OPINIÃO

Perdoar os pecados!

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No segundo domingo de Páscoa a liturgia oferece para ler e meditar o texto bíblico de João 20,19-31. Relata dois encontros do Cristo ressuscitado com seus discípulos ocorridos num tempo de oito dias. A descrição do ambiente e dos temas dialogados tocam em situações fundamentais da condição humana e da convivência amorosa. 

A primeira situação descreve os discípulos com medo e por isso trancam as portas. A razão deste comportamento é para se protegerem de uma possível violência por motivos religiosos, pois há pouco haviam presenciado a morte de Jesus. Também tem o Tomé desconfiado. Não aceita o testemunho dos outros discípulos, mesmo que sejam dez testemunhando sobre o mesmo acontecimento. São duas situações existenciais delicadas da convivência humana, o medo e a desconfiança.  

Por outro lado, da boca de Jesus Cristo ressuscitado, que vai ao encontro dos discípulos, saem palavras que mudam profundamente a situação. “A paz esteja convosco!” “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. “Recebei o Espírito Santo!” “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. “Põe teu dedo aqui e olha a minhas mãos”. “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” 

O Cristo ressuscitado confia aos discípulos uma nobre e exigente missão de serem instrumentos de misericórdia. São João Paulo II instituiu, no ano de 2000, para toda a Igreja, o 2º domingo do Tempo Pascal como o Domingo da Divina Misericórdia. O Papa Francisco proclamou o ano de 2016 um ano jubilar extraordinário da “misericórdia”. E ao seu final escreveu uma carta apostólica denominada “Misericordia et misera”. O objetivo dos papas é exortar a Igreja para cumprir a missão misericordiosa, ser agente de perdão e reconciliação.  

Os discípulos tinham vivenciado naqueles dias a traição de Judas, a negação de Pedro, os falsos testemunhos, um processo jurídico manipulado e por fim a tortura e a morte humilhante de Jesus na cruz. Tudo isto poderia suscitar neles um desejo de condenação, de ressentimento, de ódio e quem sabe até de vingança. O Cristo ressuscitado lhes recorda que os filhos de Deus amam a paz, a reconciliação, o perdão. Não retribuem o mal com o mal, o erro com o erro e nem usam a violência para resolver violências. 

No mundo pululam situações de violências, injustiças e maldades. Nenhum de nós, certamente, terá a coragem de apontar somente os pecados dos outros, mas terá que assumir conscientemente os próprios. Por isso falar de misericórdia, de perdão, de penitência é uma necessidade para uma sadia convivência humana. É um mandamento. Junto com o falar faz-se necessário promover meios de perdão. É o modo cristão de colocar-se diante desta realidade.  

A Igreja Católica tem um sacramento para promover e realizar a reconciliação. Na carta “Misericordia et Misera” o Papa Francisco escreveu. “O sacramento da Reconciliação precisa voltar a ter o seu lugar central na vida cristã; por isso, requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida a serviço do “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18), de tal modo que a ninguém sinceramente arrependido seja impedido o acesso ao amor do Pai que espera o seu regresso”. O perdão é um dom originário da cruz. Também é um “trabalho”, uma missão por exigir o empenho do penitente e do confessor, um desejo de mudança. Perdão é um remédio. 

Ao final destes dois encontros do Cristo ressuscitado com os discípulos o ânimo mudou profundamente passando do medo para “alegria de verem o Senhor” e da desconfiança para uma profissão de fé “meu Senhor e meu Deus!”  


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