A sensibilidade como fortaleza

Feminista assumida e com muito orgulho, esta advogada vê na igualdade a melhor condição para o ser humano

Por
· 5 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

A voz suave e a fala pausada contrastam com o olhar determinado e forte. Características que se complementam em uma mulher apaixonada pela família, pela advocacia e pelo engajamento feminista. Sim, feminista com toda a convicção. Estamos falando de Maiaja Franken de Freitas, uma mulher de 36 anos, mãe de Davi, de 5, e esposa de Rafael da Costa Weber. Os cabelos ruivos e o baton vermelho são marcas desta advogada que nasceu numa família tradicional do meio jurídico de Passo Fundo e que está fazendo carreira na advocacia.

Mas não foi sempre assim: quando precisou escolher a faculdade, na virada do século como ela lembra brincando, chegou a pensar em Comércio Exterior. O conselho do pai, José Mello de Freitas, pesou na hora da decisão e então ela optou pelo Direito na UPF. Formou-se em 2005. As experiências de estágio no Juizado Especial Civil e na Justiça Federal a inclinaram para a magistratura. Mudou-se para Porto Alegre para estudar e fazer concursos, onde permaneceu por três anos.

Um acidente que tirou a vida do então namorado a trouxe de volta para Passo Fundo, mas ainda com a determinação de seguir carreira de juíza. Chegou a prestar concurso e passou a repensar a carreira que havia escolhido.

A família, em especial a irmã Moara, também advogada, foi determinante para que ela optasse por advogar. Com escritório pronto, não poderia desperdiçar. “Tanta gente começa do zero e dá certo, porque eu perderia esta oportunidade”, refletiu.

Do sonho de ser juíza para a rotina de advogada na área cível, a adptação foi construída com o tempo. Maiaja analisa hoje que precisava compreender melhor este papel. Foi das conversas francas que sempre teve com o pai que o conceito de advocacia foi mudando. “Meu pai disse, filha, você tem que pedir. Advogado pede. Quem tem que dar ou não é o juiz”, lembra;

Não foi uma tarefa fácil, diz Maiaja, considerando que da metade da Faculdade em diante, ela estava condicionada a ir para a magistratura.

“Hoje é claro que minha compreensão é outra. Qualquer cidadão que se ver numa situação que pode ser judicializada precisa de um advogado. E, nós, defendemos a verdade que é do cliente. O trabalhador ou a empresa sempre vão achar que tem direito ou agem corretamente. E quem vai defender as verdades individuais é o advogado, submetendo esta verdade a apreciação de um juiz”, analisa.

Maiaja lembra que o professor de ética na faculdade foi justamente o pai Zeca Freitas e que ele dizia que a ética do advogado vai se pautar muito pela verdade do cliente que vai defender. “Eu não sou juíza, sou uma pessoa parcial nesta relação jurídica”, avalia, reafirmando que é uma apaixonada pelo que faz e que adora fazer audiências.

O feminismo como engajamento

A política está na sua essência. Lembra com carinho do tio João Freitas (in memoriam) que em 1964 foi preso pelo Regime Militar. Para dar vazão a esta a esta inquietação, ela decidiu se engajar no feminismo. “Vivemos num mundo polarizado e de radicalismos que fazem o medo prevalecer. Não me manifesto sobre vários temas porque isso pode gerar uma interpretação errada de acharem que a forma como eu penso pode influenciar meu trabalho, o que não é uma verdade”, diz.

O feminismo para Maiaja, implica na igualdade independentemente de gênero. Membro da Comissão da Mulher Advogada da OAB Estadual e coordenadora do grupo em Passo Fundo, Maiaja tem participado de várias ações na defesa dos direitos e das lutas das mulheres. Ela acredita que a conquista desta igualdade tem muito caminho pela frente e começa de forma individual, quando educamos nossos filhos para um mundo mais igual. Lembra que, nos últimos 50 anos, as mulheres passaram a ter outra educação com foco na formação, na independência e conquista profissional. A mesma evolução não é verificada na educação dos meninos. Como mãe do Davi, de 5 anos e meio, Maiaja diz que procura demonstrar que o mundo não pode ser feito de preconceitos e desigualdade . “Os meninos também podem abraçar outros meninos, podem chorar e podem brincar com qualquer brinquedo, porque brinquedo é brinquedo.

Depoimento feminista

"Embora o feminismo tenha sido 'silenciado' em mim por algum tempo, na medida em que me formei quando a Lei Maria da Penha sequer existia (risos), ele sempre esteve presente de alguma forte. Cresci e fui criada por uma mulher serena, linda, e apesar da feição frágil, extremamente forte! Minha mãe Jacira era funcionária da Prefeitura, não fazia corpo mole e sempre teve extrema preocupação com o trabalho, valor que passou para nós. Mas, também, nunca deixou de olhar para as filhas, para a mãe, para a família...Sem deixar de ser linda! Após a separação, passou um baque, mas se levantou...Sacudiu a poeira e deu a volta por cima...Sempre nos passou o valor do estudo. Não nos "preparou" para casar. Nos preparou para sermos profissionais, sem descuidar da família. Embora tenha sido uma mãe bem para frente, confesso que só aprendi a ser mãe (uma coisa que eu nunca pensei, até casar, (risos) outra coisa que eu nunca tinha pensado, até conhecer o Rafael), quando a minha mãe se tornou avó.

Há dois anos ela luta contra um câncer, que vai e vem....Se você conversar com ela, ela dirá que está bem, e não tem nada...Então, essa mulher, que era feminista sem saber ou sem querer, me ajudou a formar a mulher que sou hoje, à qual sou muito grata.

Nós mulheres precisamos entender que o feminismo somente triunfará sobre a atual cultura da desigualdade, se nós também apoiarmos umas às outras, independente das circunstâncias. Enquanto precisamos educar nossos filhos meninos, os valores da empatia, do amor e da igualdade, às meninas é fundamental passar a cultura da sororidade, e abolir a cultura da 'competição' que temos ainda hoje.

Talvez você que esteja lendo isso pode achar um "saco"...mas é preciso que as mulheres comuns, como eu, minha mãe, talvez, você, sua mãe ou sua avó, entendam que cada uma tem uma história especial, e que você não precisa muito para ser feminista, basta amor e igualdade no coração, tendo ciência e defendendo quem és!"

Lições

A defesa pela verdade, a constante busca pela ampliação do conhecimento, a gratidão e a humildade, são lições que Maiaja carrega e procura compartilhar com outras pessoas. A dedicação integral ao trabalho não interfere na dedicação que tem com a família, onde estão incluídos os irmãos e a mãe Jacira Elisabeth Franken de Freitas com quem tem uma ligação muito grande. E, como toda a mulher, Maiaja cumpre com maestria as multiplas jornadas do seus dias sem perder a delicadeza de uma mulher forte.

Gostou? Compartilhe