O extremismo dos ridículos
O humano é o bicho mais complexo deste planeta. Se a racionalidade não agregasse a idiotice e outros defeitos, seria o ser mais inteligente da Terra. Mas, pela força dos atributos negativos é, de fato, o mais ridículo. Observem como são tortuosos os caminhos dos terráqueos, não importa se traçados em tempos de planeta redondo ou plano. Ah, os percursos da humanidade serão sempre inesperados porque somos imprevisíveis. Na maioria das situações, as guinadas de rumo foram provocadas por ambições, radicalismos ou barbáries. As ambições transformam-se em ganância pelo poder, atraem oportunistas, recalcados, opressores e outros mal resolvidos. É um caldeirão com elementos suficientes para produzir atrocidades. Sim, porque na prática os humanos não são tão humanos assim quando estão no poder.
As ambições e os interesses levam aos radicalismos. São extremos doentios que não acatam a flexibilidade ou gestos de conciliação. Assim, temos duas pontas que pensam e agem radicalmente dentro de irredutíveis condutas. Isso representa um perigo nos caminhos que podem ser traçados logo ali. Gesto por gesto, palavra por palavra e estamos desenhando o nosso percurso. Então, diante do radicalismo que assola o país, é fundamental compreender que ninguém é proprietário absoluto da verdade. E, de forma prática, parem de tentar impor os seus pensamentos, pois respeitar posições adversas é o primeiro gesto de civilidade política. Estamos no momento oportuno para não sermos ridículos, fazendo prevalecer a nossa racionalidade. Somente desta forma poderemos traçar bons caminhos, sem extremismos inflexíveis para não respingar sangue nas páginas da nossa história.
Villarroel
E a pandemia levou mais um amigo. Na semana passada nos despedimos de Alberto Villarroel Torrico. Médico fisiatra e reumatologista, ele atuou por décadas em seu consultório e no Hospital São Vicente. Villarroel, ou simplesmente Villa, foi um dos primeiros amigos que fiz em Passo Fundo, através do amigo comum Jorginho Figueiredo Ramos. Lá pelo final dos anos 1970, quando a vida acadêmica ainda pulsava pelas imediações da Praça Tamandaré, Villa era professor da Faculdade de Medicina da UPF. Época em que a turma atravessava a Teixeira Soares fazendo o triângulo com vértices no Hospital, Faculdade e Lancheria Fittipaldi. Carismático, Villa gravitava nesse espaço com seu constante e irônico bom-humor. Estudantes ou médicos, a maioria morava pertinho, éramos amigos e quase todos se conheciam. Havia as repúblicas e os chateaus, onde rolavam lautos jantares de arroz com galinha e chateauneuf du garrafòn. Em lindas companhias, é claro. Villa era o responsável pela sofisticada salada de tomate com cebola, que chamava de ‘ensalada de soltero’. Maravilhosos tempos de divertida convivência com um grande parceiro. Como é triste essa pandemia que provoca tanta tristeza com suas tristes notícias.
Cartinha em dois tempos
No imbróglio entre ficção e realidade, sabe-se lá o porquê, me vieram à mente algumas cenas do filme Central do Brasil. A personagem principal, interpretada por Fernanda Montenegro, ganhava um dinheirinho escrevendo cartas para analfabetos numa estação de trens urbanos. Se adaptássemos o enredo para os dias atuais, o manuscrito seria substituído por e-mails ou mensagens eletrônicas. Mudam épocas e tecnologias, mas permanece a importância da função de um bom escriba.
À minha Independência
De olho na diminuição da contaminação, já estou planejando o meu retorno ao lar. Ou melhor, à Rua Independência. O roteiro e o cardápio já estão definidos. Obviamente, os trabalhos serão abertos no Boka saboreando um Maracanã com chope da Brahma. Depois tem rock na veia no Batatas. Porém, como continuo em ritmo pandêmico, ainda falta definir a data. Quem sabe num domingo? No próximo ou no outro? Sei lá. Mas vai ser grande!
Trilha Sonora
Uma homenagem à Virna Lisi. O inconfundível sax de Stan Getz e a voz de Helen Merrill - If You Go Away