De olho na Legalidade
Há 60 anos, acompanhei aquele que seria o mais importante movimento em defesa da lei e das instituições: a Legalidade. Do topo de onde conseguia enxergar aos meus cinco aninhos, vislumbrei um clima inusitado. Os nomes Jânio e Jango, praticamente um parônimo, confundiam meus neurônios em plena neurogênese. Então aprendi que saia o presidente e assumiria o vice-presidente, obviedade fundamental na formação de um jovem cidadão. Já era um tagarela incorrigível que, para deleite dos vizinhos, respondia que Jango saia e entrava o Jango. Isso quando não invertia os nomes. O importante era a manutenção da normalidade, ensinamento que sempre esteve ao meu lado. As pessoas não falavam em siglas partidárias. Todos falavam apenas em legalidade. Ao lado de uma eletrola Standard Electric, o meu pai acompanhava a Cadeia da Legalidade liderada pelo governador Leonel Brizola.
Era muito discurso para uma criança e, então, eu ligava outro rádio e tentava escutar algo diferente. O máximo que conseguia era ouvir uma única música: o Hino da Legalidade. Bem melhor do que palavras inflamadas, aquela marchinha conquistou a minha simpatia. Cantarolando a sua primeira estrofe, acompanhei os meus pais até à Viação Férrea para recepcionar as forças legalistas. Seguindo para o centro do País, os soldados eram aclamados por onde passavam, ganhavam sanduíche, pastel, galinha enfarofada, doces e cigarros. Porém, a saliva gasta por Brizola na Rede da Legalidade dispensou o uso da pólvora e evitou um golpe. Agora, o meu temor é em relação às redes da ilegalidade que estão na palma das mãos, subvertendo a ordem e as leis, e que podem provocar um golpe. Sessenta anos depois, espero que a Legalidade sirva de exemplo para salvaguardar as instituições.
Aeroclube
O fechamento do aeroporto deu maior visibilidade ao Aeroclube de Passo Fundo, que passou a abrigar a aviação executiva de pequeno porte baseada no Lauro Kortz. Mas, quando chegou a primeira remessa da vacina para Covid-19, ficou escancarada a necessidade de asfaltar a pista principal do Aeroclube. Apesar da boa extensão e excelente largura, o avião que trouxe as doses não pode pousar numa pista de saibro e grama. A alternativa foi pousar em Carazinho. Ora, por que não é asfaltada a pista do Aeroclube? Lembrando que, mesmo depois das obras, a neblina continuará provocando fechamentos do Aeroporto. Com altitude inferior de mais de 100 metros, o Aeroclube sofre bem menos com a neblina. Assim, é a melhor alternativa para a aviação executiva e aviões-ambulância. Mas sem asfalto os jatinhos e aviões de porte médio não poderão operar. Até quando?
Censura
Na semana passada, uma rede de televisão do Rio Grande do Sul sofreu censura prévia. Inadmissível, pois qualquer tipo de censura faz mal. Inclusive o patrulhamento ideológico. Antes de censurar, bem que poderiam criminalizar e punir o repasse de fake news pelas redes sociais. Até porque, como bem sabemos, toda censura é burra!
Batatas
Depois de uma reforma incrementadora, na próxima sexta-feira reabre o mítico Batatas. O bar, que conta com o Menor Palco do Mundo©, agora terá dois banheiros, acabando com as filas e aliviando a fissura. A ampliação não foi difícil, pois qualquer centímetro a mais é relevante no microscópico bar. Mas, de acordo com as mais confiáveis fontes, não foi pouca coisa e o nosso Batatinhas ganhou nova cozinha e muitas torneiras de chope! Como incorporei a pandemia, a festa do meu retorno fica para mais tarde. Underberg ou underground? Pouco importa. Como diz o Zé Tendeu: “vai ser de voar caco”!
Reflexão
Quem deseja o caos? A quem interessa o caos?
Trilha Sonora
Charlie Watts/The Rolling Stones - Paint It Black