Já faz algumas semanas que a alta da Selic, como alternativa para conter a inflação, vem dando o que falar no mercado imobiliário. O último aumento elevou a taxa básica de juros para 6,25%, um patamar muito diferente dos 2% no qual ficou estagnada por sete meses. Justamente por se tratar de um índice com fortes influências na tomada de crédito, essa mudança tem mexido com o mercado imobiliário que vive seu melhor momento nos últimos anos.
A discussão toda diz respeito às taxas de juros dos financiamentos que despencaram com a queda da Selic no ano passado e agora, teoricamente, também podem fazer o caminho inverso aumentando no mesmo ritmo. Na prática, porém, vemos que essa fórmula “Selic x Taxas de Juros” não é tão simples quanto parece. Apesar de toda a sua influência, a Selic não é fator determinante para melhorar ou piorar o desempenho do mercado imobiliário. Se fosse, não estaríamos acompanhando a redução de taxas em algumas linhas de crédito, assim como a Caixa já anunciou recentemente, ao mesmo tempo em que a Selic só aumenta.
O mercado imobiliário está intimamente ligado ao papel da construção civil, que sempre foi um grande impulsionador econômico para o país. Portanto, segurar as taxas de juros mesmo com o aumento da Selic se mostra uma boa estratégia para continuar investindo na manutenção de emprego e renda, fazendo a roda da economia girar. Do mesmo modo que é importante para a economia brasileira, o mercado imobiliário depende fortemente dos financiamentos para a comercialização de imóveis, especialmente através de linhas que utilizam recursos da poupança (SBPE). De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o montante financiado mais que dobrou nos primeiros oito meses deste ano. Foram R$ 136,84 bilhões destinados a financiamentos imobiliários até o mês de agosto, o que representa uma alta de 107,7% em relação ao mesmo período de 2020. O volume de unidades financiadas também aumentou. Foram 589 mil imóveis financiados até agosto, um crescimento de 148% se comparado ao ano passado.
Mesmo com as correções já anunciadas, o segmento imobiliário ainda está longe de sair prejudicado nessa história. A demanda por imóveis que sempre foi grande, aumentou ainda mais após a pandemia. Quem não tinha a aquisição em seus planos passou a ver o bem imóvel como um porto-seguro em meio ao caos. Ter um imóvel para chamar de seu durante um período de tanta instabilidade fez a diferença para muitas famílias e potencializou a busca por moradia ou investimento. Sem falar na escassez de novos empreendimentos, com lançamentos ainda bastante represados. Com a falta de novidades, os chamados imóveis avulsos estão sendo facilmente liquidados, muitos, é claro, adquiridos através dos financiamentos imobiliários.
Então mesmo que a Selic fosse a única responsável pela variação das taxas de juros, não acredito que seria motivo suficiente para reduzir a procura por imóveis. As previsões do Copom para o próximo ano ainda não chegam a dois dígitos, o que parece bastante positivo se considerarmos seu histórico mais recente. O aumento da Selic já era esperado e hoje ela se encontra num patamar muito conhecido pelo mercado imobiliário. Por isso, não cabe reduzir o futuro do segmento a um só indicador. Vivemos um período muito rico de oportunidades que devem ser aproveitadas tanto por quem vende, quanto para quem compra.