OPINIÃO

Desmonte da Fundação Palmares

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O diretor da Fundação Cultural Palmares, Sergio Sampaio, volta a exercer sua função de escrúpulo na sandália do movimento negro anti-racista. O atrevimento sub-reptício desta nova figura nomeada para intervir no sagrado movimento étnico e cultural de Palmares, conta com a confiança do Palácio do Planalto. A passividade de instituições e até das eminências culturais éticas em relação à ofensiva ao patrimônio da luta igualitária secular é muito estranha. Lembrando que a afirmação inaugural de Sérgio causou espécie entre algumas instituições democráticas quando ele chamou o movimento de “escória maldita”. Sua nomeação ao cargo chegou a estar suspensa por medida judicial, em decisão que foi mudada em segunda instância. Assim, a malsinada nomeação foi mantida. A reiteração no cargo demonstra que o palácio presidencial afirma sua conivência com a esdrúxula manifestação. No início deste mês, Sergio Sampaio volta a atacar afirmando que não será oferecido suporte à celebração da Consciência Negra. É ofensa à luta democrática, e visa o desmonte da Fundação Palmares. 

Não é apenas suspeita, mas a orientação de desmantelar instituições legítimas tem sido abrangente e reiterada com intenção de enfraquecer movimentos libertários. Trata-se de atitude autocrática reducionista muito cruel no necessário cotejo dos ideais de justiça social. Agora surge novo disparate, com a ação proposta por membro da Defensoria Pública, criminalizando a abertura de espaço de empregabilidade a descendentes africanos, frente às dificuldades da discriminação por causa da cor da pele. Felizmente a própria instituição gerou movimento de repúdio e medidas judiciais contra o despropósito. O Supremo já recomendou ações propositivas de equilíbrio social de iniciativa da sociedade civil, numa interpretação constitucional. 


Retratos

Os movimentos igualitários ao longo dos últimos anos têm atuado em prol da versão histórica mais justa em relação aos valores humanos, diante da maior catástrofe humana no período de escravidão brasileira. Nem se trata de reparação deste período cruento irreparável na sua perversidade de fato. Exemplo de adequação cultural mínima, por exemplo, a foto do maior escritor brasileiro, Machado de Assis, empalidecida na versão do tempo, volta à coloração negra. Rebouças e outros gênios culturais nacionais voltam a ser reconhecidos pelo esplendor de suas influências afirmando a negritude. Os lanceiros negros, verdadeiros heróis guerreiros farrapos retratados na discriminação feroz, sem cavalos, sem botas e sem armas de foco, são revelados à história pelos valores extremos na luta legítima por liberdade. A importância dos filhos de Agar, na ilustração artística da Santa Ceia que produziu Leonardo da Vinci, certamente merece crítica pela conotação da alvura. Há versões na arte contemporânea, especialmente no cinema, que apresentam um Cristo moreno. 


Grandes oradores

A história recente registra um tempo em que a mensagem era propagada ao público de modo direto. Esta forma de comunicação ainda tem grande importância, embora modificada pela predominância dos meios virtuais. Em Passo Fundo tivemos eloqüentes figuras de auditórios públicos, alguns falecidos, outros ainda vibrantes e indispensáveis na expressão. Ousamos, na indigência de maior precisão de pesquisa apropriada, mencionar alguns nomes que nos encantaram pela capacidade oratória. No nosso modesto juízo, o Doutor Carlos Galves foi o grande orador dos últimos tempos, sintetizando o pensador, advogado e professor, e indefectível tribuno em eventos. Na casa de meus pais conheci o deputado Daniel Dipp, em Santa Cecília, empolgando público inédito para o potencial da localidade. Em nossa cidade ouvia Dom Cláudio Colling, Pe. Paulo Jacques, reverendo Wiliam Schisler Filho, José Gomes, Luiz Serraglio, Humberto Lucas, religiosos de enorme capacidade. Marcaram presença também os clérigos Alcides Guareschi e Eli Benincá. No jornalismo citamos Múcio de Castro e Meirelles Duarte. Dr. Celso da Cunha Fiori, e o grande orador do Tribunal do Júri - Celso Busato. Dr. Verdi de Cesaro, O promotor e professor Ernani Pereira Frack, Dr. Alcione Niederauer Correa, Nei Menna Barreto, Juarez Dihel e Luís Juarez Nogueira de Azevedo, e Jorge Bandarra. A saudosa professora Delma Rozendo Gehen, e hoje a Professora Drª Tania Rosing, presença palpitante na inovação cultural. Augusto Trein e Romeu Martinelli abriram os tempos modernos da tribuna política. Na Câmara de Vereadores, o debate em grande estilo registra a participação de Lourenço Pires de Oliveira e Argeu Rigo Santarém. Outros Tantos nomes deveriam ser citados, de anos passados e dos dias de hoje. Por apreciar a capacidade de persuasão e a arte de falar em público, faço a esta, menção que certamente pode ser melhorada sobre nossos tribunos.  

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