Como é gostoso comprar
Fazer compras ou ir às compras? Tanto faz. Estamos comprando. Compramos por necessidade e, normalmente, respeitamos prioridades. Mas também compramos por pura compulsão e, então, não obedecemos aos limites. Mas não compramos apenas por necessidade ou compulsão, pois também enfrentamos o mundo das tentações provocadas. Sim, os anúncios são insinuantes e envolventes. O ímpeto vem das propagandas ou mesmo de inocentes ou subliminares mensagens. E não são poucas, pois diariamente surgem por todos os caminhos virtuais em que estamos conectados. A maioria passa batida, outras damos uma passada de olhos, mas algumas prendem a nossa atenção. É exatamente nesse olhar correspondido que começa a nossa sedução. O pessoal da criação sabe como encantar e espalha muitas iscas embaladas com irresistível charme.
Promoção, cupom de desconto, frete grátis, pague dois e leve três, parcelamento infinito e outras maravilhas que dão brilho aos nossos olhos. Ah, entramos em transe e vem aquele desejo sem freios de comprar. Nas ruas, somos engolidos pelas vitrines e, sei lá, acho que até piscamos para manequins. Entramos e compramos. No jornal, olhamos as promoções com muita calma. E compramos. Recebemos ofertas por e-mail. Respondemos e compramos. Consumimos por necessidade ou pelo mais explícito consumismo compulsivo. Não importa a forma. Compramos. Talvez a justificativa esteja no pós-compra, pois o ato de comprar resulta num sorriso orgástico. A gente compra, conta e mostra para os outros com o mesmo orgulho de quem exibe um troféu. Ora, então comprar faz bem à saúde. Mesmo que, em muitos casos, seja prejudicial ao bolso. Mas isso é superado pela satisfação em adquirir algo novo, bonito ou moderno. E seguimos. Comprando, é claro.
Papo leguminoso
Desde pequeno, sempre fui muito conversador. Tagarela mesmo. Falava tanto que até estonteava. No isolamento social, o meu ímpeto falador sofre pela ausência de interlocutor. A carência aumenta quando estou no exercício da alquimia culinária. Noite dessas, peguei um enorme pedaço de pimentão amarelo – que foi contratado para participar de uma moqueca. Já estava em final de carreira na gaveta das frutas e legumes. Cortei uma lasca, mas em seguida ele escorregou e caiu na pia. Então falei para o enrugado pimentão: “olha, sei que está na hora de ir embora, mas não precisa tentar suicídio”. Aí caiu a ficha, o ficheiro e a prateleira. Sim, eu estava dialogando numa boa com um pimentão! E na maior tranquilidade. Ora, se foi possível um papo com um pimentão amarelo, não seria difícil dialogar com as batatinhas. Em seguida, cortaria a cebola roxa para a salada, o que seria uma conversa para levar qualquer um às lágrimas. Já o alho espanhol foi muito profissional como tempero e não deu abertura para um diálogo. Então, com alhos sob os olhares de bugalhos, terminou a resenha da pia.
O Cara do Apito
Na vida passo-fundense nunca faltaram figuras folclóricas ou personagens exóticas. São peças que passam e têm reposição automática. Agora, surgiu o Cara do Apito. Nada a ver com futebol. O sujeito utiliza um apito metálico de agente de trânsito. Fica nos canteiros centrais da Avenida Brasil e, sutilmente, coloca o apito na boca para um silvo curto, poucas vezes longo. O nosso guardinha voluntário tem preferência pelo cruzamento da Bento Gonçalves, mas também atua na General Netto ou na Chicuta. Chega por volta das dez da noite e permanece apitando por uma ou duas horas. O Cara do Apito usa um boné vermelho e até gesticula sinalizando o fluxo para os motoristas. Parece que ele gosta mesmo de apitar, pois já está integrado à rotina da Avenida.
Trilha sonora
Quarta-feira de Cinzas, mesmo na pandemia, tem muitos significados. Como na música de Edson Conceição gravada por Wando em 1976 – O Rei