OPINIÃO

Está difícil falar

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O momento histórico do planeta sôfrego pela pandemia oprime todas as pessoas. Quem escreve vê a lida com a opinião sentimentalmente afetada. A multidão dos mortos assusta. E todos os escribas contam ausências de amigos, pessoas de relações, conhecidos e desconhecidos atingidos pela morte implacável. A autocrítica ronda o senso de responsabilidade. A sensação de lucidez e equilíbrio, a intensa busca de luzes na informação que circula no mundo, tudo desafia. A inércia pode ser omissão imperdoável. E mesmo perante a fragilidade que nos invade, temos que falar. A consciência de experiência narrativa faz balançar a responsabilidade. Com tantas vozes de incerteza não é possível discernir as coisas e os fatos com a precisão que se deseja. Na pauta das redações agiganta-se a crueldade do momento. A morte pertinaz pode chegar a qualquer momento e a qualquer um. É preciso dizer na comunicação, que médicos e atendentes de saúde estão esgotados. Faltam profissionais, falta oxigênio, água e tudo o que é imprescindível. Trabalhar na comunicação é carregar esse suplício nunca experimentado. E ainda o comunicador deve lutar para estar vivo. 

 

Desamparados de sempre

A Covid-19 e suas variantes mostram espectro impiedoso universal. A pobreza e as elites são atingidas da mesma forma. Grave inusitado. Em Israel decanta-se a efetividade das vacinas e efeitos da disciplina implantada. A região do Oriente Médio é foco de desavenças e ódios radicais, guerra, opressão e tantos males. Este mesmo ódio lamentavelmente desmente aparências de solidariedade. A médica Samah Jabr denuncia a gravidade da discriminação aos habitantes palestinos. O estigma atinge núcleos da faixa de Gaza e Cisjordânia, subordinados ao comando judeu. São populações pobres, sem água em péssimas condições de saneamento, além dos frequentes bombardeios. Ao estender ajuda aos palestinos Israel usa forma seletiva. Atende com elevado esmero técnico sanitário os trabalhadores das indústrias dos centros de Israel. As populações de judeus e palestinos estão densamente misturadas, especialmente na faixa de fronteiras. Os que trabalham nas ditas indústrias recebem todos os cuidados. E isso é propagado. Segundo denuncia a ministra Samah, a maioria da população de Gaza e Cisjordânia vê famílias separadas na forma de tratamento. Distribuição de máscaras, vacinação e aplicação de testes é apenas para quem entra nas imediações de Jerusalém para atuar na indústria, garantindo a produção. A maioria da população regional palestina é alijada e nada recebe. Esse quadro já ocorre em várias partes do mundo, onde a falta de recursos históricos para o saneamento segue a discriminação pela falta de dinheiro. A solução do socorro no mundo vai mostrando também a diferença entre a população mais pobre, que suporta a doença da mesma intensidade.

 

Redistribuição

A situação alarmante está na iminência de revelar a dificuldade de socorro muito mais prejudicial para estados pobres no Brasil. Já é real. É importante o fator da centralização dos prometidos estoque de vacina para serem redistribuídos. São Paulo já mostrou que está providenciando soluções via vacina, desde o ano passado. É estado economicamente diferenciado. Mesmo com agravamento da contaminação o poder econômico já mostra diferença.

 

Negacionismo

As palavras, obras e gestos do presidente, alheio ao compasso da grande maioria dos países, aumenta a aflição. A sensatez da grande maioria na defesa diante da violência da pandemia não alcança a ideia do presidente. A cruel dispersão foca apenas em objetivos eleitorais e contraditórios. Seu apoio de fundamentalistas formou uma espécie de xifopagia do mal, incensada com cortinas de fumaça distantes da urgência na meta de sobrevivência brasileira. Pensar e agir na busca da vacina é vista pelo Planalto como inimigo político. Isso é tétrico, ampliado em aparições públicas sem máscaras, frases grotescas que abalam o sentimento mínimo de compaixão. Até alguns surtos efêmeros de compreensão sobram ao sinal de alerta nas pesquisas eleitorais. Logo, no entanto, o baque surdo da indiferença insensata agride a mente humana. Crueldade que vem de longe, antes mesmo da estúpida negação em prevenir a nação comprando vacinas.


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