Não fosse a tomada de posição da ciência médica, instituições e entes de nossa política nacional, estaríamos vivendo plena hecatombe de pandemia. As teses negacionistas, a exemplo da imunização de rebanho e pertinaz aposta oficial do presidente Bolsonaro em remédios sem efetividade contra o devastador Coronavírus sinalizavam rumo a desastre incalculável. Assim mesmo vemos hoje estatística de mais de 600 mil mortos e milhões de brasileiros afetados pelas sequelas da pandemia. Todos haviam entendido que o acesso à vacina, ainda desconhecida no seu efeito salvador, num esforço dramático da ciência farmacêutica mundial, seria a tábua de salvação. O drama dos órfãos que se acumulavam e a onda vertiginosa dos funerais encontrava um comando nacional inerte, inclusive apregoando covardia do povo diante do inevitável medo da morte. Seria enfadonho repetir que o próprio presidente falava aos adeptos adestrados em tom de zombaria, afirmando que o mal seria apenas uma gripezinha e tantas coisas abomináveis contrariando o dever constitucional de honestidade na orientação social. Os médicos especializados aflitos, alguns afetados e que vieram a morrer pela ação do vírus faziam alertas sobre o perigo. Enquanto o presidente ocupava o tempo devido ao serviço do povo para comandar recomendações ardilosas aos piquetes de fanáticos, retardavam-se as providências. Muito danoso este uso do poder pelo caminho tortuoso negacionismo. A ausência de compaixão em relação ao povo brasileiro acendeu sinais de alerta. O poder Legislativo, por mais que seja emaranhado de interesses escusos, finalmente se ergueu em atitude de defesa da saúde. Foi a instalação da CPI do Senado, destinada à apuração de responsabilidades pelas omissões e má política de atenção aos pagadores de impostos. A comissão fez apenas o que é dever inadiável, para corrigir o descalabro já instalado. De qualquer forma, com imperfeições ditadas por interesses de menor importância, o trabalho foi iniciado. É de reconhecer que o trabalho da imprensa responsável ouviu a voz do senado, mesmo diante de falsos barões que se escalaram como sabujos delirantes a contrariar a oportunidade da CPI. Repetimos, a CPI não foi um cenário de pura isenção, mas funcionou a todo vapor, democraticamente, com membros adeptos governistas tentando minimizar os efeitos da investigação.
Tão logo vieram à tona os primeiros indícios de erros e maldades políticas contra a aquisição da vacina, os senadores assumiram o dever de elucidar o quanto possível erros e corrupção. Foram longos meses de intensos trabalhos enfrentando protecionismo de esquemas escusos e urdidos no famigerado gabinete do ódio, que articulavam a negligência oficial e de apaniguados do poder no tratamento da pandemia. Assim a CPI serviu para abrir os olhos dos ocupantes do poder. A transparência das oitivas de informantes, investigados ou testemunhas, alertou para graves omissões do governo que se viu compelido a investir na compra de vacinas. Independentemente de outras consequências, as discussões da CPI atropelaram positivamente os burros empacados da burocracia a serviço do negacionismo. Enquanto pouco se sabe sobre manobras, escusas ou interesseiras, na estranha troca de ministros da Saúde, a falta de oxigênio, desvio de verbas da saúde e obscuro esquema de medicamentos ineficazes, por certo a Comissão Parlamentar espantou abutres nestes momentos tão trágicos para nossa saúde.
Vacina sim
Embora a manobra torpe dos que pregam contra a vacina contra covid, a multidão de vacinados testemunha o verdadeiro caminho para vencer a pandemia, com as cautelas recomendadas e que não devem ser afrouxadas, mesmo com a volta de inúmeras atividades.
Armas
A manifestação do arcebispo Orlando Brames foi clara em relação à campanha alucinada pela liberação de armas. “Pátria amada e não pátria armada”.
Execução
A condenação dos militares que mataram o pastor e músico Evaldo dos Santos é alerta para ações desgovernadas. Fuzilaram o pastor e o catador de latas. Armados e despreparados os militares demonstraram incapacidade. Preparados, talvez, para uma guerra e não para proteger nobres cidadãos negros.