A semana foi carregada de mudanças substanciais à política externa brasileira. A demissão de Ernesto Araújo, Ministro de Relações Exteriores, é resultado não de algum fato recente e episódico, mas um acúmulo de situações que foram colocando a política externa brasileira em posição delicada. O maior erro foi a adoção de uma narrativa populista. O encontro do populismo com a política externa é receita que não funciona na prática, funciona apenas no campo ideológico. Exemplo disso é a questão das vacinas, visto que não se buscou desde cedo a pré-compra dos imunizantes. Houve inclusive certas ironias, justamente no momento em que o Brasil precisava adotar uma diplomacia para a aquisição de vacinas. Outra mudança importante às relações internacionais do Brasil foi a alteração no Ministério da Defesa, entidade responsável pela formulação das estratégias de segurança e defesa. Assume o cargo de Ministro de Relações Exteriores, Carlos Alberto França, de perfil mais discreto e, talvez, orientação mais pragmática. O novo Ministro assumirá, por seu turno, alguns grandes desafios, entre eles:
OCDE
O grande objetivo da política externa do governo, como já alertamos aos nossos leitores, é o de adentrar no clube de países ricos, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para isso, o antigo ministro contava com o apoio de Trump, que não conseguiu se reeleger. Além do que, o principal desafio de adentrar à organização parte do próprio governo, que vem sabotando o processo, pois, não seguiu as diretrizes da OCDE no enfrentamento ao vírus, interferiu na Petrobrás (demonstrando desapreço à governança) e parece ter retrocedido na questão do combate à corrupção (a OCDE formou comitê para analisar a questão).
Entorno Estratégico
Outro grande desafio é assumir, no contexto da integração sul-americana, um papel de liderança. O Brasil não tem sido pragmático o suficiente com o Mercosul. Aqui o enfoque deverá ser a reforma da Tarifa Externa Comum, ferramenta que dará mais competitividade ao bloco. A busca de uma relação mais pragmática com a Argentina também será um desafio.
EUA
O alinhamento automático com o Trump tornou-se uma situação delicada. As eleições deram vez ao Biden. O Brasil já possui um longo e produtivo histórico com os EUA, em termos de relação institucional entre Estados. O enfoque no governo e na liderança de Trump, em tom personalístico, impelirá ao governo iniciar outro tipo de relação, sem contornos ideológicos. Exemplo do personalismo com Trump foi o reconhecimento tardio da vitória de Biden, ponto negativo à diplomacia.
China e 5G
Outro desafio será a China. A diplomacia de Araújo atritou com o país por questões ideológicas. Hoje, a China é o nosso principal parceiro comercial. O leilão das frequências de 5G ocorre em meio a uma guerra fria entre os ecossistemas tecnológicos americano e chinês. A diplomacia, nesse ponto em específico, deverá migrar entre o pragmatismo e as forças políticas internacionais.