A política internacional depende, em muito, das relações que travam as grandes potências entre si. Essas relações e seus desdobramentos impactam diretamente na condução da política externa dos países. Quando falamos de uma nova “guerra fria” na coluna publicada aqui, em O Nacional, no dia 31/07/20, de forma alguma estávamos exagerando, pelo contrário, alertávamos os leitores sobre essa dinâmica complexa, que a cada dia irá se intensificar ainda mais. Dessa tensa relação entre os Estados Unidos e China, duas grandes potências mundiais, podemos destacar quatro importantes marcadores geopolíticos que merecem atenção redobrada, doravante: 1) as águas perigosas do Mar do Sul da China, 2) a geopolítica do 5G, 3) a inteligência internacional, 4) a diplomacia.
O Mar do Sul da China
A extensa porção marítima ao sul da China tem sido palco de incidentes importantes. Trata-se de uma das principais rotas de circulação marítima do comércio global. Ao reivindicar, de forma ilegal, todo o Mar do Sul, a China tem empreendido esforços consideráveis para criar uma marinha de longo alcance (blue navy, como prefere a literatura internacional), construindo submarinos nucleares, por exemplo. Já possui um Porta-Aviões e tecnologia própria de caças. Esse avanço chinês tem preocupado não só os países ribeirinhos do Mar do Sul da China, mas potências como os Estados Unidos, Japão e até mesmo a Austrália, visto que a China pretende ter o domínio absoluto da porção marítima (inclusive das águas internacionais), que não fazem parte do território chinês, compreendido relativamente até o limite de 200 milhas náuticas. São inúmeros os incidentes envolvendo frotas de grandes potências com as embarcações chinesas. O Mar do Sul da China é entendido por muitos especialistas como o epicentro do “conflito marítimo do século”.
A Geopolítica do 5G
O 5G (quinta geração da internet móvel) é a tecnologia que irá trazer maior velocidade de conexão, impreterível para uma série de aplicações como: veículos autômatos, automação das cadeias produtivas (indústria 4.0), inteligência artificial, cidades inteligentes, entre outras. Há no mundo uma divisão muito clara entre dois ecossistemas tecnológicos: o americano e o chinês. No seu projeto ambicioso, dominar as redes mundiais do 5G para a China, é um dos seus objetivos geopolíticos prioritários. Americanos e chineses estão travando uma verdadeira disputa nesse campo, que envolve os governos e gigantes da tecnologia. Alguns especialistas americanos falam em uma “Tech Cold War”, ou seja, uma guerra fria no campo tecnológico.
A inteligência internacional
Nesse campo tomam destaque eventos recentes, inclusive relacionados ao Covid-19. Os Estados Unidos acusaram publicamente a China por invasão nas pesquisas americanas envolvendo a nova vacina para o vírus. Outra recente medida nesse campo, a nosso ver, foi a decisão do Presidente americano ao determinar o retorno de estudantes estrangeiros que não estivessem em modalidade presencial de ensino, no território americano. Lembramos que a maior porção de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos é, justamente, de chineses. A decisão restou sem efeito, mas o sinal de Trump foi claro: via ali, uma das fontes chinesas da espionagem internacional.
A crise diplomática
Acentuou-se recentemente. Os Estados Unidos determinaram o encerramento das atividades do Consulado chinês em Houston, no Texas (verdadeiro hub tecnológico americano). A acusação americana estava dirigida às questões de propriedade intelectual e privacidade dos americanos. A reação chinesa veio logo, com o fechamento do consulado americano na cidade de Chengdu, na China. Mais um passo na tensa relação sino-americana.