Sobre certas pessoas diz-se que são do tipo que “cuidam da vida alheia”. Indivíduos que sabem muito (e não escodem) sobre a vida de vizinhos, colegas de trabalho, amigos e familiares. Desde coisas aparentemente inocentes, tipo a rotina diária (acorda cedo, dorme tarde...), hábito alimentar (hominívoro, carnívoro, vegetariano, vegano...), clube de futebol (gremista, colorado...), lazer (teatro, música...), crença religiosa (cristão, budista, umbandista...) até aquelas que envolvem as, assim julgadas por eles, atitudes suspeitas (traições conjugais, práticas criminosas...) e, não raro, ilações carregadas de preconceito sobre orientação sexual.
Em contraposição aos tipos que “cuidam da vida alheia” surgiu, na era digital, os que “cuidam da própria vida”. E esse “cuidar da própria vida” não é no sentido de “não cuidar da vida alheia” e sim que o que alguns fazem em relação aos outros (em menor escala), despercebidamente, também fazem (em maior proporção) para si mesmos. Ao usar determinados aplicativos móveis, configurar perfis e fazer postagens nas redes sociais, compartilhar dados pessoais ou, simplesmente, facultar o acesso aos dados (para poder avançar), navegar pela internet em redes públicas, etc. não se faz outra coisa que não seja permitir que “terceiros” monitorem nossas vidas, cujos rastros digitais que deixamos, em tese, podem ser usados a favor ou contra qualquer um de nós. Então, bem-vindos ao mundo do Big Data.
Imagine, sempre em tese, evidentemente, aquelas pessoas que são fissuradas por aplicativos tipo “autoajuda” instalados em smartphones e voltados à promoção de mudanças de hábitos de vida, que registram e mensuram as calorias de tudo o que comem e que contabilizam os passos dados e as distancias percorrida durante o dia ou qual o momento mais propenso a engravidar, por exemplo. Nada parecido com isso foi vivenciado por gerações anteriores à nossa. E ainda que o tempo de uso desse tipo aplicativos, em geral, não seja longo, pela ansiedade que pode causar e o sentimento de culpa deixado em quem não consegue cumprir as metas projetadas, é mais do que suficiente para formar um arquivo de informações pessoais, que trabalhado por algoritmos de inteligência artificial possibilita que sejam conhecidas coisas sobre nós que nós mesmos desconhecemos. E, para piorar, mesmo depois de abandonados, esses aplicativos nunca mais se esquecerão dos seus usuários.
Assim, pelo uso de tecnologia digital, mais dias ou menos dias, todos nós seremos aprisionados na grande rede Big Data. Não há escolha. Não usamos esse tipo de tecnologia sem darmos explicitamente o consentimento sobre os nossos dados. Por não haver alternativa, o jeito é relaxar e começar a tentar entender um pouco melhor o vocabulário que permeia esse novo mundo para não se sentir um marciano a passeio na Terra.
Não importa a área do conhecimento, as mesmas palavras e expressões se repetem. Na saúde, lá vem a Medicina Exponencial. Nas ciências agrárias, temos a Agricultura Digital (Agricultura 4.0 e rumando para 5.0). Em ambas, assim como em outras, perfilam os mesmos jargões: Big Data (quando o volume de dados extrapola a capacidade de gerenciadores de dados processá-los individualmente), API (interface de programação de aplicativos), inteligência artificial (reconhecimento de padrões) com a aprendizagem de máquina e deep learning (redes neurais), computação em nuvem (permite o acesso por meio da Internet), realidade aumentada, realidade virtual, conectividade ubíqua, blockchain (cadeia de blocos, um tipo de banco de dados), Internet das coisas (IoT, interconexão de coisas físicas e virtuais), além de uso da impressão 3D, drones e demais avanços da biologia sintética, da biotecnologia, da bioinformática e da nanotecnologia.
Se na véspera do aniversário da sua filha, você andou procurando na Internet por um belo par de patins para presenteá-la, não se assuste caso passe o ano todo recebendo anúncios dos mais variados tipos e ofertas de patins. O Big Data jamais se esquece de você!