Mulheres no mercado literário

Seis livros para devorar no fim de semana e honrar o Dia Internacional de Não-Violência Contra a Mulher

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O trágico assassinato de três irmãs no ano de 1960, encomendado pelo então presidente da República Dominicana Rafael Trujillo, é um dos casos mais marcantes de violência contra a mulher. Conhecidas como “Las Mariposas”, Patria, Maria Teresa e Minerva Mirabal foram torturadas e assassinadas em 25 de novembro daquele ano, devido ao papel de resistência que exerciam contra o regime ditatorial imposto por Trujillo. Juntas, elas lutavam por melhores condições de vida ao povo dominicano. O episódio é tão marcante no histórico de lutas das mulheres que, desde 1999, o dia 25 de novembro é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher.

Hoje, 58 anos depois, muitas das lutas que eram defendidas pelas irmãs Mirabal tiveram resultado. Em alguns cenários, os papeis que antes eram negados às mulheres foram conquistados. Em outros, no entanto, a luta por espaços mais igualitários ainda enfrenta percalços. No mercado literário, por exemplo, as mulheres ainda são minoria e lutam para ter suas vozes levadas a sério. Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens. Para lutar contra esse índice, iniciativas que visam legitimar a voz das mulheres têm surgido, como, por exemplo, editoras voltadas exclusivamente à escrita feminina. Entretanto, mais do que criar projetos com recorte de gênero, é preciso que o público consuma o trabalho feito por mulheres.

Por isso, como forma de honrar a data e divulgar a literatura feminina, pedimos que a escritora passo-fundense e editora-chefe da Editora Desdêmona, Luciana Lhullier, indicasse seis livros escritos por mulheres e que merecem um lugarzinho na sua estante:

 

Eu sei porque o pássaro canta na gaiola

Maya Angelou. Editora Astral Cultural.

Grandioso livro de memórias, Sei porque Canta o Pássaro na Gaiola (1969) é uma poética viagem de libertação e um glorioso bater de asas num mundo opressivo. Este relato da infância e da juventude da autora, nos anos 30 e 40, devolve o olhar de uma criança sobre a violência inexplicável do mundo dos adultos e a crueldade do racismo, na procura da dignidade em tempos adversos. Do Arkansas rural às cidades da Califórnia, Maya Angelou traça neste livro um tocante retrato da comunidade negra dos Estados Unidos, durante a segregação, e de uma consciência que, incapaz de se resignar, desperta rumo à emancipação.

 

Quarto de despejo

Carolina de Jesus. Editora Ática.

O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem a este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos.

 

Mulheres, raça e classe

Angela Davis. Editora Boitempo.

Mais importante obra de Angela Davis, Mulheres, raça e classe traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe.

 

Becos da Memória

Conceição Evaristo. Editora Pallas.

Becos da memória é um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira. A autora traduz, a partir de seus muitos personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio. Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora discute, como poucos, questões profundas da sociedade brasileira.

 

Amada

Toni Morrison. Editora Companhia das Letras.

Baseado numa história real, Amada é ambientado em 1873, época em que os Estados Unidos começavam a lidar com as feridas da escravidão recém-abolida. Com estilo sinuoso, Toni Morrison constrói uma narrativa complexa, que entrelaça com maestria brutalidade e lirismo.

 

As coisas que as mulheres escrevem

“As coisas que as mulheres escrevem” é uma coletânea de contos, poemas e crônicas com lançamento previsto para março de 2019, pela Editora Desdêmona. O projeto reúne textos de escritoras de todo o Brasil e tem entre seus principais objetivos oferecer um espaço que legitime a visão de mundo das mulheres. A obra estará à venda nas livrarias de Passo Fundo e região e no site da editora.

 

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