OPINIÃO

Tributo a José Ernani de Almeida

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A notícia da morte do Professor JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA logo no início da manhã de ontem (08/07/2021), apesar do sol que brilhava radiante no céu de Passo Fundo, deixou o dia turvo para familiares, amigos, ex-alunos e todos aqueles que, um dia, puderam privar da companhia do ilustre mestre.

A Academia Passo-Fundense de Letras está de luto pela perda de um de seus membros. Em nome do sodalício das letras locais, trazemos a público esse tributo de reconhecimento e respeito à vida, ao trabalho, à luta por justiça social e à produção cultural deixada pelo acadêmico JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA.

JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA era natural de Passo Fundo. Nasceu no dia 29 de dezembro de 1947 e, não por acaso, morreu, no dia 8 de julho de 2021, na mesma cidade de Passo Fundo, que sempre viveu. Estudou na Escola Eulina Braga, no Colégio Nossa Senhora da Conceição e na Universidade de Passo Fundo (UPF). Pela UPF, era formado em Direito (1971), Artes Plásticas (1974), História (1998) e Mestrado em História Regional (2005).

Iniciou a trabalhar nas rádios locais em 1966, desempenhando funções que foram desde operador de som, rádio-escuta, locutor, diretor de programação até gerente. Teve passagens pelas rádios Passo Fundo, Planalto e Diário da Manhã.

Ingressou no magistério estadual em 1972 (Escola Estadual Bandeirantes, em Sertão) e, a partir de 1974, se consagraria como professor dos chamados cursinhos pré-vestibulares locais, iniciando no Gama e, pela fatalidade da morte, encerrando a carreira como professor de História no Pré-vestibular MediSchool (deu a última aula há um mês). Além de escolas como Rainha da Paz (Lagoa Vermelha), São José (Erechim) e Colégio Notre Dame (Passo Fundo), atuou também no ensino superior em instituições como Faculdades Planalto (Faplan) e João Paulo II.

Articulista de opinião nos jornais locais e autor do livro “Denuncismo e censura nos meios de comunicação de Passo Fundo – 1964/1978”. Teve artigos publicados nos livros “Tarso de Castro” (2010), “Passo Fundo, sua História” (2008), “Fazendo História Regional – Política e Cultura” (2010) e “Os 15 dias que abalaram Passo Fundo” (2011) e textos de opinião diversos nas redes sociais. Foi secretário de Desporto e Cultura de Passo Fundo e, em 2012, ingressou na Academia Passo-Fundense de Letras.

A vida de JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA foi dedicada à Educação e à Cultura e a combater as injustiças sociais. Hoje “descansou” da luta contra um câncer, contra o qual se digladiava a mais de dois anos, porém um professor de escol como JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA nunca morre, pois a sua memória continua bem viva nos exemplos que deixou para a geração de alunos que ajudou a formar, nos familiares e na multidão de amigos que construiu.

JOSÉ ERNANI DE ALMEIDA era apaixonado pela Música Popular Brasileira. Frequentador assíduo de espetáculos em Porto Alegre, quando da vinda de artistas do centro do País. Lembro-me dele ter comentado que, depois de um espetáculo, Caetano Veloso o recebeu no camarim e chamou os filhos para conhecerem o professor que era da mesma cidade e tinha sido amigo do Tarso de Castro. É por coisas como essa, que eu imagino que ele, muito provavelmente, não deixou de sentir empatia por Angenor de Oliveira, o monumental poeta Cartola, que quando se descobriu à iminência da morte, compôs aqueles que são os mais emblemáticos versos da música popular brasileira. Refiro-me ao samba “Autonomia” e em particular aos versos: “Ai! Se eu tivesse autonomia./ Se eu pudesse gritaria, amor./ Se eu pudesse brigaria, amor./ Não vou, não quero”.

É pena Professor Ernani, que em relação à morte não tenhamos a autonomia que Cartola imortalizou em versos. A mesma autonomia que sua voz sempre se levantou para reivindicar quando estavam em jogo as liberdades individuais e a injustiça social. A luta pela qual o senhor nem sempre foi compreendido.

Posso imaginar o seu sorriso irônico ao vivenciar essa experiência nova que é a morte. Especialmente ao descobrir quantas invenções a nossa ignorância nesse terreno tem permitido.

Requiescat in pace, Prof. José Ernani!

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