São apocalípticos os rastros deixados pela pandemia da COVID-19 que ora assola o mundo. Os números de mortes causadas pela doença são contados em milhões (no Brasil foi ultrapassada a marca dos 227 mil óbitos, em 4 de fevereiro de 2021) e os prejuízos econômicos avultam bilhões para qualquer que seja a moeda usada como referência. No grupo das 20 maiores economias do mundo, apenas a China apresentou crescimento em 2020. Nas outras, foram poucas as que cresceram alguma coisa (menos de 30). A maioria das nações regrediu, economicamente. Enquanto isso, mudanças aconteceram e estão acontecendo. Que podemos fazer? Você se deu conta disso? Percebeu que talvez essa seja uma caminhada sem volta?
A 16ª edição do relatório de riscos globais de 2021, recentemente liberada pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum – disponível em: http://wef.ch/risks2021), lança luzes sobre o mundo contemporâneo e os novos desafios e riscos que doravante precisaremos enfrentar. Indiscutivelmente, o mundo atual e o que se encaminha daqui para frente não são mais o mesmo de 2019. Por ora, pior. E quando esse Apocalipse passar (tenhamos fé nas vacinas)? Como será o novo Gênese? Nem pior e nem melhor do que vivemos até agora, mas certamente diferente. Vai depender da lição que tirarmos dessa experiência e do que construiremos em termos de futuro para a humanidade.
A pandemia da COVID-19, efetivamente, consolidou a chamada quarta revolução industrial (também referida como Indústria 4.0). A marca dessa revolução é a transformação digital. Querendo ou não, com a pandemia, nos vimos imersos na era digital. As transformações no mundo do trabalho se evidenciaram (teletrabalho, home-office, informalidade, etc.). Os serviços por aplicativos móveis cresceram. O e-commerce se consolidou. O ensino à distância virou imprescindível. A telemedicina e outros serviços na área de saúde tiveram impulso. O sistema financeiro acelerou os serviços digitais. Idem a burocracia estatal (gov.br, carteira digital de trânsito, e-título, carteira digital de trabalho, etc.). E, paralelamente, com isso, se sobressaiu a marca da desigualdade social, onde os “digitalmente excluídos” amargaram e ainda amargam suas penas.
Sim, não podemos fechar os olhos para a realidade. Quem entrou na era da pandemia com maior domínio da tecnologia digital e melhor estrutura, seja de equipamentos, acesso a Internet e moradia sofreu menos o peso do isolamento social imposto. Inclusive para trabalhar remotamente. E os que não têm esse tipo de coisa? Um dos legados da COVID-19, na esfera digital, foi o aumento da desigualdade e a maior fragmentação social. Vamos precisar lidar com isso. Ou sairá de controle o risco iminente de ampliarmos o contingente de jovens desiludidos, especialmente nas camadas mais pobres, por se verem alijados do novo mundo que emergirá pós-pandemia.
Também, na era digital, não podemos ignorar o risco de nos vermos sob a “tirania” dos algoritmos. Cada vez mais, a chamada “inteligência artificial” será usada para diagnósticos médicos (medicina exponencial), nas ciências agrárias (agricultura 4.0), no judiciário (elaboração de sentenças), etc. São tecnologias de última geração. Mas, não raro, embasadas em modelos tipo “caixa-preta”, gerados a partir de grandes bases de dados (Big Data), que ainda não dispensam o melhor do julgamento humano.
Tenho confiança que a humanidade sairá dessa crise. E que outras virão: causadas por novas doenças infecciosas, desastres naturais, problemas na economia mundial, falhas de segurança e colapso do sistema digital global, ataques terroristas, convulsões sociais, etc. A esperança é que tenhamos apreendido a lidar com crises e que possamos antever novas. E que não insistamos em lidar com as novas crises como se fossem iguais às passadas. Nenhuma crise é igual à outra. Não vivemos num mundo determinista.
E como a maioria de nós sairá dessa pandemia? Torço para que não saiamos como meros protagonistas da piada pronta: apenas sabendo lavar as mãos um pouquinho melhor!