A cada semana, a conjuntura da pandemia impõe novos desafios às lideranças internacionais. Talvez o maior deles, neste momento, seja a velocidade de imunização coberta com programas de pré-compra de vacinas. A questão das vacinas, ancorada em projetos geopolíticos, causa desdobramentos imediatos à política internacional, ao passo que emulamos praticamente uma guerra biológica. Nesta “diplomacia da vacina”, os líderes internacionais são confrontados diariamente com desafios. Um exemplo nítido disso se deu com o recente anúncio da China de que só receberá em seu país os estrangeiros que tenham se imunizado com as vacinas fabricadas em território chinês. Enquanto isso, as embaixadas chinesas vão replicando a nova condição aos estrangeiros – incluindo entre eles os EUA e o Reino Unido (países em que as vacinas chinesas não estão presentes). O argumento chinês seria o de ordenar as chegadas internacionais no país. Os desdobramentos são perigosos. Ao mesmo tempo em que a medida pode pressionar alguns países na aquisição de vacinas chinesas, pode, por outro lado, estimular que países se isolem, na mesma condição chinesa, ao exigir algum tipo de vacina específica aos estrangeiros.
Diplomacia europeia
Enquanto isso, o cenário da diplomacia das vacinas toma um rumo delicado na União Européia (UE). Ocorre que a mesma está inclinada a barrar as exportações da vacina de Oxford/AstraZeneca, produzida em países europeus. A preocupação da UE é de que o imunizante fique escasso, com os altos volumes de exportação para outros países que não do bloco europeu. Enquanto há letargia nos processos de imunização em grandes economias do bloco, o Reino Unido (que saiu da UE) disparou na imunização. O Brasil é um dos países com contratos de pré-compra firmados com a AstraZeneca. Esse tem sido o grande desafio da diplomacia da vacina, a cada dia a conjuntura se modifica, havendo pouca garantia.
Enquanto isso
O principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul, a Argentina, temendo o avanço de uma segunda onda com cepas mais infecciosas, já estuda a restrição de entrada de brasileiros no país. Não somente a Argentina, mas outros países da região têm enxergado o Brasil como uma grande ameaça sanitária. O país que mais tem avançado na região, na imunização em massa, tem sido o Chile, que vem se preparando, desde 2020, com a compra das vacinas, caminho que o Brasil se afastou.
Um novo “passaporte”
Este será o cenário dos próximos anos. A livre circulação internacional de pessoas, passará por um controle adicional, como uma espécie de passaporte que garanta a imunização do estrangeiro. A UE já se prepara para essa conjuntura, informando que criará o “Certificado Verde Digital”, um “passaporte das vacinas”, que confirmará a imunização das pessoas, para circulação no espaço europeu. Nesse aspecto, o Brasil encontra-se em situação delicada. A previsão é de que a imunização terá cobertura mais substancial no final do segundo semestre deste ano.