OPINIÃO

Terra de Cabo Neves

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Ainda que não seja a mesma coisa dizer que Manoel José das Neves, o Cabo Neves, foi um cabo muito respeitado da nossa briosa Brigada Militar, que morava na Vila Alice, como supõem alguns moradores do local, em função da Travessa Cabo Neves, que o homenageia naquela região da cidade, ou, como escreveu um “pretenso” historiador, que foi um militar designado, na época imperial, para comandar uma escolta de seis praças e assegurar a integridade territorial de Passo Fundo, também não se pode afirmar, como reza a boa análise, que são diferentes: ambas são asneiras (bullshit) ditas ou escritas sem o mínimo de crítica historiográfica.

Foi para sanar esse mal que são acometidos muitos passo-fundenses e prestar a devida reverência ao fundador de Passo Fundo, que Ney Eduardo Possapp d`Avila, o nosso historiador local de escol, dedicou 25 anos de estudo para resgatar a história de Manoel José das Neves, o popular Cabo Neves, reunindo essa pesquisa no livro “Cabo Neves: fundador da cidade de Passo Fundo”.

Não são muitas e nem precisas as informações sobre Manoel José das Neves. Nem dos seus restos mortais sabe-se o destino. Todavia, os dados que Ney d`Avila conseguiu recolher, apesar das muitas suposições, são mais que suficientes para desmontar boa parte da mitografia que impera sobre a  fundação de Passo Fundo. Manoel José das Neves, nascido em São José dos Pinhais, Comarca de Curitiba, Capitania de São Paulo, por volta de 1790, foi um miliciano (tropa de 2ª linha do Exército), que integrava o Regimento de Cavalaria Ligeira, sediado em São Borja. Na Guerra Cisplatina acabou ferido no combate do Rincão das Galinhas, em 24 de setembro de 1825. Recolhido ao quartel de São Borja, depois de recuperado dos ferimentos, foi promovido a Cabo e reformado, sendo dispensado do serviço militar. Foi assim que, em dezembro de 1827, acompanhado da esposa Reginalda da Silva e demais familiares, agregados, escravos e alguma gado, chegou e arranchou-se à beira do caminho das tropas (atual Av. Brasil) junto à nascente do Goiexim, onde hoje fica o Chafariz da Mãe Preta (homenagem à escrava Mariana, ama de leite dos filhos do Cabo Neves). Depois construiu a sua morada no alto da coxilha, provavelmente no hoje leito da Rua Paissandu, entre as ruas Teixeira Soares e XV de Novembro, nas cercanias da Praça Tamandaré. 

A confusão sobre o fundador de Passo Fundo, Cabo Neves x Fagundes dos Reis, Ney d`Avila atribuiu ao Instituto Histórico de Passo Fundo, que, em 1957, às vésperas do 1º Centenário da Emancipação Político-administrativa do Município, arbitrariamente, escolheu um capitão do exército para ocupar o posto de fundador, sem assinalar se era a cidade ou o município, designando simplesmente: “Passo Fundo, terra de Fagundes dos Reis”.

Ney Eduardo Possapp d`Avila insiste que, nessa escolha do fundador de Passo Fundo, contra Manoel José das Neves pesaram três pecados: ser um reles Cabo de Milícias, haver combatidos os rebeldes farroupilhas e ser semianalfabeto. E a favor de Fagundes dos Reis, sobressaíram-se os predicados: Capitão do Exército, homem letrado e Maçom e que havia tido simpatia pelos farroupilhas. E mais, que Manoel José das Neves merece o título de Fundador da Cidade de Passo Fundo, por, pelo menos, três razões: foi o primeiro morador, recebeu a concessão de terra onde surgiu a cidade (em 1831), além de ter doado à Igreja Católica parte do terreno recebido, não pela devoção religiosa, mas para obedecer a legislação da época e oficializar a incipiente povoação.

Manoel José das Neves, o Cabo Neves, foi homenageado pela Câmara Municipal de Vereadores, em 1965, com a denominação de uma viela na Vila Alice (entre a Vila Santa Maria e o bairro São Luiz Gonzaga), e, em 2015, com um monumento na Praça Itália, em iniciativa do Cavaliere Aldo Alessandri. É pouco! Por isso, Ney d`Avila sugeriu que seria justo denominar de PARQUE CABO NEVES a área do antigo quartel do Exército. 

Post Scriptum: 28 de janeiro e 7 de agosto são as duas datas simbólicas de Passo Fundo. A primeira marca a elevação à categoria de Vila, pela emancipação de Cruz Alta a 28 de janeiro de 1857. E a segunda assinala a instalação da Câmara Vereadores em 7 de agosto de 1857.

Gostou? Compartilhe