OPINIÃO

Democracia ultrajada

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A obra literária de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt – Como as Democracias Morrem – chegou em pleno curso da crise existencial da democracia nos países. Há pouco tempo parecia exagerada a advertência sobre o perigo do pensamento totalitário incidindo sobre a mais democrática nação do Planeta. Os autores citam literalmente: “Os políticos norte-americanos agora tratam seus rivais como inimigos, intimidam a imprensa livre e ameaçam rejeitar os resultados das eleições”. A revelação parecia ousada intuição na denúncia sobre tentativas de enfraquecer as democracias mediante enfraquecimento das instituições de salvaguarda do equilíbrio das liberdades e representação popular. Logo, no entanto a sucessão de fatos mostrou que o alerta era mais concreto do que vaticínio literário. Certificou-se como assertiva séria da ciência política. Situação perigosa que vinha preconizada mais genericamente por cientistas sociais, como previu Zygmund Bauman, em seus apelos sobre o medo líquido. O antagonismo perverso assusta nos EUA porque um candidato eleito mostra as garras de um autocrata subvertendo a democracia, deteriorando narrativas e acelerando forças do poder contra instituições culturalmente construídas e politicamente inspiradas em lutas pela verdade. Steven e Daniel certamente viram a ocorrência praticamente em tempo real do perigo na dilapidação da democracia. O episódio repugnante da invasão do parlamento americano, por incitação persistente de Trump, contra o resultado das urnas, já não pode ser visto como desfecho imprevisível, mas uma consequência de permissividades à margem da ética política. Um ultraje sem precedentes!


Ação nazista

O republicano Arnold Schuarzenagger foi incisivo ao se manifestar sobre o a violência explicitada na invasão do Capitólio. O protagonismo dos insidiosos, desamparados nos questionamentos legais sobre o resultado das urnas foi marcado por elementos identificados com camisetas contendo inscrições nazistas. Não houve sensatez dos fundamentalistas ao saber da derrota de Trump. O fundamentalista nunca é sensato. Os democratas, com a vitória de Bid concentraram esforços no ritual centenário da transmissão do cargo de presidente. Além de Schuarzenegger também o senador republicano da Pensilvania Pat Toomay rebelou-se contra Trump porque ele não representa o partido neste desatino de violência contra a democracia. O Capitólio é a representação sagrada da conduta democrática. A exasperação demonstrada na invasão surpreendeu o partido dos Democratas, mas não apagou o brio histórico da construção da democracia dos EUA.


Mediocridade no Brasil

O núcleo de fanáticos seguidores do presidente no Brasil ainda não reconheceu a vitória dos democratas. Persistem em lançar dúvidas sobre o nosso sistema eleitoral. Não perceberam que o próprio partido de Trump já o trata como desajustado. As mensagens do presidente que se despede do cargo passaram ao arrependimento, num quadro ético ultrajante. Trump será processado pelos excessos que são vistos como crime contra a segurança democrática da nação. E no Brasil resta a vergonha e amargura da mediocridade é retratada no apoio ao descalabro do presidente dos Estados Unidos.


Pandemia

Vejam só. O presidente Bolsonaro, mesmo diante da morte de mais de 200 mil brasileiros pela Covid, insiste em esconder a gravidade conhecida no mundo. Ao que tudo indica está mais preocupado com o malogro de sua tese negativista, que pode ser fatal nas pretensões eleitorais. É o mesmo método totalitário e desumano do trumpismo. Iludir o povo, mesmo contra a verdade escancarada, prevendo dividendos eleitorais. Já é demais o que diz Bolsonaro. É o líder covidiota.


Ministério

Aquilo que analistas políticos chamam de pesos e contrapesos no cotejo político deve estar ocorrendo com o ministério da Saúde. Pazzuelo mostra que representa força de equilíbrio nas loucuras do palácio. Esclareceu que o governo da união trata com seriedade a função salvadora das vacinas. Garante que a perigosa tendência do próprio Bolsonaro, contra as vacinas da China e da Rússia, é assunto superado. Temos que entender que o Brasil, como muitos outros tem problemas financeiros. A agitação legítima da mídia, as ponderações no judiciário e no Congresso Nacional, parece que surtiram efeito. Nosso país é grande, mas tem a tradição do SUS e experiência na pesquisa de vacina, que precisam ser valorizadas. Mais de 50 países estão aplicando a vacina, com avaliação técnica dos órgãos controladores, como a ANVISA, que é acreditada. Oxford e Coronavac estão em análise para aprovação. Há esperança de boas notícias.  


  


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