corpo feminino ganham evidência, em uma proposta questionadora. “O que faz de você mulher?”, projeto da artista erechinense Bruna Todeschini, apresenta fotografias e uma peça de áudio composta pelas respostas das modelos para a pergunta tema, em uma proposta de rever o corpo feminino. O projeto fica exposto na Vaca (Rua Paissandú, 180) até o dia 21 de abril e tem entrada gratuita.

Para esse projeto, mulheres de diversas idades foram fotografadas durante o ano de 2016, em Erechim, com a intenção principal de mostrar um corpo feminino cru e nu, livre de disfarces, e que não está exposto em um sentido estético ou exercendo alguma função social. “Quando recebi o convite para expor algum trabalho fotográfico sobre mulheres na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), pensei em tratar do corpo, mas quis desconstruir a ideia clichê de retrato de mulheres”, explica a artista, que lança um questionamento acerca dos tipos de corpos que vendem a imagem “certa” do que é ser mulher, em uma constante busca pela perfeição e a ideia de feminilidade. Assim, fomenta-se o debate sobre as questões de sexualidade, gênero e papel da mulher e do seu corpo na sociedade.

Bruna conta que, durante o processo, apresentou a ideia para cada modelo convidada dizendo que não necessitavam posar para as fotos e que poderiam escolher o quanto estavam dispostas a mostrar. “Algo muito importante do processo é que apesar de saberem que a identidade de cada mulher não seria revelada, que seriam partes do corpo que iriam pra exposição e que eu buscava o retrato do corpo como ele é, a grande maioria das mulheres se desculparam pelos seus corpos, tratando como se fossem defeituosas em algum sentido”, lembra. Esse posicionamento de pessimismo e vergonha pelo próprio corpo levou a fotógrafa a refletir sobre o quanto o corpo da mulher é visto como um objeto, que precisa ser perfeito para ser usado. “Uma mesa, por exemplo, precisa ter os pés alinhados, não pode ter farpas, tem que ser lisa, reta, designações para que facilite o uso. A mulher se vê como esse objeto que precisa estar ‘perfeito’, que se não segue um determinado padrão não está apta a ser. E isso ocorre com todos os tipos de mulheres, mesmo aquelas que se encaixam nesses ditos padrões”.

Afinal, o que é ser mulher?

Na peça de áudio, que inclui as respostas à pergunta que dá nome ao projeto, nota-se a diversidade das respostas, com destaque para as falas que associam ser mulher à lutar e ser forte, na direção contrária da visão cultural da mulher como um ser frágil e sensível. “Outro destaque é sobre o observado durante os diálogos, que a mulher se percebe como mulher quando é impedida de fazer algo pela sua identidade, quando tenta fazer coisas ‘de homem’ e é posta em dúvida. Surge esse questionamento se realmente há características que sejam exclusivamente nossas, ou se a ideia de gênero é uma construção social”, Bruna esclarece. Para ela, realizar um trabalho tão forte foi a oportunidade de questionar-se sobre suas ações e identidade. “Minha visão como profissional mudou muito, passando a enxergar além do fotogênico ou de um mero clichê social. Fui afetada e sou ainda em cada vez que exponho, em cada mulher que consegue se ver no trabalho como um ser e não como um dever”.

Oficina

Para os interessados a aprender mais sobre fotografia, seja ela feminina ou não, a artista convida a participarem, no dia 21 de abril, de uma oficina de fotografia criativa na Casa de Cultura Vaca Profana, como encerramento da exposição “O que faz de você mulher?”. Informações sobre as inscrições e horários podem ser obtidas com os membros da Vaca Profana, pela página da casa no Facebook.

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