OPINIÃO

Teclando - 26/08/2020

Passagem pelo horizonte

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Passagem pelo horizonte

É difícil escrever. Mais difícil ainda é deixar de escrever. Prefiro dar espaço ao raciocínio lógico e quase palpável, mas a invisibilidade do emocional é mais poderosa. Ora, então me restaria a possibilidade de uma fuga para evitar esse choque da racionalidade com o sentimento afetivo. Mas também seria muita covardia não abordar aquilo que sentimos nesse momento. Já que buscamos a razão para tudo na vida, por que não encarar a passagem do amigo Edu? Então não falo apenas com a boca, pois o coração sempre fala mais alto. O momento é para reverenciar aquilo que foi vivido. Em mais de quatro décadas de constante convivência não faltam histórias e mais histórias. Publicáveis e impublicáveis! Conversas sem fim das madrugadas nos dois lados da Independência.

Em tantas trocas de calendários, muitos dos antigos interlocutores já não batem mais um papo com a gente. As mesas passam por um constante revezamento, em natural atualização da vida. Nessa dança das cadeiras, o horizonte registra quem está indo e quem está chegando. Ora, se celebramos as vidas que aterrissam, por que não festejar também aquelas que decolam? O pensamento coletivo de Passo Fundo foi exatamente este. Tomada pela comoção, a cidade soube homenagear uma vida que se foi. E, assim, tenho certeza de que o sorriso do nosso Tio Edu tomou conta do horizonte.

Branco

A praga que assola a humanidade não nos dá tréguas. Sequer há um folego entre os soluços e já estamos nos despedindo de mais um amigo. A semana começou com a perda do José Carlos Branco, também conhecido como o Branco do Banco do Brasil ou Ninho para os mais íntimos. Grande parceiro desde os tempos de Frangos e Fritas, época em que a turma do Cesesc chegava para jantar na madrugada. Amigo de incursões pelo litoral de Santa Catarina, com quem dividi o prazer da boa mesa e os cotovelos nos balcões da vida. Ele se foi, mas nos deixou muitas e maravilhosas lembranças.

Caminhões

Com a obra próxima da conclusão, a Avenida Brasil está de cara nova. Um trabalho de execução complexa, no centro de Passo Fundo, que significa muito em termos de melhorias estruturais. O que fica por baixo a gente acaba esquecendo, então a vitrine é o novo tapete preto que permite um rodar silencioso. E um novo visual, é claro. Agora, em cima dessa novíssima e convidativa pavimentação, observo que aumentou o volume e o tamanho dos caminhões que atravessam a cidade. São carretas com mais de cinco eixos, carga viva e até o transporte suspeito de enormes toras que passaram muito longe do reflorestamento. Nosso asfalto não merece essa conivência.

Desafio ao tempo

Bons ouvidos necessitam de boas cabeças. E bons ouvidos são exigentes e não têm preconceitos com o tempo. A galerinha de hoje curte muito a música de antigamente. Mas isso não é privilégio dessas novas gerações. Também vivi uma geração nostálgica lá pelos anos 1970. Talvez por conta da censura, que sufocava o nosso livre-arbítrio que era simplesmente o desejo de desejar. Então, encontrávamos no passado uma reposição de sentimentos e anseios. Era chique curtir a dor-de-cotovelo de Lupicínio ou Dolores Duran. Meio século depois, observo novos arqueólogos do vinil curtindo as músicas dos anos 1970. A arte é sempre um desafio ao tempo. E, não importa a época, som na caixa!

Iracélio

Discretamente, Iracélio esteve no Oásis esta semana. Depois de uns minutos em silêncio largou essa: “Se tem brique, comigo é tudo cash. Não aceito mais nem depósito em conta”.

Trilha sonora

Da dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim, regravada há 30 anos por Gal Costa - Alguém me Disse


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