Um ano em pandemia
Em 17 de março de 2020, uma terça-feira, aquilo que parecia distante já estava entre nós. A possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus exigia cautela. Naquele dia, a impactante capa de O Nacional sinalizava uma nova realidade. Aulas suspensas, enquanto máscaras e álcool gel sumiram das prateleiras. Então decidi: vou ficar em casa! Corri até o Jornal, peguei um notebook e uma agenda. Mas ainda não era o suficiente para montar o meu bunker. Faltavam mantimentos e, diante de uma inusitada situação, não sabia o que poderia ocorrer. O que e como comprar sem sair de casa? Enfim, naquele dia começava uma nova vida. Aliás, uma nova etapa dedicada à preservação da vida. As obras na Avenida Brasil foram paralisadas e a poeira encaixava-se como um véu de tristeza sobre Passo Fundo. Poucas pessoas circulando pela cidade era um indicativo de comprometimento coletivo com a vida.
A razão aritmética da contaminação ainda era pequena. Havia esperança de que muito em breve poderíamos sair da proteção da nossa caverna. Mas, então, alguém abriu a boca e deu a senha de largada para múltiplas e inconsequentes desavenças. Era o rompimento do aconchego de um abraço, enquanto a esperança despencava em fragmentos. Assim, a pandemia ganhou ingredientes de má-educação e irresponsabilidade que causaram irreparáveis consequências. Isso permitiu muitas reflexões e até momentos de raiva. Um ano depois, ainda vejo insanos sem máscaras, mesmo após mais de 330 mortes na cidade. Uns aprenderam. Outros pioraram. E, assim como ocorre em relação às crianças, a culpa é sempre do mau exemplo. Bem pior, é claro, quando isso vem de cima. Pois bem, sem a contaminação de más influências, hoje completo um ano de isolamento. Aliás, comemoro! Sim, comemoro a vida e a minha conduta recheada de cidadania.
Bandeira preta
Adotei a bandeira preta. Escapadinhas apenas as necessárias e impreteríveis. Foi assim que, ontem, fugi até a Cedil para um exame de ressonância. Fora isso, agora é tudo online. Então, por que será que toda a população, na medida do possível, também não adotou de fato a bandeira preta? Os estabelecimentos estão fechados para que as pessoas não saiam de casa. Mas tem muita gente saracoteando por aí entre as brechas das meias grades. Andam de um lado para o outro em busca de supérfluos e se esquecem do essencial: a vida.
Sorrateiras festinhas
O cara desce do carro com o violão na mão. Outros chegam com sacolas de bebidas. Nada contra o violão, se utilizado para a boa música. Nada contra as bebidas, se boas e bem apreciadas. Mas nada pode justificar essas festinhas e baladinhas numa pandemia. Ainda mais em bandeira preta. Detalhe: todos sem máscara. Isso já é crime.
Prevaricação?
Há péssimos exemplos que incentivam o não cumprimento das leis. É o caso de ambulantes que tomam conta do passeio público. Montam balcões com mercadorias como se estivessem numa loja. Não pagam impostos nem aluguel e seus “estabelecimentos” estão abertos em plena bandeira preta. Há algo muito errado nessa história. Aliás, um somatório de infrações e desrespeito.
Apitador
O novo personagem do folclore passo-fundense é o Apitador. Sim, o cara que apita nos cruzamentos da Avenida Brasil. Fica nos canteiros centrais e utiliza um apito de guarda de trânsito. Começou sua carreira de forma discreta, mas agora está mais à vontade e até sinaliza o sentido para os motoristas. Seria o Apitador um caso de vocação mal aproveitada?
Área azul
Desculpem-me pela insistência. Mas, apenas por curiosidade, será que no trechinho da Brasil entre a Bento e o Comercial foi cancelado o estacionamento rotativo pago?
Trilha sonora
Será que ainda nos permitem ouvir uma canção russa? Pomplamoose e The Vignes Rooftop Revival - Les Yeux Noirs