Desde que chegou a Passo Fundo, em 1960, Luiz Carlos Dale Nogari dos Santos notabilizou-se pelo empreendedorismo. Natural de Rio Grande, após ter morado em Porto Alegre e Marau, veio para Passo Fundo a convite do então prefeito Benoni Rosado (1960-1964), com o intuito de assumir a Secretaria de Agricultura. Não chegou a tomar posse no cargo de secretário municipal, mas se fixou de vez na cidade, onde abriria um escritório de contabilidade e tomaria a frente de muitas outras inciativas empresariais antes de se consagrar como leiloeiro oficial de bens móveis e imóveis.
Um dos primeiros negócios que Luiz Carlos dos Santos criou em Passo Fundo foi o serviço de cobrança das dívidas que se avolumavam no comércio local. Usava cobradores vestidos de vermelho, que visitavam as casas dos devedores com a nítida intenção de causar constrangimentos com a vizinhança. O negócio deu certo e os famosos “vermelhinhos” entraram para a história local. Ao contar com o beneplácito de Ney Vaz da Silva conseguiu, via a Associação Comercial, a almejada aproximação com os principais empresários da cidade. Nesse meio ficaria conhecido, pela juventude, pelas opiniões que externava e pelos arroubos das inciativas que propunha, como “guri metido”. Nessa época, Luiz Carlos, além da atuação como leiloeiro de gado e produtor rural (Fazenda Alegria), montou a Construtora Basilar e participou de iniciativas que, por razões alheias à sua vontade, não prosperaram, como a Companhia Passo-Fundense de Seguros, a construção de uma galeria comercial e a organização de uma empresa de rádio e televisão (Rádio Utá e TV Planalto).
Em 1964, uma onda de violência começou a grassar em Passo Fundo. A repercussão negativa ultrapassava os limites da cidade. A Associação Comercial, preocupada, organizou um evento para discutir o assunto. A maioria dos participantes se limitou a sugerir a publicação de matérias positivas na imprensa. Então, foi quando Luiz Carlos dos Santos veio com a proposta da criação de uma feira industrial. Não foi levado a sério. Alguns dos próceres locais até riram dele, rotulando-o de “guri sonhador”. Mas, Ney Vaz da Silva não considerou a ideia tão descabida assim. Pediu mais informações e acompanhou Luiz Carlos em audiência com o prefeito Mário Menegaz. Não havia dinheiro, alegou o prefeito, e a inciativa foi rechaçada.
Inspirado no modelo bem-sucedido da FENAC de Novo Hamburgo, Luiz Carlos retomou a ideia e, em 1965, conseguiu convencer Mário Menegaz da viabilidade da realização da Exposição Feira Regional da Indústria, Comércio e Agricultura, que atendia pela sugestiva sigla EFRICA. Montou a sala de comando da feira no edifício Fiore. Contratou vendedores experientes para a comercialização dos 126 estandes projetados. Foi ao Rio de Janeiro, registrou a EFRICA no Ministério da Indústria e Comércio, amealhou recursos para a construção de um pavilhão e, de brinde, conseguiu trazer a Esquadrilha da Fumaça para abrilhantar o evento. Garantiu a presença de estatais gaúchas. Convidou belas misses para desfilarem pela cidade. Organizou a Festa da cerveja. E assim, entre 19 de novembro e 4 de dezembro de 1966, Passo Fundo vivenciou dias de gloria com a 1ª EFRICA sendo realizada no local onde hoje está a Prefeitura Municipal e, em 1957, havia sido palco da Festa do Centenário.
A 2ª EFRICA, sem a participação de Luiz Carlos, foi realizada em 1967. O êxito da primeira não se repetiu. A terceira EFRICA só aconteceria em 1993. Outras mais, esporadicamente, viriam. Nenhuma se equipararia à primeira. Que aconteceu?
Luiz Carlos dos Santos, o idealizador da EFRICA, especula que a feira não vingou pela falta de mentalidade empreendedora das lideranças locais. As empresas que se fizeram presentes na 1ª EFRICA e quiseram se instalar na cidade, por exemplo, foram solenemente impedidas pelo temor da concorrência.
Ficou curioso para saber mais? Leia o livro O Leiloeiro de Sonhos, uma biografia de Luiz Carlos Dale Nogari dos Santos editada por Charles Pimentel da Silva, publicado em 2020, pela Méritos Editora.