Globalização da desgraça
Enquanto chegavam as primeiras fotografias sobre a pandemia na China, ainda não compreendíamos que aquilo era apenas o estopim de uma contaminação que também nos atingiria. Aquelas imagens, mostrando as ruas tomadas por pessoas usando máscaras, pareciam surreais e nos remetiam aos filmes de ficção científica. Infelizmente, naquele momento não havia a mínima preocupação com o sofrimento alheio. Era algo distante, lá nos cafundós da distante Ásia. Mas, como a Terra nunca foi plana, giramos todos numa mesma esfera.
Hoje, estamos todos com as máscaras nos rostos. Vergonhosamente, nem todos! É óbvio que os chineses foram muito mais disciplinados diante das novas necessidades. Mas, então, por que será que aquelas imagens do povo chinês utilizando máscaras e respeitando distanciamentos não nos comoveram? Ora, mesmo sem respeito ao sofrimento alheio, poderiam servir como um aviso. Mas, sequer isso enxergamos. De olho em nosso umbigo não vemos quem nos cerca. Muito menos aquilo que acontece lá longe.
Ainda não existe um pensamento globalizado. Diante de uma pandemia mundial também é necessária a globalização. Sim, é o momento para globalizar a desgraça. Sem procurar chifres em cabeça de cavalo, chega de bajular o próprio umbigo ou colocar defeito no nariz dos vizinhos. O problema é nosso. É mundial. E todos correm o risco de perder a vida.
Festa da pandemia
Continua bombando a baladinha clandestina no centro de Passo Fundo. Isso em plena pandemia. A barulheira dos fins semana agora também tem sessões dominicais. E, nas noites em que a fiscalização está nas ruas, apagam luzem e até diminuem o volume do som. Ora, então estão cientes da ilegalidade daquilo que praticam! A clientela já chega sem máscaras e em clima de festa. Bom movimento também para os motoboys da tele-entrega, que sequer necessitam carregar pesadas sacolas. É a pandemia em festa em plena Avenida Brasil.
Em má companhia
Ando falando sozinho. Sabe, nesse indispensável isolamento social a gente fica sem interlocutor. Imaginem isso para um velho locutor de rádio? Então, especialmente na cozinha, já converso comigo mesmo. O papo está rolando. Cada passo no preparo de um prato tem direito à explicação ou crítica. Relato o fato e mudo a entonação para um comentário. Pelas circunstâncias, até considerava isso normal. Pior. Até já estou gostando de conversar comigo mesmo. Isso é preocupante, pois não me considero uma companhia das mais recomendáveis.
Iracélio
A pandemia anda mexendo com a veia filosófica do Iracélio, que ataca do futebol à sociologia. “Vileira não é aquela gente que nasce ou mora na vila. Vileira mesmo é a pessoa com a cabeça da periferia”. Tem lógica, Iracélio. Tem lógica.
Pachecônica
Sábado, tem mais uma edição da já famosa Feijoada Pachecônica assinada pelo nosso Bardo Ricardo Pacheco. E, desta vez, somente com matéria prima orgânica. Em tempo de pandemia será no sistema pegue e leve. Ou, pela ordem, reserve, pegue, pague e leve.
Edgar Schmidt
Houve época em que ligávamos o rádio e as opções eram poucas. Mesmo assim, lá pelos aos anos 1970, as ondas médias e curtas da Rádio Guaíba modulavam uma programação de excelente qualidade. Até o espaço esportivo era embalado pelo bom gosto. Sem fanatismos e livres do insuportável futebolês, as palavras tinham a tonalidade de vozes bonitas e flutuavam em dicções perfeitas. Ah, antes da jornada esportiva, a música de Milton Nascimento carimbava as tardes de domingo. Era a abertura de ‘Preliminar – O Som do Futebol’, vanguarda da Guaíba, plagiada, copiada ou imitada até hoje. O programa foi criado por Edgar Schmidt que, na segunda-feira, saiu do ar levado pela Covid. O tempo vai apagando as boas vozes do rádio. Hoje, é claro, as opções são muitas. Mas as chances para uma boa escolha são mínimas. Quantidade nunca será qualidade.
Trilha sonora
Já que por aqui a bola não para nem mesmo na pandemia, a trilha de abertura do Preliminar na Rádio Guaíba. Milton Nascimento – Aqui É o País do Futebol