OPINIÃO

O segundo passo-fundense na UAPPL – Final

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Depois de sancionada a Lei da Anistia (Lei n.º 6683), de 28 de agosto de 1979, Ney Eduardo Possapp d`Avila, que na ocasião vivia em Portugal, começou a ensaiar a volta ao Brasil. Vieram as visitas circunstanciais e os retornos à Europa. Até que, em novembro de 1982, houve a mudança para Passo Fundo. E assim, após o ingresso no curso de História da Universidade de Passo Fundo (UPF), em 1985, com licenciatura obtida, em 1988; e grau de mestre em História, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1993, começou, de fato, a trajetória do historiador e professor Ney d`Avila.

Seria um novo Ney d`Avila? A militância politica da juventude teria sido deixada para trás? Nem tanto, pois, pelo MDB, engajou-se na campanha das “Diretas Já” (1983-1984) e, em 1985, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e nas suas fileiras permaneceria, até a autodissolução do “partidão”, em 1992. A imagem do historiador e professor, do intelectual público, do membro e vice-presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, foi sendo consolidada, a partir dos anos 1990.

A obra seminal de Ney d`Avila foi a dissertação de mestrado pela UFSC, de 1993, intitulada “O Historiador Passo-fundense Antonino Xavier”. O primeiro trabalho acadêmico de análise da monumental obra deixada pelo historiador Francisco Antonino Xavier e Oliveira. Fernando Miranda, presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo, entende que essa dissertação valorizou sobremaneira a história local, numa época em que ela era considerada menor ou, até mesmo, insignificante e descolada da grande história geral. Despertou, nos estudantes de história e nos habitantes da região, o sentimento de valorização do local e o fortalecimento da identidade regional.

O primeiro livro de Ney d`Avila, “Passo Fundo – Terra de Passagem”, seria publicado em 1996. A obra, no entendimento do historiador Tau Golin, levantou uma tese importante, que é o uso da região como terra de passagem. Ou seja, quando a exploração não tem o compromisso da construção de uma sociedade de destino. E tal qual o efeito causado pela dissertação sobre Antonino Xavier, o novo livro também abriu caminhos para outros estudos, que foram realizados para divergir ou para corroborar a tese defendida por Ney d`Avila.

José Ernani de Almeida, professor, enaltece o resgate da memória histórica feito por Ney d`Avila. Não só de Passo Fundo, mas de toda a região. O papel que Ney d`Avila desempenhou para o melhor entendimento da história de Carazinho, Getúlio Vargas, Ernestina e Lagoa Vermelha, por exemplo, não pode ser ignorado. 

Ney d`Avila escreveu, entre outros, os livros Caixeral Campestre Tênis Clube (2001), Um olhar sobre a legalidade (2011), Degolas e degoladores no RS (2012), Recortes da história de Passo Fundo (2014) e Cabo Neves: Fundador da cidade de Passo Fundo (2015); além vários ensaios e textos dispersos.

Aldo Battisti e Juarez Azevedo mantêm laços de amizade e convivência fraterna com Ney d`Avila desde os anos 1950. Foram colegas no Colégio Conceição e lembram que, nas arcadas do educandário Marista, Ney era conhecido como Planchet e Profeta. Na visão deles, trata-se de um intelectual orgânico e independente. E que as contribuições dadas por Ney d`Avila à história de Passo Fundo, desvelando fatos e personagens que, até então, oficialmente, eram ocultos, sobressaem-se.

Em 2018, Ney d`Avila foi acometido por problemas de saúde. Sobrevieram internações hospitalares e passagens por casas de repouso. Até que, em maio de 2019, após desfeita a moradia da Av. Caravelle, 456, e realizada a doação do acervo bibliográfico, foi de mudança para São Paulo. Na capital paulista, mais próximo da filha, a moscovita Jana Eleonôra, e do neto paulistano, Murilo Täyti, busca recuperação.

Tomara que Ney d´Avila, com a saúde restabelecida, possa voltar a Passo Fundo e lançar o livro que deixou pronto: “Antônio José da Silva Loureiro - Barão de Passo Fundo”. Uma obra que acrescenta fatos novos à versão oficial da história do município. Ou, quem sabe, terminar o livro sobre a história do Rio Passo Fundo, que ele estava escrevendo em colaboração com o professor João Grando. Oxalá!

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