OPINIÃO

A perfect world

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Volver a los 17 eternizou Mercedes Sosa e já tínhamos Leo Sayer e Joan Baez, já tínhamos Taiguara. Queríamos salvar o mundo e era fácil fazê-lo. Sua paz mundial era a inspiração e estava na coleção de vinis de Eduardo Azambuja. Primeiro a paz; depois o equilíbrio social, libertar o homem de suas amarras, despertar o super-homem que ele pode ser, livra-lo de suas escravizações, incluindo a escravização da fé. As referências batiam no cabeludo bonito que usava a boina preta; ele descera das montanhas para salvar Cuba do capitalismo selvagem e agora sim, seu povo era feliz; mais que isso, usando frase de Chico Buarque “a gente era obrigado a ser feliz” – João e Maria, que ele cantou em Passo Fundo ao fazer seu pit-stop e receber o prêmio Zaffari da Jornada de Literatura em 2005, pelo romance Budapeste.

Segundo Sergio Buarque, pai de Chico, no clássico Raízes do Brasil, o brasileiro é cordial, no sentido de usar o coração mais que a razão. Temos, através de boa parte da imprensa, uma condescendência alucinante pelo bandido. Marisa Raja Gabaglia, jornalista falecida em 2003, escreveu Meu Amor Bandido, contando a história de Hosmany Ramos que era cirurgião plástico e meliante; Lucio Flavio eternizou nas telas em 1977 o livro de José Louzeiro; Ronald Biggs, assaltante do trem pagador em 1963 na Inglaterra, fugiu e veio morar no Brasil até 2000, tendo sido jurado de Chacrinha. Recentemente Cesare Battisti, assassino italiano, foi condenado em seu país de origem à prisão perpétua, enquanto que os advogados Tarso Genro e Luis Roberto Barroso, sim, esse do STF, lutavam bravamente pelos seus direitos humanos. 

Boa parte da imprensa é condescendente como o criminoso; acha que há por trás de seus atos uma injustiça social. Por isso, estabelece uma hegemonia de narrativa explicitando o que levou ao desvio de conduta; além disso, compadece-se e cria empatia com o meliante. Segundo alguns, por ser pobre, por ser favelado, por ser abandonado, por ser negro, por tudo isso, tornou-se marginal e é, portanto, um injustiçado que merece cotas de acessos a tudo para que a sociedade que o oprimiu devolva a dignidade que a vida negou. Bacana, não? Eu deveria me candidatar a alguma coisa, pela esquerda, obviamente.

Ludwig Von Mises, economista e filósofo, trabalhou a praxeologia que estuda ações escolhas humanas e desmonta o pensamento da injustiça social como justificativa para os delitos. De fato, mais de 95% dos pobres são honrados e trabalhadores. Segundo Mises, desvios devem-se à falta de hombridade, à falta de caráter e os maiores assaltantes do país não são favelados e a vida economicamente lhes é favorável. Eles usam black-tie, tem carrões, mulheres bonitas e adoram circunstancialmente abraçar o povo e beijar criancinhas e velhos. No mundo perfeito (a perfect world) deveríamos ser sempre adolescentes, sem ilusões, nos tempos em que as gatinhas gostavam da gente pelo que a gente era e não pelo que a gente poderia vir a ser.

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