Com a emergência do Covid-19 no início deste ano, os líderes internacionais foram pegos de surpresa. Logo no início da crise, era complexo dimensionar como o vírus iria impactar diretamente a forma de se fazer a política externa. Os efeitos foram rápidos e os primeiros sinais criaram uma ruptura em uma das mais importantes características da globalização: o fluxo físico de pessoas, com a interrupção dos voos internacionais. Logo, os efeitos também se deslocaram na forma de se fazer política internacional. Os principais eventos internacionais foram transferidos às plataformas digitais e as viagens dos líderes internacionais praticamente reduziram a zero. Restou a cada líder gerenciar a política externa a partir dessas conjunturas impostas pelo coronavírus. Nesse cenário, quais foram as principais ênfases da política externa/interna brasileira, no ano?
A relação com os EUA
A relação do Brasil com os EUA é histórica e bem assentada, não sendo um governo, seja americano ou brasileiro, capaz de destruir as balizas e os fundamentos. Todavia, dada a ênfase significativa que o governo Bolsonaro inclinou-se ao Trump como pessoa e projeto ideológico e não à relação institucional e diplomática, tem desfecho incerto com a ascensão de Biden ao poder. Ocorre que Trump fez uma promessa central aos objetivos da política externa de Bolsonaro, a possível entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com Biden no poder, o apoio resta incógnito, bem como as negociações do acordo de livre comércio encabeçadas por Trump e Bolsonaro nos últimos meses.
Gestão da crise do Covid-19
Ao espelhar-se demasiadamente nos discursos e ações de Trump, que minimizavam o impacto do coronavírus no início do ano, a questão não foi dimensionada corretamente em nosso país, que possui dimensão continental e uma série de variáveis complexas. O Brasil parece ter demorado nas medidas restritivas aos voos internacionais, se comparado com seus países vizinhos e do hemisfério sul. O tratamento inicial dado ao Covid estava longe daquele defendido pela OCDE (políticas claras de testagem massiva e de um distanciamento estratégico para evitar a transmissão). Se um dos objetivos centrais da política externa de Bolsonaro é tornar-se membro da OCDE, no mínimo poderia haver mais conexão entre o que apregoa a organização e as políticas públicas que foram adotadas no Brasil.
A imagem internacional
Certamente, um dos aspectos que mais influenciará na imagem dos líderes internacionais será a forma como administraram a crise do coronavírus, o que irá se aprofundar nos próximos meses, principalmente pela gestão e distribuição das vacinas. A vacina, como ressaltamos na coluna da semana passada, é o principal marcador que trará novamente o nível relativo de confiança entre os agentes econômicos. As principais lideranças mundiais já buscam organizar os seus procedimentos internos com a gestão das vacinas.