No dia 12 de março, do ano 2 da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, seguindo a praxe, enviei, por intermédio do WhatsApp, o link da coluna que assino em O NACIONAL às sextas-feiras, para Tânia e Pedro Du Bois. Dessa feita, não recebi os efusivos aplausos e nem os comentários elogiosos da Tânia e tampouco os lacônicos “gostei” ou “muito bom” ou as sempre bem-vindas observações relativas aos atentados cometidos pelo colunista contra o vernáculo da parte de Pedro. Estranhei o silêncio, mas releguei. Dia 20 de março, na sexta-feira seguinte, outra coluna enviada e mais uma vez não lida. A falta de resposta de amigos tão queridos começou a me inquietar. Aquilo não era normal. Havia algo. No sábado (21 de março), escrevi: - Bom dia! Como vocês estão por aí? E a resposta de Pedro: - Feio. Tânia intubada. Eu, pelo caminho. Baixa oxigenação do sangue. Torcemos. Abs. E foi assim que fiquei sabendo que Tânia e Pedro haviam sido atingidos pela Covid-19, mal que selaria os seus destinos.
No domingo (22 de março), enviei outra mensagem: - Como estamos meu amigo? E a resposta foi essa: - Boa noite, é a Marina, filha do Pedro. O pai foi para a UTI hoje. Lá, não pode ficar com o celular e está sedado. O desfecho fatal, entre crises e períodos de melhoria, seguiria o script de tantos outros casos dessa doença, até a morte de Tânia, no dia 2 de abril, e a de Pedro, no dia 6 de abril. Mas, além dessa tragédia, é necessário que se entenda porque Tânia e Pedro Du Bois são merecedores dos melhores aplausos dos amantes das letras locais, ainda que não residentes em Passo Fundo.
Tânia e Pedro Du Bois, apesar de radicados em Balneário Camboriú, SC, vivenciaram, como poucos, a cena literária em Passo Fundo, nos últimos anos. Foram assíduos frequentadores das Jornadas Nacionais de Literatura, das Feiras do Livro, geralmente com lançamento de obras, dos eventos na Academia Passo-Fundense de Letras e colaboradores do Projeto Passo Fundo de Apoio à Cultura. Mas, não obstante tudo isso, exceto pelos familiares e alguns amigos dos tempos que a cidade ainda era uma aldeia e pelos frequentadores desses mesmos circuitos culturais passo-fundenses, talvez, esse casal de escritores e sua obra não tenham sido tão conhecidos assim (não no nível que fizeram por merecer).
Pedro Du Bois, ex-bancário, poeta e contista, nasceu em Passo Fundo e descobriu, no alvorecer do século XXI (em 2001), que escrever seria o seu destino. Escritor prolífico, foi vencedor, em 2005, na categoria poesia, do 4º Prêmio Literário Livraria Asabeça, com o livro Os objetos e as Coisas. No rol dos seus muitos títulos, à guisa de exemplo, elencamos: A casa das gaiolas (2005), Via rápida (2012), O senhor das estátuas (2013),O descrédito e o vazio (2014), Tânia (2015), Coleção de palavras (2017), Imagem & Reflexo (2018) e Lares (2020).
Tânia Du Bois é natural de Sarandi. Formada em Pedagogia, destacou-se como organizadora e revisora de textos, capista de livros e cronista da poesia do cotidiano. Qualificam-na como cronista de escol, os livros Amantes nas entrelinhas (2013), O exercício das vozes (2014), Autópsia do invisível (2015), O eco dos objetos: cabides da memória (2016), Vidas desamarradas (2017), Eles em diferentes dias (2018) e Anunciada Forma (2020).
Tânia e Pedro, hoje (15/04/2021), são partes das estatísticas que contabilizam mais de 361 mil vítimas da Covid-19 no Brasil. Enquanto isso, amigos e parentes pranteiam as suas memórias. Nossos respeitos, em espacial, à Tia Honorina (possivelmente a mais longeva ex-aluna do IE em Passo Fundo), à filha Marina, ao genro Paulo Cristóvão Filho, às netas Júlia e Luísa e para Rosália, Rosângela e Paulo, irmãos de Pedro. E, próximos da Tânia, à mãe Annita e aos irmãos Maria Cristina e Luis Fernando.
A Academia Passo-Fundense de Letras e os escritores locais, assim que esses tempos bicudos, como diria o poeta Mario Quintana, permitirem, prestarão o devido tributo ao casal de escritores Tânia e Pedro Du Bois. E é uma lastima que essa seja uma sessão in memoriam.
Requiescat in pace, Tânia Du Bois! Requiescat in pace, Pedro Du Bois!