OPINIÃO

Conjuntura Internacional

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

A geopolítica mundial foi surpreendida com a retirada abrupta das tropas americanas do Afeganistão e a consequente tomada de poder pelo talibã, a partir de Cabul. A decisão do presidente americano, unilateral e imprudente, ocasionou um grande risco geopolítico, carregado pelo simbolismo de uma guerra perdida contra o terror. O desengajamento militar tal como vimos já era padrão nos governos de Obama (onde Biden tinha grande influência na política externa, como seu vice). Situações parecidas como a do Afeganistão ocorreram na retirada das tropas do Iraque, com o crescimento do Estado Islâmico e com o caos que se estabeleceu após a intervenção na Líbia. O talibã continua o mesmo grupo terrorista e radical, em que pese a encenação midiática de um “novo grupo moderado”. 

 

O reconhecimento internacional 

A tomada do poder pelo grupo terrorista foi seguida pelo primeiro reconhecimento de uma potência estrangeira, nesse caso, a China. O Partido Comunista Chinês pretende ter relações amistosas com o talibã. O interesse chinês no Afeganistão é considerável. O país é uma ponte entre a Ásia e a Europa e é corredor essencial para o projeto de expansão global de Pequim (Cinturão e Rota). O interesse se dá pelas terras raras e pela infraestrutura que pode ser desenvolvida no país. Com o vácuo deixado pelos EUA, a China poderá tomar papel central no Afeganistão e não será estranho se o Partido Comunista Chinês passar a ser o principal financiador do talibã.

 

Desdobramentos 

As próximas semanas abrirão uma crise de refugiados (como apontam as imagens de satélites). Há no Afeganistão um número considerável de pessoas que serviam países estrangeiros e missões diplomáticas, que serão perseguidos pelo talibã. Outra questão que será perceptível é a forma de se manter o país. O talibã tomou o poder, mas precisará administrar um país, com moeda enfraquecida e situação extremamente delicada. Há, portanto, uma enorme diferença entre tomar o poder e dirigir um país. A dor de cabeça ocidental com o Afeganistão e a emergência do terror também se somará à questão iraniana e ao seu projeto nuclear, com as manifestações recentes do novo líder do país (Raisi), bem como do Aiatolá – condenando os EUA e o Ocidente.

 

Cenários 

O que importa agora, além dos desdobramentos de curto prazo, são os cenários que poderão evoluir no Afeganistão, onde podemos dividir em três situações: 1) China e Rússia ganham influência. O Afeganistão está situado em área geopolítica de grande interesse, imerso no espaço euroasiático. Nesse cenário, a China tem potencial para ser o maior financiador do talibã. A Rússia jogaria o jogo conforme a China e os dois países teriam controle absoluto ou relativo da região. 2) A região se estabilizaria por si própria, sem o controle ou influência da China e da Rússia, pela união com os países da Ásia Central. 3) O radicalismo tomará conta da região, unindo-se ao projeto do Irã e as células de terror se espalhariam, inclusive desestabilizando a fronteira com a China e incentivando o separatismo nos Uigures (muçulmanos na China). 


  

Gostou? Compartilhe