Vivemos o tempo favorável da quaresma que iniciou com a mesma proposta que Jesus fez na Galileia no começo de seu ministério. “Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Jesus, depois de um certo tempo ensinando com autoridade o Evangelho, é questionado por um escriba sobre a centralidade do ensinamento. Responde que é amar a Deus e ao próximo. É uma relação que se estabelece entre seres diferentes que se comunicam e vão se aproximando. O tema proposto pela Campanha da Fraternidade aponta para o diálogo como forma necessária de criar fraternidade, como forma de amar o próximo. É um caminho necessário para ser fazer próximo, como está magistralmente ensinado na parábola do Bom Samaritano.
O referencial perfeito do cristão sempre é Jesus Cristo, por isso os diálogos dele, com as mais diferentes pessoas e situações, são luzes inspiradoras. Daí desdobram-se ensinamentos e gestos. A título de exemplo e recordação, cito alguns diálogos com os discípulos, com doentes, com estrangeiros e com fariseus.
Os diálogos com os discípulos, por ser o grupo mais próximo, acontecem nas mais diferentes situações. Demonstram que Jesus tinha paciência para dialogar, pois os temas ensinados precisavam ser retomados e aprofundados. Os discípulos perguntam: “Qual o significado do ensinamento?” Os diálogos abordavam temas conflitivos e as opiniões divergentes entre eles. A história dos discípulos de Emaús revela vários elementos de um bom diálogo. Jesus, mesmo sabendo dos fatos, faz os discípulos falar longamente, se expressarem. Para tal é preciso a postura de escuta. Só depois fala e os ajuda a lembrar o que haviam esquecido de contar. Naturalmente os discípulos de Emaús convidam Jesus: “fica conosco”.
Os diálogos com doentes são comoventes. Muitos doentes iniciam as conversas em forma de grito de socorro para se tornarem visíveis, um sobe numa árvore, outros usam intermediários para se aproximarem. À primeira vista parece óbvio que os doentes desejavam a cura, mesmo assim, antes de qualquer ação Jesus pergunta o que estão desejando. Dá a oportunidade para os doentes se expressarem e revelarem o que mais dói. Depois de receberam o solicitado, a despedida vem acompanhada de recomendações, de palavras de consolo.
É significativo o diálogo de Jesus com a mulher siro-fenícia, uma estrangeira, (Mc 7,24-30) que vem implorar em favor de sua filha. Joga-se aos pés de Jesus. No primeiro momento Jesus argumenta que não poderia atender o pedido, mas a mulher faz a réplica e argumenta. Diante disso Jesus lhe diz: “Por causa da tua palavra, vai: o demônio saiu da tua filha”.
Certamente os diálogos mais desafiadores Jesus teve com os fariseus, escribas e doutores da lei. Está registrado que várias perguntas eram feitas com “segundas intenções”, para simplesmente provocar ou criar polêmica. Eram pessoas com liderança e amplo conhecimento dos temas religiosos e civis. Novamente o modo de Jesus dialogar é iluminador. Por vezes, Jesus responde a pergunta com outra pergunta ou pede o pensam sobre o tema. Jesus não foge da pergunta, nem usa de meios irônicos para dialogar com quem eles. A pergunta se apresentava como uma ponte para entrar na vida deles e não forma de fortalecer muros.
A sociedade sempre foi plural e sempre será. Os breves relatos do Evangelho relevam a diversidade existente no tempo de Cristo e Ele soube propor com serenidade os seus ensinamentos. Se alegrou com os que se tornaram seus discípulos, mas não condenou os que ficaram indiferentes e nem os que eram abertamente contra Ele.