Antes mesmo de Passo Fundo nascer, o rio que deu nome ao município já carregava a importância de servir de trajeto para a passagem de tropeiros com couro, gado e sebo. Disso, até ser berço para índios Caingangues e Tupi-Guaranis e terra próspera para industriários e comerciantes, o rio presenciou toda a história de um município que se desenvolveu a partir das terras por onde passavam suas águas. Apesar da enorme importância histórica, econômica e cultural, há anos a situação do Rio Passo Fundo e seus afluentes preocupa pela poluição.
Para resgatar o valor do rio, sensibilizar as comunidades beneficiadas pela Bacia Hidrográfica do Rio Passo Fundo e provocar mudanças no pensar e agir em relação à situação, um projeto vem trabalhando na promoção de exposições e ações educativas relativas ao tema, o “Projeto Rio Passo Fundo: patrimônio paisagístico, natural, ambiental, histórico-cultural, econômico e político”. A proposta é do Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (MAVRS), com o apoio do Museu Histórico Regional (MHR) e do Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar), ligados à Universidade de Passo Fundo (UPF). O projeto é realizado a partir do patrocínio de R$ 300 mil provenientes do Programa CAIXA de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro 2017/2018.
Exposições
Para a construção das exposições, que serão abertas à visitação no dia 17 de julho, foram realizadas cinco expedições que percorreram nove municípios em busca de informações e vestígios históricos e ambientais sobre o Rio Passo Fundo. Somente pelo MAVRS, são três exposições. Para uma delas, a exposição “Só Mais Um”, o trabalho conta com uma grande equipe de envolvidos que têm colorido resíduos retirados das margens e do interior do rio durante as expedições, como forma de questionar o descarte incorreto destes objetos. “Esses materiais, que foram recolhidos, higienizados e separados por categorias distintas de acordo com a coleta seletiva, estão sendo pintados conforme a cor de sua categoria para ser montada a exposição. Essa exposição conta também com projeção de imagens feitas do rio Passo Fundo, na água, com a participação do Núcleo Experimental de Jornalismo da UPF”, explica a professora de Artes Visuais e responsável pela expografia, Ivana Rocha Tissot.
De acordo com ela, os materiais pintados serão suspensos por redes de pesca que foram apreendidas por motivo de pesca ilegal, reforçando ainda mais a ideia de que no rio deveria haver peixes e não lixo. O conceito foi desenvolvido por uma equipe de professoras do curso de Artes Visuais, inspiradas nos ready-mades do artista Marcel Duchamp, onde os elementos da obra de arte são apropriações de objetos do dia-a-dia, que recebem um novo significado a partir do tratamento e conceito atribuído a eles. “Nós entendemos a arte como um grande sensibilizador para questões de diferentes ordens. A ideia de fazer uma exposição com resíduos recolhidos diretamente do Rio Passo Fundo pretende sensibilizar a população para o cuidado que deve-se ter com o Rio, com o consumo exagerado e com o descarte irregular e incorreto de produtos, que acabam por prejudicar o meio ambiente e as comunidades que vivem em torno do Rio”, esclarece.
Ainda, outras duas exposições estão previstas: a exposição “Ruídos do Planeta”, uma instalação de autoria de Ivana Tissot, que busca sensibilizar o participante para questões que dizem respeito à extração, produção e o consumo exagerado de produtos e a geração de resíduos que esse processo causa para o nosso planeta. E, por último, a exposição “Percurso poético do rio: terras, cores e nuances”, produzida pela artista Maria Lucina Bueno e acadêmicas do curso de Artes Visuais da UPF, com painéis confeccionados com tintas naturais.