Empreendedorismo compartilhado

Por meio da força das empresárias Antônia Weiller, Lilian dos Santos e Sabrina Vieira, Antônia Espaço Mulher une salão de beleza e loja de artigos femininos em um modelo de negócios inovador

Por
· 6 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Com as constantes mudanças na economia brasileira, empreender demanda criatividade e muito jogo de cintura. É por isso que espaços de trabalho compartilhados têm virado tendência. Além da vantagem de as despesas serem divididas entre os sócios, os coworkings permitem uma constante troca de experiências entre todos que circulam por aquele mesmo espaço. A alternativa ainda é pouco difundida no interior do país, mas aos poucos coleciona adeptos. Em Passo Fundo, a empresária Antônia Nunes Weiller encontrou no empreendedorismo compartilhado uma alternativa para se manter no mercado e, ao mesmo tempo, ser dona do próprio negócio. Ao lado de Sabrina Vieira e Lilian dos Santos, mantém com muita garra a Antônia Espaço Mulher, uma iniciativa que une loja de artigos femininos e salão de beleza. “Para mim, ter um empreendimento compartilhado foi a sacada para manter no mercado uma loja física e com custo baixo. Nós temos o negócio em três e dividimos os gastos do local, mas cada uma tem seu produto. É o nosso diferencial”, explica Antônia.

Enquanto Sabrina é responsável pelos serviços e por toda a logística do salão de beleza na Antônia Espaço Mulher, oferecendo tudo que há de mais moderno no cuidado com os fios, Antônia e Lilian administram os produtos da loja. A primeira vendendo lingeries, acessórios e cosméticos e, a segunda, vendendo roupas femininas em geral. “A gente não tem sociedade, apenas dividimos as despesas e o local. Cada uma tem o seu dinheiro, o seu ramo e o seu lucro. Cada uma sabe seu fornecedor e o dia que tem que pagar. Então não acontecem brigas, porque o que costuma gerar briga em uma empresa em crescimento é a sociedade. É difícil você lidar com o dinheiro de outra pessoa. No modelo de negócio que temos hoje, nunca teremos esse problema”, esclarece Lilian, salientando ainda que, embora cada uma cuide do próprio negócio, todas se ajudam. “Se eu não estiver aqui, a Antônia vai se esforçar para vender por mim. Se ela não estiver, eu vou me esforçar para vender os produtos dela. Assim, a gente não precisa manter funcionários e o nosso custo para estar no centro de Passo Fundo é bem menor”.

Coragem e inovação

A ideia de um empreendimento compartilhado surgiu de Antônia. Vinda do Amazonas, ela escolheu criar seu filho e construir uma vida financeira em Passo Fundo, principalmente por gostar da segurança e da qualidade de vida oferecida na terra gaúcha. A primeira tentativa de manter uma loja no município, no entanto, não teve sucesso. “Fiquei oito meses com minha primeira loja e não consegui manter ela sozinha. Nessa época, eu tive um milhão de motivos para desistir, mas não desisti. Eu acho que quanto mais você fracassa, mais experiência você adquire e mais preparada se torna. Ninguém coloca negócio para quebrar, mas ninguém pode desistir porque quebrou a primeira vez”, conta. “Eu fechei a primeira loja, renegociei as contas e insisti na ideia de ter uma loja com um salão de beleza, mas vi que sozinha ficava difícil ter os dois negócios, porque ficava tudo centralizado só em mim. Hoje em dia estar no mercado de trabalho sozinha e com loja física é muito difícil, então tive a ideia de oferecer a parceria à Lilian, que já tinha uma carteira de clientes muito boa e já trabalhava com isso há anos”.

Quando Antônia fala “há anos”, não é exagero. Lilian conta que começou a lidar com vendas ainda na infância, mais precisamente aos dez anos de idade, quando vendia cosméticos para vizinhas. “Depois disso comecei a vender lingerie como sacoleira. Eu já era amiga da Sabrina e até fazia o cadastro no nome dela, porque eu era menor de idade e não podia comprar no meu nome”, relembra rindo. “Eu sempre gostei de vender, está no meu sangue, é amor mesmo. Com o tempo eu fui começando a ter um pouco mais de estabilidade financeira e pude começar a viajar para comprar e vender roupa. Posso dizer que eu vivo da venda há uns quatorze anos e já queria montar algo físico antes, mas tinha medo de precisar fechar. Eu e a Sabrina até tínhamos tentado outras parcerias, mas nunca dava certo, até que apareceu a Antônia. Ela estava procurando uma cabeleireira para trabalhar junto e aí eu apresentei a Sabrina e assim nos acertamos”.

Para Sabrina, o modelo de negócios também tem sido a realização de um sonho. “Eu trabalhei anos como empregada em salões de beleza e depois montei meu próprio salão, mas em casa. Eu tinha muito medo de vir para o centro pelo custo muito alto, ainda mais aqui onde estamos. Então quando surgiu a oportunidade de vir com as meninas, montar uma parceria, trabalhar com outras pessoas e até mesmo ter essa convivência do dia a dia, eu aproveitei. E está sendo ótimo. O centro é o centro. Todo mundo vem, porque é mais perto, tem mais visibilidade”, celebra.

De mulheres, para mulheres

O nome do empreendimento, Antônia Espaço Mulher, já deixa claro o público para o qual está voltado. Mas o mais interessante disso tudo é, justamente, o fato de ele ser administrado exclusivamente por mulheres. Juntas, Antônia, Lilian e Sabrina resumem um pouco da força feminina que se faz cada vez mais presente no mundo dos negócios. “Ter esse espaço mantido por mulheres e para mulheres é incrível. É uma troca de conhecimentos constante. Quando você trabalha somente com homens, o homem não se abre, ele não fala da vida dele. E, para mim, no comércio, independente do segmento, o melhor de tudo é ter essa troca de experiência entre mulheres. As mulheres conversam umas com as outras”, aponta Antônia. Ela observa que, muitas vezes, a cliente não vai para a loja com a intenção de comprar e sim de conversar e ser ouvida. “Hoje a venda é consequência, não é o objetivo principal. É a consequência de como você vai receber sua cliente. Então, para mim, hoje, como comerciante, o mais gratificante é essa troca. É algo que só o comércio te dá, ele te permite criar um elo com a sua cliente”.

Lilian complementa pontuando que, no Antônia Espaço Mulher, um grande diferencial está no atendimento. Ela garante que, lá, a prestatividade vem em primeiro lugar, sem distinções. “A gente não trata nossas clientes bem porque elas vão comprar. Se elas não comprarem, o tratamento é o mesmo. A gente tenta ouvir e conversar. Não trabalhamos com a logística forçada. Nós trabalhamos com amor”. Ainda conforme ela, a parte mais gratificante em trabalhar neste meio é lidar com a autoestima de outras mulheres, ajudando a fazer com que se sintam mais bonitas. Sabrina concorda: “Na minha área, ser cabeleireiro é mexer com tudo. Um erro seu é fatal. Então, você ajuda muito as pessoas, porque geralmente a mulher vem para o salão para se sentir feliz”. A sororidade, elas destacam, não se estende somente às clientes. Lilian, Sabrina e Antônia garantem que são muito unidas mesmo fora do mundo empresarial. “Quando uma cai, a outra está bem e oferece ajuda. A gente fica nesse equilíbrio. É isso que faz a diferença. A gente é uma âncora uma para a outra. Eu sei como é difícil, porque a mulher costuma ser muito concorrente uma com a outra, mas quando a gente tem o mesmo objetivo, não tem uma concorrência e se une simplesmente para crescer, as coisas dão certo”, Antônia pondera.

Planos para o futuro

Se pudessem escolher dois desejos para realizar, o trio faria o mesmo pedido: elas têm em comum o sonho de ampliar o negócio, com mais profissionais e em novos locais. Um deles, conforme contam, seria montar um espaço com o mesmo formato e objetivo em Santa Catarina. O outro seria aqui mesmo, em Passo Fundo, ainda na Rua Moron. “Nosso sonho seria alugar mais uma loja ao lado da nossa para ampliar o espaço, com mais umas cinco pessoas para ajudar no salão de beleza. Nós estamos abertas para essa possibilidade. Adoraríamos montar um projeto e considerar novas parcerias, então temos bastante interesse em conversar com pessoas que queiram investir nesse sentido”, destacam, deixando o convite em aberto.

 

Antônia Espaço Mulher

Rua Moron, 1342

(54) 3632-8033

Segunda a sábado, das 9h às 12h e das 13h às 19h

Gostou? Compartilhe