De longe, a ascensão dos bens de luxo pode soar estranha ou fora de contexto. Afinal, gastar dinheiro com produtos de alto valor não parece combinar com uma generalizada crise econômica e sanitária, certo? Nem tanto. Uma análise mais aproximada faz perceber que esse movimento por parte de quem já possui uma reserva financeira é na verdade uma boa forma de proteção. Do outro lado da pandemia existe um público com grande potencial financeiro e bastante disposto a transferir parte de seus investimentos para a aquisição de bens e produtos que possam melhorar significativamente sua qualidade de vida. Os imóveis de alto padrão, é claro, não poderiam ficar de fora deste radar.
Acredito que o risco iminente da perda seja o real motor deste fenômeno. O primeiro sinal de alerta foi acionado ainda antes da pandemia estourar, com grandes oscilações da bolsa de valores e uma queda brusca da Selic. De um lado a volatilidade da renda variável, do outro a desvalorização da renda fixa. Como se não bastasse o medo de perder seus investimentos e de fracassar em seus negócios, o consumidor classe “A” também foi atropelado pelas restrições da pandemia, pelo medo de se contaminar e consequentemente de adoecer. Um contexto imprevisível que influenciou fortemente nas decisões que este tipo de consumidor tomou dali em diante.
O investimento em imóveis foi uma alternativa para resolver boa parte dos problemas. Primeiro por ser uma opção de investimento muito bem quista em momentos de crise, afinal, por maior que seja a crise econômica, a probabilidade de um imóvel desvalorizar tanto, em tão pouco tempo, é quase inexistente. Segundo, pelo poder de compra que aumentou devido à queda nas taxas de juros. Com a mesma renda de antes, hoje é possível tomar um crédito muito maior para realizar os próprios sonhos.
Além de proteger seu patrimônio, o consumidor de alto padrão encontrou na aquisição de imóveis uma grande oportunidade para investir na própria qualidade de vida. Depois da pandemia, fazemos muito mais a partir de casa. Antes o lazer acontecia fora de casa, o trabalho era fora de casa, a maior parte do tempo era consumido fora de casa. Hoje vivemos uma nova realidade, onde a casa voltou a ser o centro de toda a nossa vida. Mais do que abrigo, uma casa hoje é sinônimo de refúgio, onde tudo acontece com mais tranquilidade e segurança. As crianças precisam de um espaço maior e mais bem equipado que comporte o ensino remoto e os momentos de diversão tanto quanto os pais precisam de um espaço exclusivo para home office que não seja o quarto da bagunça. Por isso, a busca por casas aumentou tanto, assim como a procura por imóveis em condomínios fechados e coberturas em bairros nobres, capazes de oferecer ampla estrutura de lazer e convivência. Mais do que se preocupar com a vida urbana, o consumidor de alto padrão também está investindo em casas de campo, imóveis na serra e no litoral como uma alternativa à impossibilidade de viajar com mais frequência para lugares turísticos.
Outro indicativo desta forte tendência é o perfil dos imóveis lançados nos últimos meses. A crise provocada pela pandemia segurou o lançamento de muitos empreendimentos, exceto os de alto padrão. Aqui em Passo Fundo temos ótimos exemplos de empreendimentos premium lançados durante a pandemia que já são sucesso de vendas e, mais do que isso, tiveram suas unidades de maior valor, como coberturas, por exemplo, adquiridas logo nos primeiros dias de lançamento.
No final das contas, vejo esse comportamento como algo bem maior que uma mera reação aos efeitos da pandemia. A relação com a nossa casa não é temporária. Ela mudou de verdade e ainda deve impactar muito não só o mercado imobiliário como todos aqueles que puderem oferecer maior conforto e qualidade de vida às pessoas.