Os primeiros casos da Covid-19 registrados no dia oito de dezembro de 2019 em Wuhan/China foram à ponta do iceberg que modificou o cotidiano da maior parte da humanidade. Os cientistas identificaram o vírus em três semanas, e incorporaram o decimal do ano a sua sigla. Da notificação a Organização Mundial da Saúde (OMS) no penúltimo dia do ano de 2019 até o tempo presente, os efeitos nefastos da pandemia e o triste número de mortes, são por demais conhecidos. O empenho dos cientistas que integram as equipes de diferentes laboratórios superaram as expectativas e as campanhas de vacinação estão em curso em diversos países. E enquanto ela não chega ao Brasil maravilha o melhor é remediar - tornar mais suportável ou aceitável; atenuar, minorar. E manter todas as medidas de prevenção e cuidados. Como nos anos anteriores compartilho a relação e a sinopse de alguns livros lidos neste ano. Dois deles foram releituras: Clarice, e Maldita Guerra. O primeiro por 2020 ter marcado o centenário de nascimento da autora brasileira mais lida no mundo, e o segundo, pelos 150 anos do fim da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Além da leitura e de longas horas de filmes e documentários disponíveis nas plataformas de streaming, os cursos on-line se incorporaram ao cotidiano. Promovido pela ANPUH/RS e o PPG da Unisinos, o curso “História e Memória da Guerra Civil Farroupilha” permitiu aprofundar a temática e garantiu o convívio com colegas de profissão. O mesmo se deu com o Ciclo de Palestras: Mídias e História: um Patrimônio Cultural, realizado pela URCAMP E ainda com o 1º Ciclo de palestras online sobre a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, do PPG em História da UPF.
Desejo a todos um FELIZ NATAL!
MENDES, Oswaldo. Bendito Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos. São Paulo: Leya, 2010.
A biografia assinada pelo jornalista Oswaldo Mendes, homenageia o amigo e dramaturgo brasileiro Plínio Marcos. O autor revela a cada capitulo a evolução do personagem. A narrativa linear faz com que o leitor identifique a época do que está sendo narrado, permitindo compreende as motivações do grande dramaturgo na produção de sua monumental obra. A produção de suas peças ocorreu durante o período do regime militar tendo como pano de fundo a realidade social, com ênfase no cotidiano dos marginalizados pelo sistema. Navalha na carne, O abajur lilás e Dois perdidos numa noite suja fazem parte da herança deixada por Plínio Marcos, falecido em 29 de novembro de 1999 aos 65 anos.
SANTOS, Luís Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Apontada pela crítica como uma biografia inovadora e minuciosa, Luís Cláudio Vilafane G. Santos desvela a vida do mais admirado entre os homens públicos no período que antecede a queda da Monarquia e as primeiras décadas da República. José Maria da Silva Paranhos Júnior foi advogado, diplomata, geógrafo, professor, jornalista e historiador brasileiro. Graças ao Patrono da Diplomacia, o Brasil manteve boa parte do território de SC em litígio contra a Argentina, conhecida como a questão de Palmas. Foi o responsável pelo tratado de Petrópolis, que pôs fim ao conflito entre Brasil e Bolívia em relação ao território do Acre.
LEÃO, Danuza. Quase tudo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Jornalista, escritora e ex. modelo, Danuza Leão é irmã da cantora Nara Leão. Aos dezenove anos foi a primeira modelo brasileira a desfilar no exterior, e aos 20, casou com o jornalista Samuel Wainer, fundador do extinto jornal Ultima Na obra revela também os outros dois casamentos, com o compositor e cronista Antônio Maria, e o jornalista Renato Machado. Colunista do jornal Folha de S. Paulo, lançou em 1992 o livro Na Sala com Danuza, sucesso editorial. Também escreveu Crônicas para Guardar, As Aparências Enganam Quase Tudo, entre outros. Algumas frases de Danuza Leão: "Perguntar a idade de mulher é crime. O pior inimigo é o falso amigo. O grande segredo é conhecer seus limites.”.
DORATIOTO, Francisco. São Paulo, Maldita Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Fruto de quinze anos de pesquisas em arquivos e bibliotecas Francisco Doratioto, graduado em história pela USP e doutor em história das relações internacionais pela Unb, explica o início do conflito através do processo histórico regional, rejeitando a interpretação de que o imperialismo inglês seria o responsável pelo desencadear da luta. A obra revela o duro cotidiano das tropas aliadas e mostra toda a dinâmica da guerra, reavaliando a atuação de chefes militares como Caxias, Tamandaré e Mitre. A Guerra do Paraguai (1864 – 1870) foi um marco na história da nação guarani e dos três integrantes da tríplice aliança. Lançado em 2002 Maldita Guerra apresenta uma nova abordagem sobre o tema que neste ano de 2020 foi objeto de seminários e congressos.
MOSER, Benjamim. Clarice. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Lançado em 2009 o livro de Benjamin Moser consagrou a escritora ucraniana naturalizada brasileira no exterior. Autora de contos, ensaios e romances, como A hora da estrela, A paixão segundo G.H., Água Viva, e de peças, dentre as quais Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector é a autora brasileira mais traduzida no mundo. Judia, a escritora trabalhou para jornais e revista do eixo Rio-São Paulo. Casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, viveu com o marido e filho em Nápoles, nos anos finais da segunda Guerra Mundial. A trajetória dos 57 anos de vida de Clarice, que teve dois filhos, Pedro e Paulo, o último afilhado de Érico e Mafalda Veríssimo, colega de seu marido no Itamaraty, é esmiuçado nas 554 páginas da obra.
MOSER, Benjamim. Sontag. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Sucesso editorial, o novo livro de Benjamin Moser lançado este ano foi vencedor do Prêmio Pulitzer de Não Ficção na Categoria biografia. Apontado pela crítica como o retrato definitivo de Susan Sontag, uma das intelectuais mais importantes do século passado. A escrita da autora norte-americana, seu pensamento radical, seu ativismo público e sua vida privada pouco conhecida são desvelados pelo mesmo autor de Clarice. A biografada representa como ninguém o século XX americano. O trabalho sobre o qual a reputação de Suzan contribuiu é analisado pelo autor, que explora a insegurança e as angustias por trás da personagem, que deixou seus arquivos privados, fonte primária para a produção do livro.
ARAMBURU, Fernando. Pátria. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
Fenômeno editorial espanhol, com mais de um milhão de exemplares vendidos em sua língua original, narra a história de duas famílias separadas pela violência do grupo separatista ETA. A narrativa de Fernando Aramburu explora as marcas do luto dos familiares das vítimas e do sofrimento dos militantes, que moram numa mesma vila, manipulados, perseguidos, presos e torturados. Sem heróis nem bandidos, o autor revela as dificuldades de se superar um trauma causado pelo fanatismo e pela violência política.
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A Guerra Não Tem Rosto de Mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
O livro de Svetlana Aleksiévitch dá voz a mulheres que lutaram no Exército Vermelho durante a 2ª Guerra Mundial. A obra revela uma nova história das guerras, que costuma ser contada sob o ponto de vista do gênero masculino. Svetlana reconstrói neste livro absolutamente apaixonante e forte a bravura de mulheres das mais diferentes regiões da União Soviética e que estiveram tanto na linha de frente como na retaguarda. Grande parte das mais de meio milhão de mulheres se alistou como voluntárias, atuando como enfermeiras, médicas, franco-atiradoras, cozinheiras, serviço de comunicação, intendência, entre outros. .
MELO, Maria Tereza Chaves. A República Consentida. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
A República consentida revela a crise de direção do final do Império. Fica evidente como se instalou a República no Brasil e a herança social, econômica e política, fruto de mais de três séculos do colonialismo e quase sete décadas do regime monárquico.
SCHWARCZ, Lilia Moriz. (org.). A Abertura para o Mundo 1880-1930. São Paulo, Objetiva, 2007.
O terceiro volume da coleção História do Brasil Nação aborda um momento de características tão dramáticas quanto decisivas para o futuro do país: a virada do século XIX para o século XX Para dar conta de tamanha complexidade, os pesquisadores Hebe Mattos, Francisco Doratioto, Gustavo Franco, Luiz Aranha Corrêa do Lago e Elias Saliba -, reunidos sob a coordenação de Lilia Moritz Schwarcz, também diretora da coleção, compõem um instigante painel da vida política, da sociedade, da economia, das relações internacionais e da cultura no período.