Vários textos bíblicos falam de pastores. Muitos deles se referem aos que cuidam de rebanhos de ovelhas ou de cabritos. Era um trabalho bem exigente e estes trabalhadores nem sempre tinham boa fama e aceitação na sociedade. Também são designados como pastores os governantes e as lideranças em geral. Em outros textos, Deus se apresenta como Pastor ou assim é tratado. Creio que os textos mais conhecidos são o salmo 22/23 e o capítulo 10, 1-18 do Evangelho de João. Esta imagem de Deus como Pastor é muito conhecida e valorizada.
No quarto domingo depois da Páscoa, a Igreja sempre propõe, uma parte do capítulo 10 do Evangelho de João para refletir e rezar. Por isso também é chamado o Domingo do Bom Pastor. Em sentido restrito existe somente um Bom Pastor que é Cristo. Ele se autodenomina assim: “Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11). A Igreja tem plena consciência disso, mas sabe que as suas lideranças precisam sempre se reportar para Cristo para exercerem adequadamente a sua missão. Por isso, celebra-se também neste domingo o Dia Mundial de Oração pelas Vocações e os papas, há 58 anos, presenteiam a Igreja com uma mensagem. É um dia para rezar pelos que estão exercendo o pastoreio em nome de Cristo e para despertar novos pastores. A referência permanente é o Cristo, Bom Pastor. É o modelo perfeito.
Na mensagem deste ano, o Papa Francisco agrega São José, esposo de Maria, como um vocacionado e que exerceu o seu pastoreio ao modo do Bom Pastor. O título da mensagem é “São José: o sonho da vocação”. O Papa destaca três palavras-chave que são próprias de um bom pastor e que também moveram São José: sonho, serviço e fidelidade.
É próprio da condição humana sonhar, realizar-se na vida, nutrir grandes aspirações. Ficar com objetivos passageiros e frágeis como sucesso, riqueza ou diversão não satisfazem. “Realmente, se pedíssemos às pessoas para traduzirem numa só palavra o sonho da sua vida, não seria difícil imaginar a resposta: «amor». É o amor que dá sentido à vida, porque revela o seu mistério. Pois só se tem a vida que se dá, só se possui de verdade a vida que se doa plenamente”. Sonhos não dão muita segurança, mas orientam para a ação. Um bom pastor tem diante dos olhos as ovelhas, sonha com elas e o seu bem. Como disse Jesus, o bom pastor dá a vida por suas ovelhas, as conhece e elas o reconhecem, escutam a sua voz.
A segunda palavra é serviço. Jesus contrapõe a atitude de serviço com a postura do mercenário. Este se move somente por dinheiro, não ama a quem o contratou, nem a quem deve prestar o serviço. No futebol os torcedores criticam o jogador que não honra a camisa e seu clube. Não transpira pelo time. Autoridades políticas são criticadas por desejarem unicamente os cargos e vantagens e não tem por objetivo servirem a sociedade. O Bom Pastor tem a marca do serviço, mesmo com sacrifício, como disse Jesus: “Eu dou a minha vida pelas ovelhas”. A motivação do agir não é a recompensa financeira, mas o amor pelas ovelhas. O amor não se pode mensurar em números e muito menos em valores monetários.
A terceira palavra é a fidelidade. O Bom Pastor não se move e nem age somente pelas emoções passageiras, por motivações fugazes, por impactos momentâneos. Nos momentos difíceis detém-se para pensar, meditar, ponderar para não ceder a atitudes apressadas, julgamentos superficiais e nem agir pelos instintos momentâneos. “Tudo repassa com paciência. Sabe que a existência se constrói apenas sobre uma contínua adesão às grandes opções”. Um Bom Pastor se reconhece pela fidelidade à causa e aos que serve.