Já tivemos a oportunidade de abordar em nossa coluna, a geopolítica da vacina. Identificamos, na época, quatro projetos distintos: o americano, o chinês, o russo e o inglês. Nossa análise restringiu-se nos interesses definidos em termos de poder, de cada um dos projetos. O americano, ainda sob a batuta de Trump, focava no mote “America First”, primeiro os americanos. O chinês, em resumo, trataria de criar ainda mais dependência de países, principalmente na América Latina, na aquisição dos imunizantes chineses. O projeto inglês seria a primeira ação em escala global, após a retirada do país da União Europeia, carregando um simbolismo significativo. Já o russo, pretensioso no seu lançamento, onde ainda não estava amparado em validações científicas por pares, em escala global. Ao carregar o nome Sputnik V, o projeto russo carrega uma simbologia ainda do tempo de suas descobertas espaciais.
Vacinas e a nova conjuntura
Com o avanço, principalmente no hemisfério norte, das mutações do coronavírus em cepas mais infecciosas, que começam a migrar ao hemisfério sul, inclusive ao Brasil, as vacinas competem entre si de forma frenética e com objetivos de longo prazo, que mesclam as intenções geopolíticas de países soberanos com interesses privados de grandes farmacêuticas. Até o momento, o Brasil autorizou duas vacinas, a de Oxford e a Coronavac, essa última produzida pelo Instituto Butantan. Vejamos como cada um dos projetos geopolíticos avança com a nova conjuntura, inclusive em relação ao Brasil (que ainda depende exclusivamente do imunizante chinês, na largada do programa de imunização):
Projeto americano
Após um revés nas negociações com o governo brasileiro, com a divulgação de carta do CEO da Pfizer, parece que haverá nova tentativa para liberação do uso definitivo, juntamente aos órgãos competentes no Brasil. O impasse persiste, principalmente, pelo aspecto da responsabilização pelos efeitos adversos da vacina. Mundialmente, países europeus, em grande medida, negociam a compra do imunizante da Moderna.
Projeto chinês
Ao lançar o seu programa oficial de imunização, com a possibilidade de compra de distintas vacinas, o Brasil ainda depende, em grande medida, do imunizante chinês. A estratégia chinesa é a de criar dependência a longo prazo, incluindo outros temas de geopolítica como contrapartida.
Projeto russo
Com a divulgação recente da eficácia da Sputnik V, a vacina russa tem chamado a atenção, inclusive do Brasil, em que pese não haver muita transparência, ainda, sobre a vacina. Grandes países, como o México, começam a autorizar o seu uso. A produção no Brasil estaria prevista para abril (se for autorizada), com a possibilidade de se produzir 8 milhões de doses/mês.
Projeto inglês
Outra grande aposta brasileira foi a vacina de Oxford/AstraZeneca. A Fiocruz projeta a entrega de 20 milhões de doses, ainda no mês de março. Já o consórcio Covax, de que o Brasil é signatário, prevê a entrega entre 10 e 14 milhões de doses da vacina ainda no mês de fevereiro. Até o momento, o Brasil autorizou duas vacinas, a de Oxford e a Coronavac, essa última produzida pelo Instituto Butantan.