Engana-se quem imaginar que geada é o orvalho congelado. Se você pensava assim, tranquilize-se: não está sozinho. Inclusive alguns livros/manuais antigos de meteorologia traziam impressa essa quase heresia. Geada nunca foi, não é e nem será o orvalho congelado. Orvalho congelado é simplesmente orvalho congelado. Os processos de formação desses dois fenômenos são distintos.
A geada forma-se quando a temperatura do ponto de orvalho encontra-se abaixo do ponto de congelamento da água (zero grau Celsius, para a água pura), fazendo com que o vapor d`água presente no ar passe diretamente para a fase sólida (sublimação). E o orvalho consiste na deposição de gotas de água sobre objetos que se encontram no solo ou próximo deste, via a condensação.
Condensação (formação de orvalho) e sublimação (formação de geada) não são processos iguais, embora relacionados com a mudança de estado físico da água. Estão envolvidas quantidades de energia diferentes nos dois processos. No primeiro, para cada grama de água que passa de vapor para líquido, são liberadas cerca de 600 calorias no ambiente. E, no segundo, para a mesma quantidade de matéria (um grama de água), a liberação de energia é de 680 calorias. A energia liberada na condensação, inclusive, acaba impedindo que haja um resfriamento mais intenso do ambiente. É o popular: em noites frias, quando se caminha na grama e os pés ficam molhados pelo orvalho, dificilmente se formará geada.
Em meteorologia considera-se ocorrência de geada quando há formação de gelo sobre objetos que ficam expostos durante a noite, cuja temperatura da superfície desses cai abaixo de zero grau Celsius. Vem a ser aquilo que, em agrometeorologia, pelo aspecto visual, denomina-se de geada branca. Ainda há a “geada negra”, que não é considerada nas observações meteorológicas, mas é uma adversidade conhecida no meio rural, pelos danos causados nas plantas. Nesse tipo de geada não ocorre formação de gelo. A designação corresponde à coloração adquirida pelos tecidos vegetais depois do fenômeno. Em geral: massas de ar úmido produzem geadas brancas e massas de ar seco ocasionam geadas negras.
As geadas também são caracterizadas conforme a sua origem. Por esse critério, temos: geadas de advecção (provocadas por invasões de ar frio), geadas de radiação (resfriamento das superfícies por perda de radiação de ondas longas durante a noite) e geadas mistas quando estão envolvidos os dois processos (maioria). E, conforme a época de ocorrência, tem-se, no nosso meio, as populares: geadas do cedo (outono) e geadas do tarde (primavera).
É a falta de uma regularidade cronológica que dá à geada o caráter de risco para a agricultura. Este fato obriga que sejam seguidos estudos prévios de agroclimatologia regional, que, mesmo não isentando completamente de risco a atividade, ajudam na minimização dos problemas causados por geadas não previstas. Trigo e demais cereais de inverno (cevada, triticale e aveias) no sul do Brasil ilustram bem este caso. Em alguns anos, dependendo da intensidade da geada e principalmente do estádio de desenvolvimento que se encontre a lavoura, os danos podem ser elevados.
A sensibilidade do trigo à geada começa a aumentar depois do início do emborrachamento. Atinge o seu máximo na floração e diminui após os estádios de grão em massa mole e dura. Também não se pode afirmar que geadas não causam danos em trigo, quando ocorrem antes do emborrachamento. Conforme a intensidade da geada e a sensibilidade da cultivar (nessa fase existe diferença genética bem acentuada além do processo de aclimatação das plantas antes do evento) os prejuízos podem ser grandes (“queima” de folhas, “estrangulamento” de colmos e morte de plantas). Na floração, até hoje, não se conseguiu identificar uma diferenciação genética clara entre cultivares, quanto a sensibilidade à geada. São bem conhecidos os sintomas: espigas brancas e a elevada esterilidade (com a formação de poucos grãos por espiga).
E por último, geada não cai (forma-se) e é “recomendável” esperar passar alguns dias (talvez uma semana) para que se possa ter uma ideia mais precisa de danos causados por geadas em trigo.