Todos os anos, no início de janeiro, a aclamada consultoria em riscos políticos globais, a Eurasia Group, publica o famoso relatório intitulado “Top Risks”, onde pontua dez riscos políticos na esfera internacional que podem evoluir, trazendo desdobramentos globais, desafios e complexidades, no ano que se inicia. O relatório de 2021 traz alguns riscos que, em grande medida, a nossa coluna já vem alertando aos qualificados leitores. Do conjunto dos dez riscos globais, destacaremos quatro, que a nosso ver possuem potenciais desdobramentos, entre eles: 1) Fator Biden; 2) Relações China-EUA; 3) Instabilidade cibernética; 4) “O longo Covid”.
Fator Biden
O quadragésimo Presidente americano não tomará o poder em clima de tranquilidade. Com uma sociedade praticamente dividida, consequência de uma eleição proporcionalmente apertada, para muitos americanos ainda restará o debate de uma suposta ilegitimidade no processo eleitoral e seus resultados. O risco dessa divisão e seus consequentes desdobramentos serão sentidos exclusivamente no plano doméstico, mas, também, no plano internacional. Será cristalina a discussão entre democratas e republicanos nas questões externas, inclusive as mais delicadas como a relação com a China, entre outras questões. A política externa de Biden transcorrerá em meio aos debates mais calorosos.
Relações China-EUA
As tensões entre EUA e China estarão no radar da geopolítica mundial. A relação será menos conflitiva que o governo Trump, mas questões de fundo poderão prevalecer, entre elas, as que envolvem o plano tecnológico e das frequências do 5G, a tensão existente no Mar do Sul da China e a questão de Taiwan. Todas elas, segundo o relatório, com potencial de escalar uma crise. Ressaltamos que o Mar do Sul da China é um dos epicentros da geopolítica marítima, com o renovado apetite chinês em uma marinha de guerra de longo alcance.
Instabilidade cibernética
O ciber-espaço já é um marcador extremamente relevante da atual geopolítica. A espionagem sempre existiu e continuará existindo, com métodos cada vez mais aprimorados. Hoje, ataques cibernéticos podem partir de um único celular ou computador, ou seja, baixo custo e consequências altas. 2021 será um ano de significativa insegurança cibernética. Chamou a atenção no final de 2020, os sofisticados ataques cibernéticos visando inúmeras agências americanas e empresas privadas, no caso “SolarWinds”, suspeita de invasão russa.
“O longo Covid”
Os líderes internacionais, como ressaltamos em outras colunas, enfrentam o Covid-19 como um dos maiores desafios geopolíticos da atualidade. As variáveis da pandemia são complexas e muitas vezes, não controláveis. Não temos certeza sobre o tempo que ainda teremos no enfrentamento ao Covid-19. A discussão do momento são as políticas públicas em relação à aquisição, distribuição e controle no processo de imunização. A corrida já se iniciou. Muitos países saíram na dianteira, enquanto outros ainda não possuem sequer um cronograma.