OPINIÃO

A inovação e o futuro da agricultura

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O futuro da agricultura depende da inovação. Eis uma afirmação que pode ser encontrada com relativa facilidade, mas que, na maioria das vezes que é posta, não significa, absolutamente, nada. Especialmente, quando olhamos para o futuro da agricultura com os nossos olhos cansados e viciados pelo presente que nos rodeia ou, na melhor das hipóteses, usando lentes de pouco alcance. Não é suficiente acharmos que a inovação que vamos precisar para alimentar, com mais equidade, o mundo restringe-se à criação de novas variedades de plantas e raças de animais mais produtivas, melhores práticas de manejo de cultivos e zootécnicas e tantas outras desse mesmo gênero de alcance meramente produtivista. Mesmo que se leve em consideração a possibilidade de mudanças radicais nas dietas alimentares das novas gerações e se vislumbre a redução acentuada do desperdício de alimentos no mundo.

A inovação na agricultura não prescinde de um olhar mais apurado no sistema mundial de alimentação e qual o caminho que seus diferentes segmentos estão tomando ou podem tomar. Sim, a inovação tecnológica permeia desde a produção de alimentos (que a vasta maioria das pessoas olha apenas para dentro das propriedades rurais), passa pela indústria de processamento, pelo setor de embalagens, pelos canais de distribuição até chegar ao consumidor final e vai além, com o tratamento dos rejeitos e resíduos de alimentos e a preocupação com a redução de desperdícios.

Há diversas tecnologias, mais ou menos avançadas, ora em desenvolvimento nas organizações, privadas ou públicas, voltadas aos diferentes segmentos do sistema mundial de alimentação e que poderão, um dia, se materializar como inovações. Estamos nos referindo a tecnologias prontas (ou quase) que, efetivamente, podem causar impacto no sistema mundial de alimentação. Mas, eis uma questão relevante, que, não raro, é ignorada por muitos que se manifestam sobre o assunto: uma tecnologia por ela mesma não muda nada. O poder de transformação de uma tecnologia depende dos contextos econômicos e/ou políticos do ambiente de inovação que vai ser inserida. São muitos os atores relevantes interessados. O mero desenvolvimento de uma tecnologia (e demonstração de vantagens) não é garantia de aceitação social, especialmente daquelas relacionadas com o sistema mundial de alimentação.

Há mais coisas em jogo do que meramente preço e produtividade, no que tange ao ambiente de inovação tecnológica para o sistema mundial de alimentação. A regulamentação exerce muito poder (e poderá exercer mais). A construção de confiança e aceitação da população para o uso de uma dada tecnologia pode ser morosa. A preocupação com a ética na produção de alimentos não pode mais ser ignorada. Um olhar atento nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e no Acordo de Paris poderá significar muito para os novos produtos e os novos negócios.

Indiscutivelmente, vamos precisar de inovação tecnológica e de “inovação humana”, ao se considerar as potencias mudanças do sistema mundial de alimentação que estão por vir. Coisas como: “carne” artificial; embalagens inteligentes, embalagens biodegradáveis, nano pesticidas, nutrição personalizada, dietas flex, agricultura vertical, agricultura digital, edição de genes, reconfiguração do processo de fotossíntese, criação de novas espécies fixadoras de nitrogênio, etc.

Que tipo de inovação tecnológica fará a diferença na agricultura e quais, efetivamente, os produtores rurais poderão contar em prazos relativamente curtos ou já podem contar? Entre as chamadas inovações tecnológicas, alheias ao reino da imaginação ou da escala de prontidão para uso, que podem trazer mudanças radicais em relação ao que se conhece, eu destacaria o papel que a agricultura digital vai cada vez mais exercer no negocio agrícola mundial.

Aos interessados na agricultura brasileira, eu me permito recomendar o excelente livro do Professor Elmar Luiz Floss: “Produção de Alimentos – A nobre Missão da Agricultura”. Boa leitura!

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