Inacreditável, mas verdadeiro
Até parece que voltamos à normalidade. Pelo que observo no centro de Passo Fundo, já estaríamos sob a bandeira amarela. Pelo desdém aos protocolos sanitários seria branca, quiçá incolor! Quase a maioria das pessoas circula sem as máscaras de proteção. Outra considerável parcela deixa-a no queixo, enquanto muitos optaram pelo ridículo visual do nariz de fora. Temos uma camuflada balada sistemática na Avenida Brasil. E bem no centro da cidade. Pelos gritinhos, o entusiasmo parece comemorar o fim da pandemia. Quinta-feira, sexta e sábado. É gente que chega, é gente que sai, inexplicavelmente, rompendo o silêncio da madrugada. Durante o dia, o movimento nas ruas é tão intenso que até lembra as correrias que antecedem as festas de final de ano. É gente que vai, é gente que vem. Quem não carrega sacolas está correndo ou pedalando. E não faltam entusiasmadas rodas de bate-papo onde, ironicamente, a tônica são as queixas à bandeira vermelha. É inacreditável, porém verdadeiro. Ora, enganam-se a si próprios. Mas também agridem a coletividade, colocando mais vidas em risco de contaminação e empurrando a cidade para uma bandeira preta.
Festival Delivery
Prossegue até sábado o Festival Delivery Polo Gastronômico. A interessante proposta é de empresários do setor com apoio do Sebrae. Cada cozinha participa com um prato, em iniciativa para superar a crise pandêmica. Tive a oportunidade de provar a iguaria elaborada pela Lisete, entregue pessoalmente pelo Biazi. Delícias para os afoitos pela boa mesa, movimento para quem está no outro lado do balcão.
Chatices da pandemia
Bronze - Lembram-se do ‘milagre brasileiro’? Era como o encanto de uma flauta mágica para tirar os olhares do sofrimento. Agora, já surgem ensaios na mesma tonalidade do ufanismo para sepultar as sepulturas. Isso prova que reciclamos as moscas, mas não educamos os seres humanos.
Prata - Leigo prescrever medicamentos ainda é charlatanismo?
Ouro - O troféu vai para o vírus do futebol. Não existe nada mais chato do que essa doença pela volta do futebol. Aliado ao novo coronavírus, o vírus do futebol é bem mais do que chatice. É uma criminosa irresponsabilidade.
Divina
Maravilhosa, sublime ou impecável? Simplesmente Elizeth. Ou, como disse Vinícius, a Divina. Na semana passada Elizeth Cardoso completaria 100 anos e, merecidamente, recebeu muitas homenagens. Mesmo avesso a superlativos, sempre digo que ela foi a melhor cantora brasileira em todos os tempos. Soube superar o tempo com o seu invejável registro vocal. Se, pela época em que viveu, ficou a imagem de uma senhora de antigamente, é bom passar a borracha e escrever por cima “dinâmica”. Versátil, gravou muitos gêneros; bolero, choro, samba e deu aula no samba-canção. Moderna, colocou sua afinação impecável para a primeira gravação da bossa nova. Vanguarda também na vida pessoal, superou sofrimentos, quebrou tabus e desafiou a sociedade com muita fibra. Gosto de escutar as gravações da Divina. Considero ‘Nossos Momentos’ a sua própria imagem, mas adoro a singela ‘Doce de Coco’.
Trilha sonora
Pensei em colocar aqui o seu maravilhoso cantarolar em ‘Manhã de Carnaval’. Mas o centenário exige um grande espetáculo. Foi em 1968, no Teatro João Caetano, resultando em antológico álbum duplo para o MIS. E que time! Zimbo Trio e Conjunto Época de Ouro acompanham o virtuose Jacob do Bandolim e a Divina Elizeth: Barracão.